Tudo parecia dar certo quando a advogada Sabrina*, 28, conheceu Thiago*, num grupo do Facebook, em 2016. Os dois conversaram, descobriram que tinham uma infinidade de coisas em comum e começaram a se dar bem. No primeiro encontro, a timidez tomou conta e os dois não se beijaram, mas, no segundo, um piquenique em um parque, eles ficaram mais próximos e, enfim, o beijo aconteceu. “Foi péssimo, porque eu estava naquela expectativa, e ele beijava supermal. Não sei se era porque ele nunca tinha beijado outra garota antes ou se era porque ele era muito afobado – o que eu acho que realmente aconteceu, mas simplesmente não encaixou, e passei o restante do date inventando motivos para ficar só conversando e não ter que beijá-lo de novo”, conta. A falta de “qualidade” do beijo foi também o que motivou a advogada a não se encontrar mais com o rapaz – e, ainda no mesmo dia, a rejeitar o pedido de namoro que aconteceu ao final do encontro.
Mas afinal, o que seria um beijo bom de verdade? Uma pesquisa desenvolvida pelo aplicativo de relacionamento Happn tentou descobrir a resposta. Conforme os dados, colhidos por meio de entrevistas com mais de mil brasileiros, 81% das pessoas afirmaram que a química e a conexão emocional são fundamentais para que um beijo seja perfeito. Já 10% dos entrevistados apontaram que a habilidade técnica é mais importante, e outros 8% acham que o ambiente é o que vale mais para despertar o melhor do momento.
Entrevistada pela reportagem de O TEMPO, a atendente de telemarketing Lara Emanuele, 21, está com a maioria dos entrevistados. Segundo ela, um bom beijo precisa ter conexão. “Tem que ser uma coisa recíproca, porque não adianta beijar por beijar, aquela coisa do calor do momento”, descreve. Ela ainda pontua que o beijo é um fator essencial para relacionamentos, já que demonstra o afeto e o carinho do casal.
Para a sexóloga Enylda Motta, um beijo bom também leva em consideração a individualidade e subjetividade de cada um e a forma como cada parceiro sente prazer. “O importante é vivenciar o beijo, não ficar pensando se beija bem, se o outro está gostando”, aconselha. Ela ainda acrescenta que é fundamental estar “inteiro” no momento e aproveitá-lo.
Mas, em termos gerais, aquilo que acreditamos ser ou não um bom beijo pode estar relacionado a outros aspectos. É isso o que pontua a psicóloga e sexóloga Bruna Belo, que ressalta que a compreensão sobre a qualidade do beijo também varia de acordo com questões culturais e com o contexto em que cada pessoa está inserida. “O que aprendi que constitui um beijo bom, sendo brasileira, nascida em Belo Horizonte, pode ser diferente do que os asiáticos aprenderam, por exemplo”, afirma.
Assim como a pesquisa apontou, a psicóloga também destaca a importância da conexão entre as pessoas que se beijam e, mais do que isso, a necessidade de que, antes de tudo, haja vontade e prazer para que um beijo seja bom. “Mesmo que exista uma técnica, se não tem vontade, não funciona, porque não vai haver conexão e envolvimento. E o beijo envolve isso, essa coisa da sintonia, do afeto, tem um contato da pele, de odores e sabores”, diz.
A psicóloga ainda acrescenta que a conexão é válida também para aprimorar o beijo, já que é a partir dela que é possível haver um diálogo para que as pessoas entendam e expressem suas preferências. “Quando você quer um beijo mais lento ou mais rápido, com mais ou menos língua, você vai guiando. Por isso, a conexão e o envolvimento são importantes, porque você consegue se comunicar, tendo essa abertura, mesmo que de uma forma não verbal”.
Beijo tem diferentes significados
Na própria construção das relações, o beijo também tem um impacto fundamental. Segundo um artigo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, em 2013, o beijo tem a função de avaliar o nível de atração pelo parceiro – o que é válido principalmente para as mulheres. Conforme o estudo, o primeiro beijo tem mais probabilidade de afetar a atração por um parceiro em potencial para mulheres do que para homens. Em outras palavras, um beijo considerado bom pode fazer com que as mulheres se sintam mais atraídas pela outra pessoa. E, como no caso de Sabrina*, um beijo ruim pode fazer com que a atração deixe de existir.
Dentro dos relacionamentos, os beijos ainda têm outras finalidades. Uma delas, inclusive, é a de apimentar a relação entre os casais. “Um beijo bem-dado e bem-recebido arrepia, esquenta, aproxima, apaixona e fortalece os laços”, destaca Enylda Motta.
Além disso, os beijos – ou a falta deles – podem ser indicativos de que algo precisa ser mudado, fazendo com que beijar mais ou menos funcione como uma espécie de termômetro de uma relação. Essa descoberta foi feita por uma pesquisa publicada na revista científica “Archives of Sexual Behavior”. Feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, o estudo ouviu 900 pessoas e apontou que aqueles que relataram beijar os parceiros com mais frequência também eram os que se mostravam mais satisfeitos com os relacionamentos.
“Quando os casais estão se beijando menos, esse engajamento erótico vai ficando um pouco menor também. Então é importante beijar mais, beijar da forma que gosta. Testar não só beijar quando vai ter um envolvimento sexual, até porque, se o casal não está se beijando, como vai chegar a ter esse desejo?”, observa Bruna Belo. Ela pontua ainda que, quando há o processo inverso, e o casal se beija mais, se envolve e se preocupa mais com esse lado, ele também vai ter mais prazer e mais bem-estar. “E aumenta também a conexão e a intimidade entre os dois, podendo resgatar alguma memória erótica que tenha se perdido”.
O beijo ainda pode representar diferentes coisas para as pessoas – e, inclusive, para gerações distintas. Um levantamento encomendado pela marca Quem Disse, Berenice?, no ano passado, mostrou que, para 68% dos entrevistados da geração Z, composta de jovens com idades de 16 a 24 anos, o beijo é, antes de tudo, um gesto de afeto e carinho. Para 66%, beijar também é um tipo de conexão.
Já para os millennials, de 25 a 40 anos, e para a geração X, de 41 a 50 anos, os beijos representam, além do afeto e da conexão, a ideia de desejo (48% e 53%, respectivamente) e sedução (31% e 32%, respectivamente).
*Nome fictício a pedido da entrevistada