Na última semana, a declaração do ator e cantor Nicolas Prattes de que faz sexo com sua namorada, a apresentadora e modelo Sabrina Sato, 50 vezes por semana, numa média superior a sete vezes por dia, viralizou nas redes sociais, despertando reações controversas, debates acalorados e comentários divertidos.

Posteriormente, Sabrina relativizou a declaração, afirmando que o namorado participava de um programa de humor quando expôs a intimidade do casal, e completou contextualizando: “Isso foi porque a gente tinha acabado de voltar de uma viagem e estávamos no início do namoro. Quando a gente está junto, tem que aproveitar! Às vezes, a gente fica uma semana sem se ver”, disse Sabrina.

Nicolas é protagonista da próxima novela das nove da Rede Globo, “Mania de Você”, enquanto Sabrina ganhou um quadro no “Fantástico”. Para a sexóloga Allys Terayama, é preciso entender que a quantidade de relações sexuais não é garantia de qualidade “nem rotula ninguém como bom ou ruim de cama”. Ela afirma que existe uma linha tênue entre o sexo masturbatório, aquele voltado para a quantidade desenfreada, e o prazeroso, voltado para a satisfação.

“Não medimos a performance sexual pela quantidade, e sim pela qualidade do sexo. Então, uma pessoa que transa 50 vezes na semana não tem um sexo necessariamente melhor do que alguém que transa três vezes e está feliz e realizado do mesmo jeito”, assegura a especialista. 

Exposição da intimidade

Uma das orientações que ela costuma dar para seus pacientes é a de “não discutir a intimidade em uma mesa de bar”. “Ninguém tem o direito de expor, de julgar a conduta de outra pessoa. Falar sobre a frequência sexual está mais para quem quer ganhar ibope perante uma supervalorização do ego. Autoafirmar-se em relação ao sexo, para quem fala, é um troféu, mas, para quem escuta, pode ser um problema, porque pode levar a pessoa a acreditar que está fora de uma suposta média”, pondera Allys.

Um dos pontos fundamentais, nesse sentido, é “compreender que a sexualidade de cada indivíduo é única e não deve seguir padrões”. “Temos que parar com essa ideia de que só gente sarada, com corpo e cabelos perfeitos e vida instagramável é que transa. Não se pode colocar um filtro como o das redes sociais no sexo. Você tem que ser 100% você na cama, com o corpo que você tem, as perfeições e imperfeições que só você vê, mas que passam despercebidos aos olhos dos parceiros”, afiança Allys, para quem é preciso saber diferenciar “a relação sexual prazerosa, com entrega”, da hipersexualidade, que já denotaria “um distúrbio”.

“Embora o comportamento sexual seja uma parte normal e saudável da vida, a hipersexualidade pode se tornar problemática quando causa sofrimento significativo a um indivíduo ou o coloca em risco de ferir a si mesmo e a outras pessoas”, avalia Allys.

Prazer

De acordo com a sexóloga, não existe uma frequência ideal de relações sexuais, mas “fatores culturais, sociais e associados à faixa etária, à experiência e até mesmo às relações hétero ou homoafetivas que interferem” nessa equação, e a pressão advinda do meio ou de uma dessas condições descritas pode levar o indivíduo a desenvolver o que pode ser chamado de “gatilhos de hipersexualidade”.

“Uma pessoa que se diz totalmente ativa sexualmente e cria expectativas de perfeição, não aceitando menos do que um número determinado de relações sexuais, pode se ver vítima de uma disputa interna, que vai priorizar a quantidade, e não a qualidade da relação sexual”, afirma a sexóloga.

Nesse caso, seria comum a pessoa desenvolver um quadro de insaciabilidade sexual, buscando relações sexuais com inúmeros parceiros, além de se dedicar à prática do prazer próprio por meio da masturbação. O essencial seria descobrir “se os parceiros e parceiras estão confortáveis com isso”, sustenta Allys.

“Tenho pacientes que me procuram com a queixa de que transam apenas para agradar ao outro e que, na maioria das vezes, fingem dormir ou levam os filhos pequenos para a cama no intuito de fugir das investidas sexuais excessivas”, compartilha a especialista. Ela deixa claro que não se deve “transar apenas para satisfazer ao outro, mas, também, satisfazer-se”.

Satisfação

Num mundo conectado por redes sociais em que todo mundo sabe da vida de todo mundo, talvez até mais do que na época em que as pessoas dividiam impressões sobre os vizinhos – o que não é lá nenhuma novidade –, Allys alerta para um ditado conhecido: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. “E se o que eu digo não é o que eu faço, eis a questão!”, deduz a sexóloga.

Ou seja, ao se gabar de um número exorbitante de relações sexuais, é preciso ter em mente que o suposto garanhão – afinal de contas, vivemos em uma sociedade machista e patriarcal – pode não estar, necessariamente, expondo a verdade integral dos fatos. “Quando você deixa de dar satisfação da sua vida sexual para os outros, você para de se cobrar e passa, realmente, a viver uma entrega verdadeira com o outro e consigo mesmo”, afirma Allys.

Mudança de consciência deve vir da sociedade

Há um episódio do seriado “Friends” em que a personagem Monica, vivida por Courtney Cox, decide competir com Phoebe, interpretada por Lisa Kudrow, qual casal é mais apaixonado, o que a leva a exigir relações sexuais mais picantes e em maior número de seu parceiro, Chandler, papel que consagrou o ator Matthew Perry (1969-2023). Embora o esquete cômico aconteça em Nova York, nos Estados Unidos, tal identificação parece universal.

A sexóloga Allys Terayama acredita que a primeira mudança a ser feita na sociedade “é ter consciência de que sexo é vida e energia, na forma de complemento das relações”. “É, também, o limite que imponho ao meu corpo para essa entrega, e é autoestima”, sublinha a especialista. 

Allys retoma um ensinamento fundamental nesse sentido, o de que não se pode medir com régua relações que não são matemáticas, mas humanas, compreendendo que, quando se trata desse tipo de encontro, impera a subjetividade, e não a objetividade numérica fácil de ser assimilável, porém sem a devida profundidade.

“Cada relação tem um contexto diferente de intimidade, e, quando o casal encontra essa ‘química’, não vai ser a quantidade que vai dizer que eles são melhores do que os outros”, finaliza Allys.