Um vídeo que mostra crianças e adolescentes, com idades entre 9 e 16 anos, exibindo os músculos viralizou nas redes sociais. Algo que chama a atenção dos internautas – além do tamanho dos bíceps dos jovens – é o quanto eles aparentam ser mais velhos. Entre os comentários da publicação, há muitos que sugerem que os garotos usam anabolizantes para alcançar os resultados mostrados nas imagens. Na televisão, o uso de esteroides por adolescentes também tem sido retratado. Na novela “Volta por Cima”, trama das sete da Globo, Nando (João Gabriel D’Aleluia) começa a fazer uso das substâncias depois de conhecer a personal trainer Miranda (Gabi Dias) e, embora encontre resultados, também lida com os efeitos colaterais do uso do chamado “suco” ou “bomba”.

Especialista em medicina do esporte, Rômulo Gonçalves explica que o consumo dos esteroides por adolescentes pode ter vários impactos na saúde. “Os anabolizantes podem interferir no desenvolvimento hormonal natural, levando a alterações permanentes no crescimento e na puberdade. Isso pode resultar em problemas como a interrupção da maturação esquelética, causando crescimento estatural reduzido”, aponta. Ele ainda acrescenta que o uso dessas substâncias pode desencadear distúrbios psicológicos, como agressividade, depressão e ansiedade. “Também há o risco de dependência, levando a um círculo vicioso de uso”, complementa. Por fim, ele afirma que os esteroides podem causar alterações físicas. “Em adolescentes, o uso pode provocar características sexuais secundárias indesejadas, como crescimento excessivo de pelos e alterações na voz, em meninas, e ginecomastia, em meninos”. 

A longo prazo, os anabolizantes trazem riscos ainda mais graves para a saúde. Um estudo publicado na revista científica “JAMA” mostrou que o uso de Esteroides Androgênicos e Anabolizantes (EAA) aumenta em 2,8 vezes o risco de morte. A pesquisa foi feita com cerca de 60 mil homens durante 11 anos, na Dinamarca. Conforme a Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, outros efeitos dos anabolizantes incluem tremores, acne severa, retenção de líquidos, dores nas juntas, aumento da pressão sanguínea, tumores no fígado e pâncreas, alterações nos níveis de coagulação sanguínea e de colesterol e aumento da agressividade – que pode resultar em comportamentos violentos, às vezes, com consequências trágicas.

A Biblioteca ainda alerta para perigos relacionados ao uso das injeções de anabolizantes esteroides, que podem levar ao risco de infecção pelo HIV e pelos vírus da hepatite se as agulhas forem compartilhadas. 

Não existe forma segura de usar anabolizantes

Rômulo Gonçalves ressalta que, independentemente da idade, o uso indiscriminado, com doses altas de anabolizantes, envolve impactos significativos na saúde. “Em adultos, esses riscos incluem problemas hepáticos, doenças cardiovasculares e distúrbios psiquiátricos. Portanto, é fundamental que qualquer consideração em relação ao uso de anabolizantes seja acompanhada de aproximação médica adequada ou de profissionais capacitados”, afirma. O médico também destaca que não existe uma forma segura de utilizar as substâncias em adolescentes e crianças. “Esses produtos são indicados para condições médicas específicas, e seu uso deve ser sempre supervisionado por um profissional de saúde qualificado. A orientação médica é crucial para evitar complicações e para monitorar a saúde”, explica o médico.

Vale ressaltar que, desde 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proíbe a indicação de anabolizantes com finalidade estética ou ganho de performance. Propagandas dos esteroides e cursos que impulsionem a prescrição no país também são vetados.

Embora a prescrição dos anabolizantes seja proibida, é comum encontrar nas redes sociais influenciadores que assumem abertamente utilizar essas substâncias, fazendo piadas e brincando com os efeitos colaterais causados pelos esteroides. Para o médico do esporte, essas situações facilitam a banalização do uso de anabolizantes. “Muitas vezes, as pessoas compartilham experiências e resultados sem considerar os riscos e as consequências desse uso”, afirma. “A popularidade dessas substâncias leva a uma adesão indiscriminada, principalmente entre jovens que desejam atender a pressões sociais e estéticas. Isso pode culminar em um aumento da incidência do uso de anabolizantes na população juvenil, representando uma preocupação significativa para a saúde pública”, conclui.