“Ninguém em nenhum dia perguntou qual é a minha história, mas eu tentei fazer isso com todo mundo. Penso que eu sou uma pessoa ruim, porque vou atrás das pessoas, mas elas não me procuram pra nada”. Esse desabafo foi feito pela ex-atleta Daniele Hypolito em conversa com o irmão, Diego, no programa "Big Brother Brasil 25", da TV Globo. O que veio em seguida foi mais um exemplo das microagressões sofridas pela participante no reality - que incluem ser interrompida, não ser incluída em conversas, entre outras: o irmão teve uma crise de riso enquanto ela se abria, simplesmente porque ela errou o número de participantes da casa. A situação fez com que ela deixasse o desabafo de lado e chamasse Diego para se deitar. 

Em outro momento, também na casa, Daniele tentou se juntar a outros participantes enquanto eles batiam um papo. Mas, assim que se aproximou, ouviu pedidos para que ela saísse porque eles estavam conversando. Segundo a ex-atleta, o que tem passado dentro do "BBB" não é muito diferente do que vive fora do reality. “Isso que está acontecendo comigo aqui, de eu procurar as pessoas, é muitas vezes o que acontece comigo lá fora. Que eu procuro as pessoas e elas não me procuram. Diego, meu telefone não é que nem o seu. Eu procuro as pessoas, mas o meu telefone nem toca. Tem dias que eu deixo o meu telefone de lado e a única pessoa que me procura é a mãe”, disse ao irmão. 

Daniele não está sozinha em suas dificuldades de se conectar ou no fato de se sentir invisível diante de outras pessoas. Segundo a psicóloga Jaqueline Maia, esse é um sentimento muito comum, principalmente quando são levadas em consideração as próprias autoavaliações que as pessoas têm dentro de si sobre a forma como são vistas por outras pessoas. “Isso está relacionado às crenças internas de como elas se sentem amadas, capazes e o quanto são bem-quistas”, explica. Ela ainda acrescenta que outros fatores podem influenciar nessa sensação, o que inclui as habilidades de comportamento no meio social, inteligência emocional, que é a capacidade de entender as próprias emoções e as dos outros, entre outros. 

O psicólogo Cláudio Paixão, doutor em psicologia social e professor da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pontua ainda que diferenças nos próprios padrões dos grupos sociais também podem influenciar e criar dificuldades na criação de vínculos. “Às vezes, se as pessoas chegam num lugar e tem um estereótipo um pouco diferente dos outros, elas vão se sentir incomodadas, diferentes desse grupo e vão ter dificuldade de se encaixar. Outras vezes o próprio assunto não vai acomodá-las”, cita. “São obstáculos que têm a ver com a nossa formação e, é claro, com as nossas experiências traumáticas também. Às vezes eu tive muita dificuldade na minha vida para me adaptar em determinados grupos, então preciso de um empurrão inicial”, acrescenta.

O psicólogo ainda afirma que a maioria das pessoas têm dificuldade de entrar em um grupo novo e diferente, a não ser que haja um momento de abertura, que se configure num acolhimento, numa conversa, num “me conte sobre você”. Ele pondera, porém, que é preciso haver o movimento contrário, de ouvir sobre o outro e de não se ter apenas como foco central. “Se o foco sempre for a gente, o outro tende a se afastar”. 

Jaqueline Maia ainda acrescenta que a conexão social exige habilidades na linguagem verbal, não-verbal e na interpretação do ambiente. “Qualquer dificuldade que haja nessas situações, serão grandes obstáculos. Além disso, é importante que a pessoa se sinta bem em relação a si mesma. Quanto maior esse sentimento, melhor e mais tranquila ela estará entre outras pessoas, pois não ficará buscando a aprovação e mesmo diante de uma crítica, isso não ditará nada a seu respeito”, destaca. 

Buscar ajuda é importante

O psicólogo Cláudio Paixão, orienta que, ao perceber que pessoas mais próximas estão passando por uma situação como a de Daniele Hypolito, em que se sentem invisíveis e com dificuldade de se conectar, a conversa é o melhor caminho. “Para saber o quanto isso tem incomodado e aí, assim, encaminhar para uma consulta com um psicoterapeuta para uma avaliação dessa condição para que essa pessoa possa romper esse padrão”, afirma. Ele ainda acrescenta que a dificuldade de interação pode ser não apenas um problema da pessoa, mas também apontar para um problema do grupo ao qual ela busca se inserir.

Mas essa dificuldade pode ser superada. É isso o que pontua Jaqueline Maia. “O autoconhecimento é o mais importante. Conhecer a si mesmo, suas habilidades e dificuldades, qualidades e defeitos, sem julgamento, pode ajudar muito a buscar as qualidades que ainda faltam para se desenvolver. Livros, cursos, palestras, profissionais capacitados... Há uma gama de ferramentas que se pode buscar e melhorar a integração social”, sugere.