São mais de 13 milhões de pessoas afetadas pela doença no Brasil, o que a coloca entre as mais comuns de um incômodo ranking. Para conscientizar acerca de suas consequências e da necessidade de prevenção, além de propor medidas cada vez mais efetivas a seu combate, Belo Horizonte passa a comemorar em 26 de junho o Dia Municipal de Prevenção e Combate ao Diabetes.
A ideia é informar, prevenir e apoiar quem convive com o diagnóstico por meio de campanhas educativas, incentivo à mudança de hábitos e, claro, políticas públicas que garantam acesso a tratamento digno.
Em outra frente de combate à doença, a Câmara Municipal de Belo Horizonte aprovou em primeiro turno, no mês de maio, um projeto de lei que autoriza a prefeitura a fornecer aparelhos sensores de monitoramento contínuo de glicose para pacientes com diabetes tipo 1.
Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Bruna Galvão lembra que o aumento de casos de diabetes no Brasil acompanha uma tendência mundial. Segundo ela, uma das causas é o envelhecimento da população, o que leva a uma maior suscetibilidade a doenças. No entanto, o maior impacto estaria relacionado a quadros de sobrepeso e obesidade.
“Tanto o aumento da diabetes quanto da obesidade está muito relacionado a hábitos alimentares. A gente sabe que o consumo de alimentos ultraprocessados têm crescido e também o sedentarismo”, aponta Bruna.
A especialista destaca a importância de se estimular o consumo de alimentos saudáveis no controle e na prevenção da diabetes. Ela cita, como bom exemplo de política pública nesse caso, a utilização de rótulos nas embalagens que informam ao consumidor sobre o excesso de açúcar, sódio e gordura saturada em determinados alimentos. Apesar disso, Bruna afirma que “é preciso mais”.
“Para ter um impacto maior, a gente precisava de um estímulo fiscal, algum subsídio para a venda de produtos naturais como legumes, verduras, porque a gente sabe que uma das grandes vantagens dos alimentos ultraprocessados é o preço. Eles são mais acessíveis e acaba que a população mais pobre tem mais acesso a alimentos menos nutritivos”, observa.
Do mesmo modo, a endocrinologista declara que era preciso uma ação do poder público contra o sedentarismo. “Temos algumas prefeituras em que as unidades básicas de saúde oferecem exercícios físicos para a população. Mas, infelizmente, muitas ainda não possuem essa estrutura”, lamenta.
Prevenção e tratamento
Outro fator primordial é o diagnóstico precoce. “Existe o pré-diabetes, que é quando o paciente não chega a ter os valores de glicemia que determinam a diabetes nem as complicações decorrentes dela, então é uma hora importante para a gente atuar porque podemos evitar essa progressão da doença”, salienta Bruna.
Nesses casos, haveria tanto uma solução via medicação quanto do controle de peso, através da melhoria da alimentação e da prática de atividades físicas. “Sem dúvidas a população mais vulnerável à diabetes é aquela que tem sobrepeso ou obesidade”, alerta a especialista.
Embora haja ainda muitos desafios a serem superados, Bruna não deixa de notar avanços no combate e na prevenção à doença no Brasil, sobretudo a partir da disponibilização de medicamentos pelo programa Farmácia Popular, sancionado pelo presidente Lula em seu primeiro mandato.
“Uma das classes mais novas de medicamentos para a diabetes foi incorporada ao programa e esse é um grande ganho, é um avanço em relação a vários outros países inclusive”, comemora a Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia. Bruna ressalta que existe um avanço tanto em relação à medicação quanto na monitorização da glicose no mundo todo. “A ciência tem colaborado bastante e tido uma progressão muito grande nessa área”, afiança.
A notícia nem tão animadora é que essas novidades costumam chegar com preços elevados ao mercado. “A gente entende que a indústria farmacêutica gasta muito dinheiro para descobrir um remédio, fazer a testagem, comprovar a segurança e tudo mais, mas é triste que esses remédios demorem a baixar de preço para estarem acessíveis à maior parte da população”, lamenta a entrevistada, para quem “a concorrência ajuda muito a baixar esses preços”.
Nessa delicada equação, Bruna constata que o custo do tratamento contra diabetes pode, sim, ser um obstáculo em alguns casos. “Nem todos os medicamentos aprovados para tratar a diabetes estão atualmente disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), mas já temos muitas opções disponíveis. A gente sabe que o que ainda não está disponível ajudaria muito se estivesse. O custo ainda é um entrave, mas temos avançado nesse sentido”, avalia.
Medidas e alertas
Dentro das medidas indispensáveis para quem possui diabetes está a educação alimentar. “É algo muito maior do que só evitar açúcar, é importante que os pacientes compreendam o que é carboidrato, que comporta, além do açúcar, diversos outros alimentos, como fruta, arroz, pão, batata”, enumera Bruna.
Uma vez superado esse ponto, “é necessário que o paciente tenha condições de comprar outros alimentos além do carboidrato para realizar esse controle”, ratifica a endocrinologista, que cita carne, leite e ovo como alimentos mais ricos do ponto de vista nutricional do que a maior parte dos carboidratos.
Na opinião de Bruna, a vida contemporânea altamente conectada impacta o tratamento da diabetes porque desestimula o convívio ao ar livre e tende ao sedentarismo. “Precisamos reverter esse quadro e aumentar a disposição à atividade física. A correria do dia a dia também nos leva a andar menos a pé, se movimentar com menor intensidade, com uma alimentação rápida, à base de ultraprocessados, e menos saudável”, arremata.
Sintomas clássicos
A endocrinologista Bruna Galvão, Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, informa que os excessos de urina, apetite e sede, aliados a uma perda de peso, são os sintomas clássicos da diabetes. “O diabetes tipo 1 costuma começar dessa forma. O tipo 2 é mais silencioso e muitas vezes o diagnóstico acontece em um exame de rotina que detecta a elevação da glicemia, mesmo sem os sintomas clássicos”, compara.
Outra diferença é que o diabetes tipo 1 costuma ser autoimune, no qual “o organismo produz anticorpos que vão destruir a capacidade de produzir insulina pelo pâncreas do próprio paciente”. “Ele vai reduzindo essa produção de insulina e com isso necessita que ela seja aplicada externamente”, diz. Já o diabetes tipo 2 é multifatorial e tende a se associar com as questões de sedentarismo e obesidade.
“Nesses casos há uma redução relativa na produção de insulina, e, às vezes, até uma produção excessiva para tentar compensar uma resistência à insulina”, sublinha. A especialista faz questão de esclarecer que, embora seja ruim para ambos os tipos, “o açúcar não causa diabetes”.
“Existem mais fatores relacionados. O açúcar acaba sobrecarregando o pâncreas, mas a pessoa que não tem uma predisposição à diabetes vai produzir insulina normalmente. Agora, depois de o diabetes ser estabelecido, deve-se realmente evitar o consumo de açúcar”, finaliza.