O ano de 2025 já começou com um recorde de calor: o primeiro mês foi o janeiro mais quente já registrado na história, de acordo com o Copernicus, observatório climático da União Europeia. O que mais surpreendeu os especialistas, porém, é que o recorde aconteceu mesmo sob efeito do fenômeno La Niña, que tipicamente reduz a temperatura global. No Brasil, a situação não é muito diferente, tanto que têm sido constantes os recordes de calor registrados – o último em Belo Horizonte aconteceu também em janeiro, quando a cidade chegou aos 34,4°C; no Rio Grande do Sul, o calor excessivo fez com que cones de trânsito derretessem na cidade de Santa Maria.

Os efeitos das altas temperaturas, porém, não afetam apenas a sinalização das cidades e os termômetros. O calor também impacta a saúde e a qualidade de vida das pessoas. É isso o que aponta o clínico geral, cooperado da Unimed-BH, Último Libanio da Costa. “Mudanças climáticas ampliam a área de distribuição de vetores, aumentando a incidência de doenças como dengue, zika e chikungunya. Um exemplo disso é o Sul do Brasil, região em que os casos de dengue atingiram números alarmantes recentemente”, pontua.

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica em Minas Gerais, Último também explica que as elevações de temperatura estão associadas a um aumento da morbidade e da mortalidade, especialmente de populações vulneráveis, como idosos e crianças. “Eles podem não manifestar a necessidade de ingerir líquidos, o que pode levar à desidratação”, ressalta. “O idoso, muitas vezes, não tem uma hidratação adequada. Às vezes, por dificuldade de ir até a um lugar e beber água sozinho. Por isso, deve-se oferecer água com frequência, mesmo sem manifestação de sede. A coloração da urina é um bom sinalizador para o estado de hidratação. Se ela estiver alaranjada, é porque você deve estar ingerindo menos água do que deveria”, orienta. O médico ainda afirma que a hidratação não deve ser feita exclusivamente com água, embora ela deva constituir a maior parte do processo. “Ela deve ser alternada com outros líquidos, como sucos e chás”, recomenda. 

A importância dada pelo médico à hidratação tem justificativa: os líquidos são fundamentais para que o corpo controle sua temperatura. “A evaporação do suor é um importante mecanismo de regulação da temperatura corporal. No entanto, isso leva a uma perda excessiva de sais e líquidos, e a redução do volume corporal desses líquidos leva ao comprometimento de todos os sistemas”, elucida. É justamente por isso que Último destaca que a desidratação é o maior dano causado pelas temperaturas elevadas. “Ela pode desencadear complicações circulatórias e metabólicas. Em situações extremas, podem ocorrer confusão mental, convulsões, perda de consciência e até mesmo a morte”, adverte.

Mente em perigo

Segundo o médico, o calor excessivo pode também afetar a saúde mental das pessoas, exacerbando condições como a ansiedade e a depressão. Ele acrescenta outro efeito das temperaturas elevadas e, consequentemente, do aumento da poluição do ar, que é o agravamento de doenças respiratórias, como asma e bronquite. “Elas (as altas temperaturas) também podem comprometer a segurança da conservação dos alimentos e da qualidade das águas, podem levar ao comprometimento da saúde física e até mesmo ao estresse psicológico”, enumera. 

Último Libanio da Costa explica ainda que, quando as temperaturas elevadas estão associadas a uma diminuição da umidade relativa do ar, outras consequências entram em cena. “Elas tendem a levar a complicações alérgicas e respiratórias devido ao ressecamento das mucosas. A dispersão de gases poluentes, que costuma ocorrer nessa situação climática, também favorece a irritação das vias respiratórias. Sangramentos nasais podem ocorrer. Há também uma sensação de cansaço e indisposição nessas situações climáticas. Além disso, a perda de líquido pode favorecer o surgimento de problemas renais”, lista o médico. 

Além de todos os riscos para a saúde, o calor também causa alterações no peso. É isso o que mostra uma pesquisa publicada na revista “Global Food Security”. O estudo indicou que um aumento de 1°C nas temperaturas médias está relacionado a uma elevação de 4% e 2% no Índice de Massa Corporal (IMC) de crianças e mulheres, respectivamente. 

Conforme mostrou o estudo, a principal causa de aumento de peso é que as pessoas se exercitam menos e tendem a ficar confinadas em ambientes mais frescos quando as temperaturas estão elevadas.

Para driblar o calor, o clínico geral Último Libanio da Costa orienta que as pessoas evitem praticar atividades físicas entre 10h e 16h, optando, portanto, por períodos de temperatura mais amena. 

Segundo o médico, para evitar os danos do calor excessivo, é primordial incorporar ações saudáveis no dia a dia, o que inclui o uso de roupas adequadas e hidratação constante. “Evitar bebidas alcoólicas, já que o álcool desidrata, e optar por alimentos leves e de fácil digestão”, aconselha o profissional. 

O médico também orienta que as pessoas usem filtro solar mesmo não estando na praia e clube, que evitem aglomerações sempre que possível e que mantenham a casa higienizada e areada. Umidificar o ambiente – seja com umidificadores, seja com toalhas molhadas e recipientes com água – é outra orientação do clínico. 

Lavar os olhos e irrigar as narinas, optar pelo uso de bonés e chapéus, não provocar queimadas e descartar o lixo de forma correta também são dicas dadas por ele. “São ações simples, mas com grande impacto, tanto individual quanto coletivo”.