Desde o estágio embrionário da empreitada, duas diretrizes já estavam bem delineadas na mente do curador Renato Tomasi. Uma, a de que a capital mineira deveria constar do nome do projeto. A outra, a de que o evento teria uma bandeira como marca. Colocadas em prática, o BH Design Festival entra em campo no dia 28 com o propósito de, nesta edição de estreia, fazer com que a população da cidade se atente à potência do design local.
Com uma programação que se estende até o dia 6 de junho, o BHDF ocupará de galerias de arte a shoppings, passando por lojas de mobiliário, uma livraria e até o efervescente Mercado Novo. “Mais que um evento, estamos enxergando a iniciativa como o ponto inicial de um movimento”, explica Tomasi.
Movimento que, num segundo momento, pode se transformar em uma identidade para a cidade. “São Paulo, por exemplo, é conhecida por ser a capital dos negócios (no país). Já o Rio de Janeiro, por sua vocação para o turismo. A ideia, portanto, é que BH se aproprie desse potencial criativo do design. E vou mais longe: aos moldes do que acontece na Itália, que sabe fazer isso muito bem”, diz, referindo-se ao fato de o país europeu ser sinônimo de um design de ponta, inspirando o resto do mundo. “Mas, por ora, estamos plantando uma semente”, conta.
E a opção dos realizadores de promover ações por toda a cidade visa incentivar a população de todas as regiões a sair de casa para conferi-las. “Um festival é também um momento de divulgação, networking, negócios, inclui esse tripé. E se é fato que a cidade tem muitos nomes de destaque no design, também é importante ter um momento no calendário no qual um grande número de profissionais dessa área esteja fazendo algo em conjunto. E ao se propagar pela cidade, o festival mostra ao público que o design está em tudo”, salienta.
Gênese. O BH Design Festival é, na verdade, um desdobramento do “DMais Design”, mostra criada em 2014 por Tomasi – mas, no caso, focada apenas em decoração. “Agora, a ideia é mostrar o design também em outras vertentes: por isso, digo que a programação é até mais cultural, com ações em espaços como museus e centros culturais...”, diz.
Um dos eventos é o Design Summit, conferência que acontecerá ao longo do dia 30 e em 1º de junho, no espaço WeWork, na Savassi. São 30 atividades, entre palestras, entrevistas, workshops e painéis, organizados a partir de três eixos temáticos principais: reinvenção do design clássico, design e negócios e design e tecnologia.
Outro chamariz é o Mercado de Design, nos dias 1º e 2 de junho, no Pátio Savassi, com 20 expositores selecionados por curadores a partir dos eixos consumo social, visual love e orgulho local.
Mercado Novo. Os designers João Elias e Pedro Haruf sempre tiveram um apreço particular pelo centro da cidade. Com o atual movimento de reocupação do Mercado Novo, veio a ideia de propor um diálogo entre os novos e os antigos ocupantes, por meio do design. O resultado estará na mostra “Sobrexistir”, que ocupará os corredores C e D do espaço. “Já nas conversas iniciais, percebemos que a gente deveria inserir, na iniciativa, o que já existia ali – e não fazer uma coisa meio alienígena, de invasão. E bolamos esse conceito colaborativo, partindo de um recorte de designers que estão fazendo trabalhos muito legais. Daí, marcamos uma volta com eles no local, para conhecer os ofícios que já estão lá tradicionalmente, como as lojas que envolvem confecção de placas de acrílico, os torneiros, as gráficas”, elenca.
A partir daí, foram firmadas parcerias entre as partes, o que resultou na criação de peças inéditas. “A gente foi num conceito mais profundo de mercado, visto aqui não só como ponto de comercialização de produtos, mas também de trocas de experiencias e de celebração de culturas. Um conceito que, no caso do Velho Mercado Novo, envolve uma rede de comércio e ofícios que já estava lá (antes da revitalização), mas que, por razões diversas, ficou de certa forma invisível para uma parte considerável da população da cidade”, explica.
Citando uma fala da arquiteta Lina Bo Bardi (1914 -1992) – “A beleza por si só é uma coisa que não existe praticamente/ existe por fazer parte de um período histórico, depois o gosto muda e vira uma porcaria/ Quando é uma coisa imprescindivelmente ligada à coletividade, é bonita porque serve e continua a viver” –, João Elias acredita que, em uma urbe, a conexão entre o que já existe e o que está chegando é fundamental.
E se os designers tiveram liberdade no que tange à criação, a curadoria propôs uma unidade expositiva para toda a área ocupada, como uma comunicação na lateral das lojas, mostrando o perfil do designer, com quem ele colaborou e a descrição da peça, que será enaltecida por uma iluminação especial.
Saiba mais
1º BH Design Festival. De 28/5 a 8/6. Mais informações em @bhdesignfestival ou facebook BH Design Festival
Mostras.
- Design Summit. WeWork (r. Sergipe, 1.440, Savassi). Dia 1º e 2/6. Inscrição: lets.events/e/design-summit
- Mercado de Design Pátio Savassi (av. Contorno, 6.061). Dias 1 e 2/6
- “Sobrexistir”. Mercado Novo. De 30/5 a 8/6