Escalada para “Um Lugar ao Sol”, próxima novela das nove da Globo, a atriz Mariana Lima, 49, interpretará Ilana, uma ex-modelo que engravida do marido e, no decorrer da trama, vai se apaixonar pela médica obstetra. Na vida real, a atriz, que é casada com o ator Enrique Diaz, revela que já se envolveu com pessoas do mesmo sexo e lida muito bem com isso. “É claro que transei com mulheres. Imagina se eu ia perder essa oportunidade maravilhosa na vida. Eu fui profundamente apaixonada por uma mulher, tive relações com mulheres quando era adolescente e na vida adulta”, afirmou ela em entrevista ao jornal “O Globo”.

Assim como Mariana, outros artistas vêm falando abertamente sobre a própria sexualidade, como é o caso do ator Jesuíta Barbosa, 30. Ele, que já havia se declarado bissexual, disse em entrevista à revista “GQ” deste mês, que sua sexualidade está sempre mudando. “São fases da vida. Agora até que estou bem hétero”, comentou o artista. Recentemente, Camila Pitanga usou o Twitter para falar sobre bissexualidade – em dezembro, ela terminou o relacionamento de quase dois anos com a artesã Beatriz Coelho. “Gente, a letra B da sigla não é de Beyoncé não, tá?”, escreveu ela, referindo-se à sigla LGBTQIA+. Quem também falou sobre o assunto foi a atriz mexicana Nailea Norvind, que, ao declarar apoio à filha Tessa Norvind – que revelou ser homossexual –, disse ser bissexual e afirmou: “Todos somos bissexuais, não somente eu”. A frase da atriz repercutiu, levantou questionamentos e críticas. Afinal, será mesmo que se pode afirmar que todos somos bissexuais?

“Penso que o debate sobre orientação sexual tem sido mais presente, e, por não compreendermos esse universo, que mesmo assim é tabu, generalizações acabam acontecendo. Dizer que todas as pessoas são bissexuais é um modo de entrada que as pessoas possuem para as incertezas sobre o que leva, por exemplo, uma pessoa após tantos anos casada com alguém se divorciar e começar a se relacionar com o sexo oposto. Como o assunto não é dicotômico, essa pessoa que se divorciou pode ter sempre sabido sobre a própria orientação e, por norma social, ter tentado se encaixar, mas também pode nunca ter imaginado se relacionar com uma pessoa do mesmo sexo”, pontuou a psicóloga e coach de mulheres Adriana Roque.

‘Apagamento bissexual’

Integrante da Frente Bissexual Brasileira, a comunicóloga Nanda Rossi classifica a ideia replicada pela atriz mexicana Nailea Norvind como pertencente ao senso comum, mas que não é uma sabedoria coletiva ou uma verdade material. “Penso nesse mito como mais um fator que colabora e opera pelo apagamento bissexual na nossa sociedade, ainda tão forte e propositalmente utilizado. É conveniente que se criem e se espalhem mitos sobre a bissexualidade para que a sua ideia seja constantemente despolitizada e que ela não ocupe um espaço legítimo no debate público”, explicou.

Segundo Nanda, a ideia de que todas as pessoas são bissexuais está em conexão com sua ideia oposta, a de que ninguém é bissexual, pois bissexualidade não existe. “Se todo mundo é ou ninguém é, dissolve-se a ideia de grupo com necessidades específicas”, pontuou a integrante da Frente Bissexual Brasileira.

O cantor e ativista Fabiano Pérola-Negra, integrante da Frente Bi de BH, concorda com Nanda Rossi. “Fazer esse tipo de afirmação para mim é muito perigoso, porque nós, bissexuais, existimos. Nós não somos nem heterossexuais, nem homossexuais”, afirmou. “É a partir daí que se tem a invisibilidade da bissexualidade, o discurso de que estamos apenas em cima do muro, que é só uma fase na nossa vida, e vários outros tipos de bifobia”, observou ele.  

Em debate. Saiba mais. Afinal, somos todos bissexuais? A pergunta permeia o debate na edição de hoje do programa Interess@, a partir das 14h, na rádio Super 91,7 FM e nas plataformas digitais de O TEMPO