Ao tentar conquistar um corpo dourado utilizando técnicas de bronzeamento artificial, sete mulheres tiveram queimaduras nos braços e nas pernas após uma sessão em uma clínica em Jataí, no interior de Goiás. Após sentirem dores e notarem o surgimento de bolhas pelo corpo, duas delas foram internadas com queimaduras de segundo grau em cerca de 80% do corpo. As mulheres relataram à polícia que foi aplicado um produto para acelerar o bronzeamento sob o sol: um óleo de canela com coco.
Essas fórmulas caseiras, como o chá da folha de figo usado há alguns anos, podem ser muito perigosas, alerta a dermatologista Ana Cláudia de Brito Soares. “Essas mulheres (de Goiás) tomaram sol no quintal de casa, e o que é mais grave, usaram uma mistura de substâncias que, aplicada sobre a pele, a deixa sensível à radiação solar. Porém, o efeito não é imediato e só começa a ser percebido cerca de quatro horas depois da exposição”, diz.
Segundo Ana Cláudia, o bronzeado de uma pessoa depende da capacidade da pele em produzir melanina (responsável pela pigmentação), um fator ligado à tonalidade natural. “Não existe qualquer substância milagrosa que garanta o bronzeado imediato. Quem é de pele branca não vai se bronzear nunca. Não adianta querer inverter a ordem natural. (Tomar) sol de maneira exagerada é nocivo, mas de maneira correta também pode ser muito bom”, garante.
Segundo a diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia – seção Minas Gerais, os produtos desconhecidos podem levar até a morte. “Os riscos são de queimaduras graves em uma superfície corporal extensa, além do risco de morte como o de qualquer grande queimado. Pode acontecer desde uma queimadura inocente ou até as mais graves com cicatrizes pelo resto da vida”, alerta Ana Cláudia.
Legislação. A coordenadora da Vigilância Sanitária de Jataí Kelle Mello informou que não há legislação específica sobre a atividade de bronzeamento natural, o que dificulta a fiscalização dos estabelecimentos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que o órgão foi pioneiro na decisão de proibir o uso de câmaras de bronzeamento, mas a agencia não esclareceu sobre tratamentos alternativos.
“As câmaras de bronzeamento estão proibidas no Brasil desde 2009, através da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC 56). Portanto, não há estimativa de aparelhos e/ou clínicas credenciadas para fazer procedimentos. Se existem, como esta de Goiânia, são clandestinas e os aparelhos contrabandeados. Isso é caso de polícia”, disse a Anvisa, por meio de nota.
Investigação
Goiás. Segundo o delegado João Paulo Forigotti que investiga os casos das mulheres queimadas em Goiás, outras vítimas já foram identificadas e devem ser ouvidas ainda nesta semana.