Em média, crianças perdem a fé no Bom Velhinho aos 8 anos, revela pesquisa da Universidade de Exeter (Reino Unido). Batizado de “Santa Survey” (ou “Pesquisa do Papai Noel”), o estudo, que será concluído em fevereiro de 2020, analisou o relato de 4.200 pessoas de diversos países sobre o momento em que descobriram que o morador do Polo Norte e suas renas não passavam de uma lenda.

Segundo o autor do projeto, Chris Boyle, professor de psicologia da universidade, 15% dos entrevistados admitiram ter sentido raiva ao descobrir que Papai Noel é só uma fantasia. Três em cada dez participantes da pesquisa disseram que, à época da revelação, passaram a confiar menos nos adultos.

“Com 8 anos, as crianças já se desenvolveram intelectualmente, e os adultos concluem que elas podem ser informadas sobre a verdade”, explica Boyle. “Recebi histórias muito interessantes sobre meninos que perceberam que Papai Noel não existia ao ver que sua caligrafia é a mesma de seu pai ou da mãe. Também há meninos que perguntam como um homem gordo pode descer pela chaminé ou por que um estranho pode entrar na casa. Além disso, os pais não são capazes de dizer por que as crianças ricas recebem presentes melhores do que as pobres”, diz.

Foi com essa idade que Bruno Barbirato soube a verdade sobre o personagem. De pronto, resistiu à revelação, mas, depois, achou graça. “Me preocupei porque muitas crianças na escola já não acreditavam, e ele poderia sofrer bullying, então preferi que soubesse por mim”, explica a psiquiatra Gabriela Dias, 40, mãe de Bruno. “Também não queria mentir para ele”, completa.

Pai de Bruno e chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia, Fábio Barbirato, 50, sublinha que criança não é um “adulto em miniatura” e o faz de conta é um artifício fundamental para seu desenvolvimento. E é importante que os pais saibam lidar com esse mundo fantástico, já que os filhos têm uma percepção muito mais aguçada do que imaginam. Na hora de contar a verdade, “a conversa deve ser simples, olhando a criança em seus olhos, sentada com elas, para que se sintam acolhidas”, sugere.

A psicóloga clínica infantil Lucia Marmulstein aconselha os pais a incentivar o raciocínio das crianças que estão desconfiadas sobre a existência do Bom Velhinho. “Só devemos falar sobre o que a criança está perguntando. Se ela faz uma indagação sobre o Papai Noel, é porque tem capacidade de duvidar e desenvolver uma relação diferente. Se não questionou ainda, por que dizer alguma coisa para ela?”, questiona.

Pré-adolescência é marco

Fabular é preciso. A psicóloga clínica infantil Lucia Marmulstein assinala que, durante o desenvolvimento da criança, o mundo imaginário é gradativamente substituído pela construção de um pensamento sobre a realidade. 
Tempo de amadurecer. Por isso, não é necessário abreviar esse caminho, revelando os segredos da infância sem dar tempo para que os filhos, aos poucos, perguntem sobre suas crenças. 
Prazo. Lucia adverte que fantasia tem limites, sendo aconselhável conversar com as crianças caso cheguem à pré-adolescência – por volta dos 10 anos – acreditando em mitos. “A criança não pode ficar fechada em seu imaginário. Se isso ocorre, devemos perguntar por que ela está tão apegada em uma fantasia”, diz Lucia.