Especialista

Criança brincar é essencial para se tornar um adulto saudável

‘Confinamento’ de pequenos tem crescido nos últimos 50 anos


Publicado em 12 de outubro de 2018 | 03:00
 
 
 
normal

Criança precisa brincar. É o que defende o professor Peter Gray, da Universidade de Boston, em seu livro “Free to Learn: Why Unleashing the Instinct to Play Will Make Our Children Happier, More Self-Reliant, and Better Students for Life” (“Livre para Aprender: Por que Libertar o Instinto de Brincar Vai Tornar Nossas Crianças Mais Felizes, Autônomas e Melhores Estudantes para a Vida”, em tradução livre).

Segundo ele, as brincadeiras e a interação com outras crianças são essenciais para um desenvolvimento psicológico saudável e para a habilidade de prosperar na vida. E brincar, infelizmente, alerta, tem sido negligenciado por pais e educadores.

Em seu estudo, que resultou no livro, Gray constatou que, nos últimos 50 anos, as oportunidades para crianças brincarem livremente diminuíram consideravelmente, e isso resultou em um aumento de ansiedade, depressão e até mesmo do número de suicídios de jovens que não tiveram a possibilidade de encontrar sentido e alegria na vida devido a falta de brincadeiras na infância.

O pesquisador ainda constatou que existe, hoje, uma cobrança muito grande das crianças desde cedo e que é preciso que as escolas retomem a alegria, diversão e entusiasmo de aprender por meio da brincadeira.

Essa foi exatamente uma das preocupações do jornalista Luiz Alberto dos Santos Silva, 33, ao procurar uma escolinha para seu filho Pedro Henrique, de 1 ano e 8 meses. “Quando ele completou 1 ano, nós decidimos colocá-lo na escolinha. Como nós trabalhamos, essa foi a saída. Mas buscamos um lugar que trouxesse os benefícios da socialização, desenvolvimento e interatividade com os colegas e com o ambiente”, diz. 

Menos tecnologia. Se, durante a semana, Pedro fica na escolinha, em casa os pais fazem questão que ele viva o mundo real. “Ele naturalmente tem contato com a tecnologia. As crianças de hoje nascem conectadas. Por isso, quando eu chego em casa, procuro fazer as brincadeiras de crianças tentando evitar o máximo o celular”, explica Luiz.

Nos fins de semana, a programação envolve passeios ao ar livre e muitas brincadeiras com crianças. E é assim que deve ser, de acordo com Gray e com Mônica Meyer, professora aposentada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Criança tem que ter contato com a natureza, explorar os cinco sentidos, e não viver num mundo virtual. Cada vez mais as crianças ficam trancafiadas em casa e não exploram o mundo. Os pais não devem ter medo. Ao saírem, as crianças recebem estímulos sinestésicos do ambiente, aprendem com todo o corpo e têm acesso a universos que não aparecem na escola”, explica a educadora.

A enfermeira Sandra Maria Freza, 42, é mãe do Guilherme, 3, e sabe muito bem a importância de o filho ter contato com o meio ambiente. “Ir ao parque faz parte da rotina do Guilherme. Vamos todos os fins de semana. É importante ele interagir com outras crianças fora do ambiente da escola. Moramos em apartamento, e ele mesmo pede pra sair, não é muito ligado em tecnologia”, conta. 

Valentina, 4, é fã de desenhos e jogos no celular, mas os pais fazem questão de levá-la para passear. O pai, o advogado José Paulo Oliveira, 48, procura sempre incentivar a filha a conhecer outras brincadeiras. “Ela gosta de ir ao parque, e, como está na idade de descobrir as coisas, todo brinquedo ou jogo no parque é uma novidade”, diz o pai.

Para especialista, pais devem priorizar diversão ao ar livre

Sair de casa é um custo, conta o engenheiro civil Cícero Barbosa Junior, 44, pai de Gabriel, 6. “As crianças estão muito ligadas à internet. Faço de tudo para o Gabriel não ficar só nos jogos. Tento levar pra fazenda, para brincar. E, quando estou em casa, tento levá-lo para a quadra, mas não é fácil”, relata.

A situação ocorre com frequência em muitos lares de hoje. “Os pais têm medo da violência e, às vezes, acabam contribuindo para que as crianças recorram à tecnologia como lazer”, analisa o psicólogo Cláudio Paixão, professor da Faculdade de Ciência da Informação da UFMG. Uma alternativa para tirar as crianças de casa, diz, é participar de atividades junto com os filhos. “Estar presente, seja praticando uma atividade física, acompanhando em uma tarefa ou até mesmo promovendo um encontro com os coleguinhas. Isso cria um vínculo e uma aproximação entre pais e filhos que é importante para o desenvolvimento da criança”, recomenda. 

Outra possibilidade é matricular os filhos em esportes e aulas para que eles possam interagir com outras crianças. Mas sem exageros. “Ao induzir a socialização, é preciso colocar a criança em atividades pelas quais elas tenham interesse, para não criar um estresse por atividades acumuladas”, alerta.

Amarelinha. Para brincar de amarelinha, é preciso apenas chão e um pedaço de giz. Faça um risco no chão e numere de 1 a 10, intercalando números sozinhos e lado a lado; na ponta final, faça um arco representando o céu.

Depois e só tirar na sorte quem vai começar, jogar a pedrinha no primeiro e pular de um pé só nas casas isoladas e com dois nas casas duplas. Lembre-se de que não se pode pular dentro da casa em que a pedrinha estiver.

Pega-pega. O jogo é composto por dois tipos de jogadores, os pegadores e os que devem evitar ser apanhados. Decida quem será ou serão os pegadores; escolha o pique onde os pegadores não podem pegar ninguém. Quem for pego vira automaticamente o pegador.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!