Quem não quer ser um milionário? Um antigo ditado já dizia que dinheiro não traz felicidade. Mas traz, sim, rebatem pesquisadores e especialistas. Considerando-se alguns dos principais e mais recentes estudos que relacionam felicidade e dinheiro, não há como desassociar renda de bem-estar emocional conforme são adicionados zeros à direita no saldo da conta bancária. Se até uma das maiores operadoras de cartão de crédito do mundo sabe que certas coisas não têm preço, mas que muitas outras o dinheiro pode comprar, fica evidente que é possível viver com menos ou com mais, mas não tem como escapar: dinheiro é necessário e ponto.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), em 2017, ouviu 2.594 moradores do Rio de Janeiro e de São Paulo e concluiu que, quanto mais alta a renda do brasileiro, maior a pontuação nos níveis de satisfação com a vida. O estudo chamado Sondagem do Bem-Estar revelou também que homens são mais felizes que mulheres, e o motivo, segundo o estudo, está também na renda – no Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2018, mulheres ainda ganham 20,5% a menos do que homens.
O levantamento avaliou diversos fatores capazes de influenciar a felicidade da população, incluindo confiança em instituições e nas pessoas, aspectos de saúde e relações sociais, satisfação com serviços públicos, qualidade e quantidade dos serviços de transporte e bom uso do tempo.
“A felicidade é um fenômeno socialmente construído e está relacionada à percepção da satisfação geral das pessoas com a própria vida, em que elas percebem, em suas trajetórias de vida, experiências positivas mais recorrentemente do que aquelas negativas, conferindo um propósito ou sentido em suas vidas. Vemos, então, que dinheiro e felicidade, até pela própria organização de nossa sociedade – o apelo ao consumo e estratégias de marketing, por exemplo –, podem, em alguns momentos de nossa vida, se encontrar”, avalia a doutora em psicologia e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Sabrina Cavalcanti Barros
Mas, se por um lado, quanto maior a renda, maior será o nível de satisfação, o desemprego e a desigualdade também impactam negativamente, garantem os especialistas.
“Diversos estudos têm demonstrado que produzimos significados diversos ao dinheiro, muitas vezes contraditórios. Podem ser fonte de prazer, de altruísmo e, ao mesmo tempo, de sofrimento e de desigualdade. Precisamos ter em mente que nossas experiências com o acesso que temos ao dinheiro, além de nossa própria história de vida, são influenciadas pelos contextos sociais, econômicos e políticos que enfrentamos enquanto sociedade. E esse contexto pode nos ajudar ou dificultar a vivenciar momentos de satisfação e de prazer”, pontua Sabrina.
E o psicólogo clínico especializado em psicologia da educação Emerson Pedersoli completa: “Essa relação dinheiro e felicidade vai depender muito do padrão moral daquele que tem o dinheiro. Se a pessoa tem o dinheiro e tem uma moral boa e equilibrada, essa relação existe, porque essa pessoa faz um bom uso do dinheiro, ela o usa para o bem de terceiros conhecidos ou não. Entretanto, uma pessoa que não tem dinheiro e tem moral equilibrada e tem bom senso nas atitudes, sem o dinheiro ela também será feliz. Tudo depende de uma questão moral”, observa.
No início do mês, o humorista Whindersson Nunes postou um vídeo nas redes sociais intitulado “Dinheiro traz felicidade?”. O piauiense explicou aos seguidores o que mudou em sua vida depois que ficou rico. “Traz, eu não vou mentir, porque, se eu não tivesse dinheiro hoje, eu estava na merda. O povo diz: ‘Ah, se eu fosse o Whindersson eu pegava o jato, enchia de mulher e ia pras Maldivas’. Não dá. Primeiro de tudo que o meu avião nem ‘bota’ lá, cai no oceano. Vai acabando a gasolina, não tem milhas náuticas”, brincou.
Mas a relação do comediante com o dinheiro nem sempre foi assim. No ano passado, ele se afastou dos holofotes para tratar uma depressão. O humorista, na época com 24 anos, recebia aproximadamente R$ 120 mil por apresentação e cancelou shows e gravações de campanhas.
“Ah, o que vou fazer agora? Só ganhar dinheiro, só viver disso? Não, encontrei um sentido”, afirmou Whindersson em entrevistas na época. Ele ficou afastado das atividades profissionais por três meses, enquanto se dedicou a tratamento com medicação e terapia com acompanhamento de psicólogo.
Quanto é preciso para ser feliz?
Mas, calma. Existe um valor médio para a felicidade. Um estudo feito pelos pesquisadores Angus Deaton e Daniel Kahneman, ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, apontou que um salário ótimo seria de, em média, US$ 75 mil anuais, ou R$ 410 mil em 12 meses. Isso daria, aproximadamente, um salário de R$ 34 mil por mês.
Para o estudo, publicado em 2010, foram pesquisados 450 mil americanos ao longo de dois anos para se chegar a esse valor. Mas será mesmo que é preciso sempre ter mais para ser mais feliz? A resposta é “não”. Segundo os pesquisadores, ganhar acima desse valor não traz significativamente mais bem-estar emocional. Mas a forma como o dinheiro é gasto, sim.
De acordo com outro estudo de Cambridge, de 2016, a felicidade é maior quando o dinheiro é gasto com experiências em vez de produtos e itens para ostentar para os outros. O alerta ganha mais importância em tempos de ostentação em redes sociais.
Dinheiro e felicidade: como você gasta importa mais do que quanto você tem
Quanto dinheiro você precisa para ser feliz? Isso vai depender dos seus valores e objetivos, mas o fundamental mesmo é adequar seu estilo de vida ao seu salário. Isso porque cada vez mais endividados, os brasileiros estão sofrendo com males físicos e mentais como ansiedade, angústia, dificuldades de relacionamento no trabalho e até mesmo depressão.
A conclusão é do levantamento nacional realizado com consumidores com dívidas em atraso há mais de 90 dias pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). De acordo com a pesquisa, dois em cada três (65,6%) inadimplentes se sentem deprimidos, tristes e desanimados por deverem e, diante da situação, 16,8% recorrem a vícios como cigarro, comida ou álcool, sobretudo as pessoas das classes C, D e E (17,5%).
“Muitas pessoas gastam mais do que ganham. O desequilíbrio financeiro impacta profundamente a saúde física e mental e até as relações familiares. Vira uma bola de neve. Não é só o dinheiro que traz felicidade, mas ter uma boa relação com ele também”, avalia o educador e consultor financeiro Carlos Eduardo Costa.
Para sair do aperto, o especialista sugere que se faça uma profunda reflexão. “A primeira coisa é se organizar, cuidar bem do seu dinheiro. Se pergunte e faça uma reflexão sobre quais são os seus valores, o que você realmente quer. É importante descobrir qual o significado do dinheiro e quais sentimentos estão relacionados a ele. O que é importante para você? Este momento de pandemia pode auxiliar muito a ter esses insights”, observa.
Mão aberta: dinheiro no bolso? Nada
Dispostos a abrir mão de sua liberdade e privacidade para aumentar os zeros – à direita – em suas contas bancárias, os participantes do “Big Brother Brasil” (BBB) se sujeitam a todo tipo de constrangimento. Mas, mesmo com dinheiro no bolso e fama nas redes, a trama nem sempre é tão simples. Pelo menos cinco vencedores do “BBB” – Paula, Max, Dhomini, Cida e Rodrigo Caubói – garantem já tostaram cada centavo de seus prêmios. Se alguns falam com desprendimento sobre o assunto, como a mineira Paula – “Espero que os sites de fofoca não vejam isso” –, para outros só resta a lamentação. Rodrigo Caubói e Cida garantem ter sido enganados.
“Algumas pessoas associam a experiência de felicidade ao consumo, mas a questão não é a quantidade de dinheiro que você tem, mas o bom uso que você faz dele”, destaca o consultor financeiro Carlos Eduardo Costa.
Dinheiro traz felicidade!
O pesquisador de Harvard Daniel Gilbert, autor de um best-seller sobre o tema, tem a receita da felicidade quase na ponta de língua. Segundo o psicólogo, existem várias maneiras de gastar o dinheiro para aumentar a felicidade. São elas:
- Comprar mais experiências e menos bens materiais. Ou seja, ir a mais parques de diversões e aproveitar as férias e se preocupar menos com carros novos e aquisição de outros bens
- Usar o seu dinheiro para beneficiar os outros em vez de si mesmo
- Comprar pequenos prazeres em mais quantidade
- Evitar a garantia estendida e outras formas de seguro desse tipo. De acordo com o pesquisador, muitas vezes nós adquirimos seguro para nos sentirmos melhores, e não porque não podemos pagar para substituir o item
- Considerar como recursos periféricos de suas compras podem afetar o seu dia a dia. Comprar uma casa de verão parece uma boa ideia porque, no longo prazo, não pensamos sobre reparos, telhados com vazamento e mosquitos