O fim de um relacionamento sempre é difícil, e, quando o “felizes para sempre” tem um desfecho diferente do planejado, o vazio de um dos lados da cama pode até parecer o fim. Mas especialistas garantem que é melhor passar pelo luto de uma separação do que ter uma vida infeliz. 

Este foi o caso da maranhense Carol Dourado, 29, que viralizou nas redes sociais após publicar um ensaio fotográfico do dia de seu divórcio. Em frente ao fórum da cidade, a farmacêutica, vestida de branco, posou com balões e um cartaz que dizia “enfim, divorciada”. “A gente não comemora momentos felizes da vida? Eu estava tão alegre de conseguir aquilo que eu precisava celebrar. Me senti aliviada”, confessa ela, dizendo que, se tivesse feito a festa hoje, teria contratado helicóptero com chuva de rosa em vez de usar só a faixa.

“Ninguém se casa querendo se separar, eu imaginei que seria para o resto da minha vida, e eu queria que fosse mesmo. Desde criança eu enrolava um lençol na cabeça e me imaginava casando. Mas cheguei num ponto de infelicidade que ou eu salvava meu casamento, ou eu me salvava”, desabafa. 

Carol ficou casada por três anos. O divórcio, segundo ela, marcou o início de uma nova vida. A decisão levou quase dois anos. “Eu lutei muito por esse casamento, porque você ama a pessoa. Além de tudo, existe um estigma da mulher divorciada, de que a vida acabou. Você, então, cede e aceita muita coisa para um relacionamento dar certo, porque você aprende que um término é um fracasso. Mas, quando você percebe que tem mais momentos infelizes do que bons, é a hora de cada um seguir seu rumo. Mais importante do que um casamento, eu queria ser feliz de novo”, afirma. 

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de divórcios no Brasil aumentou no último ano. Só entre os meses de maio e julho de 2020, cresceu 54%, de acordo com o Colégio Notarial do país. Dados do Google também indicam que as pesquisas por termos relacionados ao assunto foram 1.100% maiores nesses meses, em comparação com o trimestre anterior.

Para a psicóloga e doutoranda em psicologia Daiana Fidelis, o fim de um relacionamento sempre vai ser frustrante. Mas, segundo a especialista, é preciso o mesmo empenho, atenção e carinho que se tem em uma relação para constituir uma nova vida.

“Nunca estamos preparados para o fim de um relacionamento, para o abandono, para a falta de amor. Nós não nascemos com habilidades emocionais para lidar com esse tipo de coisa. O fim de um relacionamento é como se fosse um luto, vamos passar por várias fases, entre elas raiva, barganha, depressão e, por último, a aceitação, pois é preciso que você dê esse passo”, avalia a terapeuta.

Segundo a analista comportamental Leticia Hasselmann, é preciso colocar na balança os prós e os contras de uma relação antes de insistir em uma reconciliação.

“Muitos medos estão envolvidos nessa decisão, seja o medo da solidão, o medo de a situação financeira piorar, o medo de perder o amor dos filhos, o medo de se arrepender e o próprio medo da mudança e do desconhecido. Todo relacionamento precisa passar por uma autoavaliação sincera, algumas crises são passageiras, outras nem tanto. Mas isso não é o fim, é importante se libertar da esperança que muitos têm de que algo ainda possa melhorar, ou de que o parceiro vá mudar, porque isso faz com que as pessoas sustentem por toda a vida um relacionamento ‘mais ou menos’”, pontua. 

“Faça uma reflexão: será que fizemos tudo o que podíamos? Será que eu fiz tudo o que podia? Quais atitudes e comportamentos meus que poderiam ser ajustados? Quais do meu parceiro que podem ser conversados para serem ajustados? No entanto, quando nem mesmo o diálogo é possível e a perspectiva de viver mais cinco, dez anos com o mesmo parceiro se torna algo completamente negativo e prejudicial ao nosso bem-estar, a decisão de encerrar o relacionamento é a solução mais acertada”, concluiu a coach de relacionamento. 

É possível ser amigo do ex? 

Assim como no filme “História de um Casamento” (2019), indicado a seis Oscars e disponível na Netflix, muita gente na vida real tem provado que é possível manter uma relação de amizade com alguém com quem já dividiu a intimidade. 

É o que aconteceu com o engenheiro João Batista Peixoto Guimarães, 76. Há 30 anos divorciado, hoje casado de novo, fez questão de unir as duas famílias. “Eu tive mais uma filha. A minha ex-mulher e a atual são amigas. Almoçamos, nos reunimos para beber juntos, passamos o Natal e até nas férias estamos unidos. Ter a minha família assim é muito importante para mim. A separação no nosso caso fez com que pudéssemos ser felizes de novo”, afirma o engenheiro, que recentemente viajou com a família para Porto de Galinhas. 

Quem vê de fora até pensa que foi fácil. Mas a decisão de se separar levou dez anos. “Muitos anos de terapia para me libertar dessa culpa e aceitar. Era uma mulher com quem eu passei a vida, tinha muito respeito por ela, tínhamos também nossos dois filhos. Mas eu entendi que a vida é curta, a gente não pode viver para sofrer, e eu estava me matando de infelicidade. O carinho e a consideração podem continuar”, garante Guimarães. 

“Acho que tem dado certo, acho que os nossos filhos nos amam, eu faço de tudo para que a Sônia (ex-mulher) seja muito feliz, porque nosso tempo aqui passa rápido. O que importa é estarmos juntos e o carinho que construímos”, desabafa.    

“Nos ensinam a casar, mas não a separar”, diz fundadora de site para divorciados

Apesar do aumento do número de divórcios nos últimos anos, separar-se ainda não é um processo tão simples. Pensando nisso, a marketeira Calila Matos, 38, lançou, no final do ano passado, o site Idivorciei, uma plataforma de conteúdos e serviços para pessoas separadas ou em vias de se separar.

Hoje, a plataforma tem o suporte de 28 especialistas e reúne diversos serviços para essa fase da vida. Segundo Calila, o site funciona como uma curadoria de serviços, informações e profissionais que podem ajudar pessoas separadas, como advogados que prestam assessoria jurídica e financeira, psicólogos, profissionais da área de bem-estar e beleza, corretoras de imóveis, palestrantes, sites de viagens e portais de relacionamento. O site também firma parceria com marcas para oferecer descontos em seus produtos para pessoas que estão reorganizando suas vidas devido ao divórcio.

“A sociedade ensina a gente a namorar, a casar, mas não ensina a gente a lidar com as dores do término”, afirma a paulistana, que se inspirou na própria experiência para montar o negócio.

“Passei por um divórcio há quatro anos. Tive que aprender tudo sozinha. Precisei buscar auxílio jurídico, aprender a lidar com esse sentimento de perda, então eu sei. É um momento que dói, é uma exaustão emocional, em que a gente se sente perdida. É muita coisa para resolver, tem o financeiro, tem os filhos, tem a dor emocional, tem a questão de reorganizar a vida de novo, procurar um lugar para morar, se descobrir sozinha. A minha ideia é oferecer um acolhimento, mostrar que você não está sozinha e facilitar esse processo”, diz a fundadora do site.

“Estar amparada, buscar os serviços certos ajuda a passar por esse momento com um pouco mais de conforto e calma”, completa.