Dia das Mães

Espetáculo 'Maternar' será apresentado neste domingo, online

Montagem da Cia Quatro Quartos integra a Mostra Arte na Maternidade, que também tem início agora


Publicado em 09 de maio de 2021 | 03:00
 
 
 
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Em 2018, a atriz e dramaturga Amanda Coimbra se descobriu grávida. "Foi uma gravidez inesperada, não planejada, e todo o processo foi muito rápido. Eu, como artista e mulher feminista, me encontrei em um lugar novo, com o qual eu sempre flertei. Porém, nunca tinha refletido profundamente sobre as implicações de 'ser mãe' - mais do que isso, ser uma mãe artista, no Brasil, e todos os desdobramentos disso, o que começou a fazer a minha cabeça girar", conta ela.  

Quando ganhou Elis, em setembro daquele ano, o país estava passando pelas eleições presidenciais de 2018. "O meu contexto pessoal se misturava com o momento político do país (mais do que nunca) e as reflexões começaram a ficar ainda mais complexas", relembra. Em meio a tudo isso, ela recebeu as fotos do parto. "E, em vez de revisitar os momentos que vivi, enxerguei potência cênica. Ali começou a borbulhar em mim um desejo de compartilhar a minha história, as minhas dúvidas, as minhas transformações e toda a mistura de loucura com alegria que é se tornar mãe".

Nascia, assim, o espetáculo "Maternar", da Cia Quatro Quartos, que será apresentado neste domingo, às 21h, dentro da programação de abertura da Mostra Arte na Maternidade. Com dramaturgia assinada pela própria Amanda, em parceria com Malu Falabella (que dirige a encenação), a peça traz, no elenco, Lígea Lana, Luísa de Paula, Bárbara Batitucci e Giovana Miranda. 

Voltando a origem da montagem, vale localizar que o processo, na verdade, se iniciou em 2019, e como TCC de Bacharelado em Interpretação Teatral na UFMG. "Começamos a pesquisa em fevereiro, reunindo e analisando materiais, em maio demos início aos trabalhos práticos no local escolhido para a estreia: o Centro Cultural Espaço Comum Luiz Estrela. As cenas foram se desenvolvendo dentro daquele casarão, até tudo ganhar forma em setembro. Estreamos com casa cheia no dia 13". Com entrada gratuita, o espetáculo teve lugares esgotados por três dias consecutivos." Terminamos a primeira temporada muito surpresas com a comoção causada e com o público pedindo mais", salienta Amanda. 

Dois meses depois, veio a oportunidade de voltar em cartaz com o espetáculo, dessa vez na Funarte - MG. Foi quando o grupo descobriu que a montagem estava sendo bastante comentada entre ativistas pela maternidade, mães e pessoas do meio teatral de BH. "Desde a estreia, recebemos diversos pedidos para fazermos rodas de conversas após o espetáculo, o público saía com vontade de compartilhar a própria história e saber mais sobre o nosso processo. Na segunda temporada, esses pedidos vieram com ainda mais força e nós começamos a nos dar conta da proporção da relevância temática do nosso trabalho", explica Amanda. 

Após o final dessa segunda rodada, a produção recebeu um convite muito especial: integrar a grade da 46º Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Belo Horizonte, que, no ano passado, promoveria uma mostra especial dentro da programação, com espetáculos de temáticas femininas. "Maternar", pois, foi convidado para integrar essa a mostra, abordando a maternidade. "Nessa terceira temporada tivemos a oportunidade de incluir duas rodas de conversa pós-espetáculo com mediação de Andréa Rodrigues e Polly do Amaral. A troca de experiências foi significativa e emocionante", pontua a atriz. 

A dramaturga e diretora Malu Falabella ressalta que, ao discorrer sobre o universo da maternidade e seus desdobramentos, a montagem conta com relatos, vídeos e fotos pessoais de Amanda sobre a gravidez, o parto e o período pós-parto; além de cartas simbólicas da atriz, entrevistas e canções. "Aborda temáticas diversas como: a ancestralidade; a conexão com o poder feminino; a invisibilidade da mulher-mãe e a visão social sobre essa mulher; a opressão e os julgamentos; o patriarcado e o machismo; e a maternidade real e consequentemente as dores e as alegrias inerentes a ela", acrescenta.

Para abordar tais temas, a direção adota uma estrutura épica: a narrativa da ação, a quebra da quarta parede, a comunicação direta com o público, o uso de outras linguagens como a projeção, etc. "A peça tem um caráter documental mesclado com uma performatividade coletiva imagética de corpo e voz que passeia por cenas ritualísticas, poéticas, críticas e cômicas", detalha Malu. O fio condutor é a narrativa autobiográfica. As cenas partem de um relato ou de uma visão pessoal de Amanda como protagonista, e, ainda assim, em diversos momentos abordam uma visão macro, sócio-política. "Todas as atrizes integrantes do elenco também têm seu lugar de fala e trazem seus depoimentos e reflexões para a cena", diz Malu. Não há personagens, as atrizes interpretam a si mesmas e por vezes ocupam o lugar da protagonista Amanda para ajudar a contar sua história. "Durante o espetáculo acompanhamos a historia de como Elis, filha de Amanda, veio ao mundo, mas vamos além. 'Maternar' é uma grande colcha de retalhos sobre a maternidade, a feminilidade e a mulher na sociedade, passeando por diversas temáticas fortes, revelando o íntimo e discutindo o amplo, dialogando, denunciando, sensibilizando e desconstruindo", finaliza a diretora.

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