Comportamento

Esqueça a ideia de que viajar sozinho é programa chato e para pessoas solitárias

Em viagens sem companhias, há um universo a ser descoberto, explorado e repensado, além de ser uma jornada de autoconhecimento


Publicado em 08 de novembro de 2022 | 06:44
 
 
 
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A administradora Gabi Cristina sempre gostou de viajar. É uma espécie de tradição da família: a cada ano eles escolhem um destino para passar alguns dias juntos longe do dia a dia de Belo Horizonte, da rotina que acaba atropelando planos e ideias, exceto a viagem que já acontece há uns bons anos. “Meu gosto por viajar começou aí”, conta Gabi.

O que é uma novidade recente, no entanto, é o fato de que ela passou a não depender dos pais para programar seus roteiros. Há quatro anos, a administradora fiz sua primeira viagem sozinha para um processo de autoconhecimento que envolveu terapia e coach.

A cidade escolhida para o que seria uma das grandes descobertas da vida dela foi Bombinhas, em Santa Catarina. “Eu já tinha ido com amigas da faculdade e isso ajudou com que tudo fosse mais fácil, já que eu tinha muito medo e era a primeira vez sozinha. Chegando ao aeroporto, aluguei um carro e me bateu um desespero. ‘O que estou fazendo da minha vida?”, pensei. Respirei fundo, acalmei meu coração e fui”, comenta.

Os nove dias em Bombinhas, segundo Gabi, foram libertadores e importantes para que ela desfizesse impressões equivocadas que ela tinha sobre si mesma. O gosto de viajar sem companhias virou uma espécie de hábito na pandemia, quando a administradora ficou em isolamento forçado pela Covid-19, trocou de emprego duas vezes e começou a repensar sua vida, principalmente com a possibilidade do home office.

“Conversando com uma colega de trabalho, vi que ela estava no Chile participando da reunião. Achei sensacional, e isso me abriu os olhos. Eu só precisava estar conectada, já que meu trabalho é remoto”, pontua.

De 2021 pra cá, Gabi Cristina já foi sozinha para diversos destinos turísticos no Brasil – Lençóis Maranhenses, Recife, Salvador, Ilha Grande, Pará, Foz do Iguaçu e Maceió são alguns deles –, mas também se aventurou em viagens internacionais. Gabi conheceu Puerto Natales, no Chile, e Buenos Aires e Ushuaia, na Argentina. Gabi não para. A cada 30 ou 60 dias, ela se organiza para estar em uma cidade diferente, sempre conciliando com o trabalho. De tanto viajar, ela criou o perfil @gabi.viajante no Instagram para compartilhar suas experiências.

A administradora se considera uma “nômade digital”. Atualmente, ela está em BH na casa dos pais, mas já planeja ir a São Paulo encontrar amigas e conhecer a Chapada dos Veadeiros, no interior de Goiás, também já está na agenda dela. Pesquisar sobre os locais desejados em sites, blogs e perfis nas redes sociais – saber sobre a segurança dos destinos é um item fundamental –, buscar opiniões e dicas de quem já passou por esses lugares, deixar de lado medos e receios e mergulhar de cabeça na experiência são algumas dicas de Gabi.

Para ela, viajar sozinha e autoconhecimento são duas palavras que andam juntas. A administradora diz que “todo mundo, pelo menos uma vez na vida, deveria viajar sozinho”: “É bonito ver a pessoa se descobrindo, começando uma vida nova. Cresci muito nesse tempo, descobri muito sobre mim. Eu me achava uma pessoa tímida e, definitivamente, não sou. Sou corajosa, antes me sentia frágil. Viajar sozinha me fez perceber o quanto eu valorizo a liberdade. Sou uma mulher jovem, saudável… Por que não viajar? Por que não fazer a trilha que eu sempre quis?”.

Se a pandemia foi o grande impulso para Gabi Cristina se descobrir uma grande viajante sola, o término de um longo relacionamento colocou a empresária carioca Renata Guedes frente a frente com a questão de não ter companhia imediata para viajar, já que nem sempre disponibilidade e preferência pelo destino batem com as escolhas e ritmos de vida de amigos ou familiares. De repente, Renata se viu sem companhia para viajar, lazer número 1 em sua vida.

Encarar uma “aventura” sozinha não foi a escolha da empresária, que buscou grupos de viagem para conhecer lugares que queria sem ter que passar o tempo sozinha. “Se estou nessa situação, quantas pessoas não devem estar também? Ainda existe muito preconceito com mulher viajando sozinha. Até em restaurantes e bares é assim”, ela ressalta. Em 2015, Renata fundou a Single Trips, empresa especializada em montar roteiros para pessoas solteiras ou que estão sem companhia para uma viagem.

O público alvo são as mulheres de diversas faixas etárias. Renata diz que “rapazes são bem-vindos, mas os clientes são, mesmo, 95% mulheres”. A Single Trips monta grupos de até 16 pessoas. Os destinos – nacionais e internacionais – são definidos pela própria agência, que também organiza o roteiro.

A empresa só recebe clientes que queiram viajar sozinhos, mas, ao organizar as pessoas em turmas, o objetivo é que elas interajam e criem laços para tornar a viagem um momento agradável. No site da Single Trips, onde se lê “somos o caminho para você que quer viajar sozinho(a), mas com companhia”, já é possível ver a agenda de viagens marcadas para o fim do ano e também para 2023.

Hoje, Renata Guedes está casada e sempre viaja com o marido. No entanto, pelas experiências em sua fase solteira e, já na Single Trips, quando ela acompanhava os grupos nos primeiros anos da empresa, ela tem certeza de que a pessoa tem muito a ganhar ao cair na estrada sozinha: “Viajar é sair da rotina do dia a dia. Cada viagem tem autoconhecimento, troca de experiências no grupo e, com isso, a pessoa começa a refletir. Não é porque está viajando sozinha que ela está mal, solitária”.

Cinco dicas para quem viaja sozinho

A empresária Renata Guedes elenca alguns pontos que considera importantes quando uma pessoa decide se aventurar sem companhias:

1. Defina sua viagem sempre com antecedência, pois, quanto mais cedo fechar, melhor será a tarifa do aéreo e mais chances terá de conseguir reservas na melhor hospedagem e atrações

2. Por mais que viaje sozinho, é melhor não estar sozinho, ou seja, procure ter alguma empresa que te dê segurança e que te dê mais confiança para se aventurar num novo destino

3. Contrate um seguro-viagem, pois é bom se planejar para possíveis imprevistos. Tendo um seguro, sua viagem será mais tranquila e estará mais preparada caso algo inesperado aconteça

4. Se permita viver novas experiências, pois viajar sozinho te permite tirar todas as armaduras do dia a dia e te possibilita descobrir outra versão de si mesma. Para isso, é importante se permitir conhecer outras culturas, conversas com pessoas e experimentar novos sabores

5. Não se limite pelo medo. Por mais que seja desafiador e sempre ter o famoso “e se acontecer …”, é importante focar a realização pessoal por ter feito algo sozinha. A sensação é indescritível. Por isso, mesmo que tenha medo, vá com medo mesmo e descobrirá, no final, que foi a melhor decisão que tomou em um bom tempo. O medo faz parte do processo, e é preciso fazer dele a sua motivação, e não uma barreira, pois o único medo que devemos ter é morrer com vários sonhos não realizados. Por isso, aproveite o hoje para realizar aqueles que pulsam forte o seu coração.

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