Cientistas da Universidade de Tecnologia de Eindhouven, na Holanda, e da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, publicaram um estudo, ainda em fase experimental, que abre um debate em relação à recomendação de autoridades sanitárias sobre o distanciamento entre pessoas durante a realização de corridas e caminhadas.
De acordo com a publicação, a distância de um metro e meio a dois metros, adotada pela maioria dos países, inclusive pelo Brasil, não seria suficiente para que um indivíduo, ao correr ou caminhar, não se contaminasse por microgotículas que contenham o vírus, já que este, ao longo dessas atividades, poderia se dispersar em um raio de até dez metros.
Médicos consultados pela reportagem acreditam que a publicação do estudo abre um debate importante sobre algo diretamente ligado à propagação do vírus. Segundo João Paulo de Santanna, médico especializado em medicina do esporte pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, o artigo traz uma questão clara, porém recheada de incertezas.
“Não é possível colocar como regra que basta a pessoa ficar a cinco metros de distância da outra, andando, e a dez metros de distância da outra, correndo, que não vai se infectar, pois esses números não levaram em consideração a direção do vento, interferência da umidade do ar e da temperatura, por exemplo. O que podemos dizer, com certeza, partindo do princípio de que a metodologia está correta, é que, para pessoas andando ou correndo, a orientação do distanciamento de um metro e meio não é suficiente para evitar a contaminação”, explicou Santanna.
Fábio Gaudenzi, médico infectologista e membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), segue a mesma linha de raciocínio de Santanna e afirma que ainda é preciso mais evidências para comprovar a veracidade da teoria, que serve, por enquanto, de alerta.
“As autoridades sanitárias devem repensar a orientação de distanciamento a partir do momento em que o estudo for comprovado. Contudo, existe uma plausibilidade biológica que já estimava que, através do aumento da frequência respiratória durante a prática do exercício, um indivíduo poderia dispersar gotículas infectadas com maiores chances de transmissão”, disse.
“Esse artigo serve como um alerta inicial para que as pessoas comecem a tomar medidas de distanciamento maiores, até que existam evidências necessárias que comprovem ou refutem esse estudo”, afirmou Gaudenzi.