A taróloga Amanda Guimarães relata que, desde criança, falava sozinha por um motivo: ensaiava com ela mesma o que responderia para as pessoas em situações hipotéticas. “Os professores já chamaram a minha mãe para perguntar se estava tudo bem. Agora, na vida adulta, uso como recurso o fone de ouvido e finjo que estou falando com alguém ao telefone para não parecer doida pra quem me vê”, relata ela. Aliás, “coisa de doido” é como é visto o hábito de falar sozinho, encarado com preconceito por quem observa.
Por outro lado, a pesquisadora Viviane Andrade tem consciência de quando está falando sozinha, mas consegue manter o hábito desde que ninguém esteja por perto. “Eu falo muito sozinha, mas sempre sozinha no ambiente, também porque falo em voz alta, tenho conversas longas, análises, brigas comigo mesma… E, como eu sou muito cheia de caras e bocas, jamais faço isso na rua. Só onde me sinto segura, que é quando estou sozinha”, disse.
Mas, se diálogos com o seu “eu interno” são algo frequente, saiba que você não está sozinho. A psicóloga e pesquisadora Renata Borja garante que a maioria das pessoas fala sozinha eventualmente. “É um pensar alto”, disse. Provavelmente, já deve ter sido flagrado em alguma dessas situações e só percebeu o diálogo quando foi interrompido por alguém te questionando. Ou percebeu que estava falando sem ninguém por perto, além de você, depois de um longo diálogo.
Renata Borja explica que esse tipo de comportamento acaba sendo estigmatizado porque existem alguns transtornos psicológicos e psiquiátricos, como a síndrome de Tourette e a esquizofrenia, que fazem com que as pessoas falem sozinha, e, assim, entendemos isso como problemático.
A boa notícia é que o monólogo pode ser até visto como normal dentro de limites, e falar o que pensamos pode ser uma saída benéfica para entender algum problema e nos organizar internamente. “Falar sozinho pode fazer você prestar mais atenção no tipo de pensamento ou até mesmo modificar pensamentos distorcidos”, disse a psicóloga. “É uma forma de verbalizar o pensamento, organizar afazeres ou o próprio pensamento em si. E acontece sem a gente perceber muito, mas não é um problema na maioria dos casos”, disse.
Ela alerta sobre o desconforto que o hábito pode gerar e explica que o ato de falar sozinho torna-se um problema quando perdemos o controle do ato. “Se isso estiver gerando alguma consequência negativa, algum prejuízo, isso realmente precisa ser avaliado”, disse em relação se for aparente a preocupação ou consciência do impacto desse comportamento convivendo com as pessoas que o cercam.
Hábito pode trazer segurança na área profissional
O ato de falar em voz alta pode trazer benefícios para nosso processo criativo. De acordo com Mônica Mafra, psicóloga na Imedato Consultas e Exames, de um ponto de vista profissional, falar sozinho e em voz alta pode organizar suas ideias, pois se trata de um exercício de autorregulação. “Ajuda a melhorar a memória, pode nos motivar, ajuda com nossa autocompreensão, melhorando nossa autoestima. Clareia as ideias, tornando-as mais compreensíveis e objetivas, o que pode facilitar a tomada de decisões”, explica.
A psicóloga ainda afirma que o hábito pode proporcionar segurança e confiança. “E, em muitos momentos, pode agir como uma forma de relaxamento, não há autojulgamento, os pensamentos se tornam livres”, destaca.