Uma nova forma de introduzir alimentos sólidos a partir dos seis meses de vida (seguindo orientação da Organização Mundial da Saúde, a OMS) está começando a fazer sucesso no país. Em vez da tradicional papinha ou mingau, a ideia é oferecer alimentos saudáveis, como frutas e legumes, em pedaços. O método vem do Reino Unido e é chamado de BLW (do inglês “Baby Led Weaning” ou “desmame guiado pelo bebê”).
 
Na prática, pais e mães deixam, sob supervisão, que o filho pegue, sozinho, alimentos como frutas e legumes com as mãos e coma no seu próprio tempo. Os alimentos que mais fazem sucesso entre os bebês são legumes (como cenoura e batata) cozidos e cortados em forma de palitos, brócolis, também cozido, frutas (como banana e melão) e carne desfiada.
 
Eles são oferecidos ao alcance do bebê, que decide quando, como e quais pedaços levar à boca. No entanto, isso só deve ser feito se ele já consegue sentar e segurar com firmeza, além de ter seu tempo de consumo respeitado (entre dez e 15 minutos). “São sinais do corpo de que o sistema digestivo já está preparado para receber alimentos sólidos”, explica a nutricionista Raquel Righi.
 
Há um mês, a psicóloga Natália Aguiar, 26, iniciou o BLW com a filha Jasmin, de 8 meses. A adaptação da pequena, segundo ela, foi rápida. “Desde a primeira vez, ela mostra entusiasmo com essa autonomia. Das quatro refeições diárias, pelo menos duas envolvem o BLW. E a Jasmin faz a festa quando tem frutas, principalmente melão e manga”, conta.
 
Comprovação. Recentemente, a segurança do BLW foi provada por pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que revisaram 13 estudos estrangeiros sobre o tema. Aparentemente, o método também apresenta benefícios em comparação com as formas tradicionais de introdução alimentar.
 
Um deles é o estímulo ao controle da fome (comer apenas por necessidade) e da saciedade (comer o suficiente para saciar a fome). “Acreditamos que esses fatores podem contribuir para que os bebês não apresentem quadro de sobrepeso cada vez mais cedo, já que o consumo de alimentos ultraprocessados é mínimo ou não existe”, afirma o nutricionista Felipe Silva Neves, pesquisador do Departamento de Nutrição do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF.
 
Outro benefício do BLW é incentivar o convívio familiar. O bebê fica próximo aos pais na mesa e pega alimentos diretamente do prato deles. “O bebê começa a se sentir parte do cotidiano familiar. Esse desenvolvimento de pertencimento é fundamental nessa fase”, analisa Neves.
 
Uma das primeiras adeptas brasileiras foi a jornalista Patrícia Lopes, 27, que praticou o método com as filhas Laura, 6, e Celina, 2. “Em 2012, havia apenas material em inglês. Apesar do desafio, minhas filhas se adaptaram muito bem, porque é um processo natural”, diz ela, que hoje é uma das maiores difusoras do BLW no país.
 
“Risco de engasgar é muito pequeno”

Não é perigoso engasgar?” Essa é uma das perguntas mais comuns para quem mostra interesse pelo método BLW. O mais frequente é que aconteça o chamado “reflexo de gag”, movimento que evita engasgos, comum no período em que os bebês estão se acostumando aos alimentos sólidos.

“A grande diferença é que o bebê não fica com a passagem de ar obstruída. Às vezes, ele pode se atrapalhar, mas consegue manejar o alimento e se adaptar rapidamente. E o risco de engasgar é muito pequeno. Se acontecer, só então é necessária a intervenção de um adulto”, esclarece a nutricionista Ana Souza.

Ela garante que, contanto que o bebê esteja sentado, ereto e mantenha controle sobre o que entra na sua boca, não existe risco aumentado de engasgar.

Como precaução, é importante que os pais não tentem ajudar a criança a comer, segurando o alimento em sua boca. “Se ela não consegue fazer isso sozinha, provavelmente não está pronta para lidar com aquele determinado item de forma segura”, orienta a nutricionista.

Aqui estão algumas dicas de como ter sucesso no método com seu bebê:

Esperar até que o bebê esteja pronto: Seu filho deve ser capaz de se sentar em uma cadeira alta sem ajuda, ter boa força no pescoço e ser capaz de mover a comida para a parte de trás de sua boca com os movimentos da mandíbula para cima e para baixo.

Continuar amamentando: “Desmamar o bebê” de vez é errôneo, já que o leite materno ou fórmula continuarão sendo as maiores fontes de nutrição do bebê até os 10 ou 12 meses de idade.

Manter-se participante: A autonomia do seu filho não impede que você participe do processo, principalmente supervisionando e vigiando.

Começar primeiro com alimentos macios: Frutos maduros, carne úmida e desfiada, cereais tufados e massas e vegetais cozidos são boas opções.

Preparação para facilitar a pegada da comida: Peças de tamanho substancial – cortadas em tiras longas e finas, em forma de moeda ou com um cortador de legumes – são mais fáceis de serem administradas pelo bebê.

Considerar a ingestão de nutrientes: Certifique-se de que há alimentos com ferro, zinco, proteína e gorduras saudáveis à disposição.

Preparar-se para bagunça: Você pode colocar um saco de lixo ou uma toalha de plástico onde o bebê sentar para facilitar a limpeza; substituir o babador do seu bebê por um avental de arte e fazer o equilíbrio entre os alimentos escolhidos, optando por aqueles que não confudem o bebê na alimentação.

Jantar juntos: É importante deixar a criança comer na mesa durante as refeições da família. Melhor ainda: dê ao seu bebê alguns dos mesmos ingredientes que compõem o seu prato.