Conhecida por enviar mensagens com imagens violentas e agressivas no WhatsApp, a polêmica personagem Momo ressurge, preocupando pais e outros responsáveis por crianças. Desta vez, o rosto assustador da boneca surgiu no meio de vídeos infantis no YouTube Kids ensinando, passo a passo, como as crianças devem fazer para se matar cortando os pulsos.
Por conta do alto risco da publicação, o Ministério Público da Bahia (MPBA) notificou o Google e o WhatsApp para que removam das redes sociais conteúdos que exibam imagens da boneca Momo. O prazo para a retirada terminou ontem. Caso a determinação não seja cumprida, as empresas podem ser responsabilizadas judicialmente.
O último registro de orientação suicida aconteceu no fim do mês passado. Em um relato postado na internet, uma pediatra norte-americana denunciou um desenho animado cuja transmissão era interrompida por um homem que também ensinava as crianças a cortar os pulsos.
A preocupação tem feito com que os pais repassem mensagens chamando atenção para o perigo dos vídeos. Até a socialite Kim Kardashian usou suas redes sociais para fazer um alerta às famílias e ao próprio YouTube. “Acabaram de me enviar isso a respeito do que está inserido no YouTube Kids. Por favor, monitorem o que seus filhos estão assistindo”, escreveu.
Quem também está alerta é a empresária Lorena Magalhães, 28, mãe de Miguel, 11, Maria Antônia, 7, José Mário, 5, e Francisco, 4. “Essa não é a primeira vez que tenho conhecimento desse tipo de conteúdo. É por isso que estou mais rígida com o acesso”, diz.
Lorena conta que as crianças só têm contato com o YouTube Kids às terças, quintas e fins de semana, com duração de duas horas no máximo. “Usamos a televisão da sala, porque, assim, eu e meu marido podemos ficar de olho. O acesso é feito com a nossa conta, ou seja, recebemos no celular notificações sobre os vídeos que elas assistem”, diz.
Riscos
Segundo a psicóloga Marcela Pires, um dos maiores perigos são os efeitos que determinados tipos de conteúdo podem causar nas crianças. “Muitas informações ali contidas entram no subconsciente e podem provocar diversos resultados negativos”, explica.
Ela alerta que os vídeos podem levar as crianças a ter pesadelos ou até mesmo encorajá-las a experimentar o que é mostrado, embora algumas sejam jovens demais para entender as consequências.
Segundo a neuropsicóloga Edinalva Borges, é importante que crianças tenham contato com a internet, mas esse uso deve ser feito com equilíbrio. “O filho precisa estar ciente do monitoramento dos pais, bem como dos riscos a que está exposto na internet”, sugere.
A psicóloga Marcela reforça a importância dessa vigilância. “A melhor forma de garantir o acesso infantil com segurança aos vídeos ainda é o acompanhamento constante de um adulto”, diz.
Hackers enganam conteúdo
O YouTube Kids é um aplicativo protegido, na teoria, por um algoritmo que só libera a visualização de conteúdos próprios para o público infantil. “Os hackers clonam um vídeo infantil e o editam, colocando, no meio dele, o conteúdo do seu interesse. Depois, fazem o upload na plataforma. Durante o carregamento, o algoritmo de segurança não identifica a parte maliciosa, que corresponde a uma porcentagem mínima de todo o vídeo”, diz Carlos Travagini, especialista em segurança da informação.
Para impedir brechas na segurança, o especialista em comportamento digital Thiago Valadares defende a atuação humana na execução do algoritmo. “O fator humano é insubstituível, porque apenas nós temos a capacidade de discernir um conteúdo malicioso de outro inofensivo”, pontua.
Em nota ao site da revista “Crescer”, o YouTube diz que não vê evidências da promoção do desafio da Momo no YouTube. O departamento de comunicação do YouTube Kids também nega que vídeos da personagem tenham furado o filtro de conteúdo infantil.