Escravos do dinheiro

Money Slave? Homens que têm fetiche em 'pagar contas' para mulheres

Conheça o fetiche em que homens ficam até sem comer para pagar contas e mimar suas dominadoras


Publicado em 06 de maio de 2019 | 15:06
 
 
 
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O universo dos fetiches sexuais não é novidade para ninguém, mas os meandros das parafilias (termo científico para as práticas) permanecem desconhecidos para a maioria das pessoas. Não é difícil conhecer quem gosta de sessões de sadomasoquismo ou pessoas que sentem fetiche por balões. Mas será que alguém conhece quem se excita ao pagar contas? Ou economizar o mês inteiro para bancar mimos para uma profissional por quem se tem afeto?  

O nome para essa prática específica é "money slave" ou "escravo de dinheiro", em tradução livre. Em síntese, é um fetiche que envolve a dominação financeira do cliente. São, muitas vezes, homens compromissados a pagar contas e ofertar mimos a mulheres dominadoras em troca de que as contratadas os humilhem. 

Os clientes se sentem felizes ao satisfazer os desejos de suas "rainhas" - palavra usada para designar dominadoras. Ao contrário do que pessoas mais conservadoras possam imaginar, essas relações não são pautadas pelo sexo e, em sua maioria, o contato acontece virtualmente.

Entre o turbilhão de publicações produzidas por usuários das redes sociais diariamente, a história do 'money slave' se destacou e acabou viralizando em alguns grupos e páginas voltadas para a produção humorística. 

Tudo aconteceu depois que uma publicação, feita em um grupo fechado do Facebook, vazou para internautas que não participavam dele. No post, um homem exibia orgulhosamente o boleto pago de uma conta telefônica no valor de R$ 35,99 para a dominadora a que ele serve. "Mais uma continha paga, dessa vez para a Rainha Elisa*, que é da minha cidade, o Rio, por sorte", comentou o autor. 

Minutos depois, usuários do Facebook já especulavam formas para entrar nos grupos específicos sobre 'money slave', no Brasil. Pouco mais de uma hora após o viral, o grupo oficial, com maior número de membros, ganhou o 'status' de secreto e, posteriormente, seu nome foi trocado para evitar a presença de curiosos. 

Longe do que possa parecer, acessar grupos em que escravos trocam juras de amor e são humilhados por dominadoras é uma tarefa hercúlea. Em quase todos eles, para entrar é preciso ser convidado por alguém que já o integra. Após alguns dias de busca, a reportagem teve acesso a dois grupos no Facebook, criados muito recentemente.

Em ambos há uma lista de regras a serem rigorosamente cumpridas para que os usuários garantam a permanência no espaço. Num deles, os moderadores deixam bastante claro que todos os escravos precisam comprovar pagamentos às rainhas. "Para permanecer no grupo, é necessário pelo menos um pagamento mensal, independente do valor", explica uma das regras.

Se chegar até o link correto para o grupo já é difícil, ter acesso a ele é ainda mais complicado. Os administradores de uma das páginas, que reúne mais de mil membros, só permite acesso aos interessados que responderem a três perguntas de forma considerada correta. "Qual a principal razão pela qual buscou este grupo?" e "você tem conhecimento da prática money slave ou qualquer outra relacionada a BDSM?" são duas das questões. 

Profissão: dominadora

Dominadora há sete anos, Rayssa Garcia, 32 anos, não é muito adepta do uso de grupos do Facebook para atrair novos escravos. "Participo de alguns grupos, mas prefiro não interagir. Não são os melhores meios para encontrar escravos, esses grupos viraram 'modinha' e hoje em dia só tem curiosos. O escravo que quer te servir, te encontra", comenta. Ela diz que prefere usar o Twitter e o Instagram, nesta rede a moça angariou mais de 14 mil seguidores. 

A história de Rayssa com o 'money slave' começou antes que ela soubesse ao certo qual o nome conferido à prática. Ela trabalhava em um escritório e às vésperas de sua saída para férias, seu chefe a perguntou se ela viajaria.

"Eu respondi que não porque estava sem dinheiro. Na hora ele respondeu que, se eu estivesse mandando ele pagar, ele daria a viagem. Não acreditei e disse que estava mandando. No dia seguinte, encontrei o dinheiro na minha mesa e um bilhete onde ele me agradecia por poder me presentear", conta.

Depois disso, ela começou a pesquisar sobre o assunto e descobriu o mundo do BDSM (a sigla refere-se, basicamente, a práticas sexuais que consistem em amarrar, dominar, sentir dor e provocar dor). 

Hoje, Rayssa participa de um grupo chamado A Confraria das Dommes, em São Paulo, onde várias dominadoras profissionais estão reunidas. Elas promovem, juntas, sessões, eventos, trocam experiências, fazem encontros secretos, jantares e festas em uma casa fetichista. 

Quanto o money slave, a dominadora tem entre sete e dez escravos fixos, que realizam pagamentos e a presenteiam rotineiramente. "Tenho também outros escravos esporádicos que vêm e vão. Normalmente, os submissos buscam ser humilhados e dominados psicologicamente a ponte de se entregarem e servirem financeiramente", explica. 

Profissional respeitada no meio, ela dedica parte de seus ganhos para divulgar seus perfis na internet e promover seu enriquecimento pessoal. "O investimento é mais voltado para minhas redes sociais e A Confraria das Dommes me ajuda a me destacar e encontrar meu escravos. Fora o tempo que me dedico aos escravos, como também à compra de roupas, saltos e lingeries", afirma. 

Histórias curiosas

Em um canal popular da internet chamado "Diário de uma Camgirl", a ex-BBB Clara Aguilar se dedica a contar suas experiências no mundo do BDSM e também relata histórias sobre slave money. Em um vídeo com pouco mais de cinco minutos e mais de 16 mil curtidas, publicado em 15 de janeiro, ela confidencia a seus espectadores tudo o que viveu com clientes de money slave. 

"Os clientes que eu tinha não me pediam nada em troca, eles gostavam de atenção. Eu colocava o preço mais altos. Tinha alguns pedidos mais toscos, alguns pediam coisas mais escatológicas. (...) Tinham pedidos maravilhosos, tipo um que pediu para eu ficar dormindo na câmera enquanto ele assistia. Eu ganhava dinheiro para dormir", conta. 

Clara é conhecida no mundo das 'camgirls'. O fenômeno constitui em mulheres que aparecem em vídeos ao vivo em sites específicos e recebem gorjetas de seus espectadores. Ela explica que, no money slave, muitas vezes além de pagar o valor normal, os clientes gostam de fidelizar o contato e acabam pagando valores além do combinado. "É um cliente que pode salvar o seu mês", afirma. 

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