Painel da ONU

Mudança climática já provoca falta de alimentos e de água

Um dos autores do estudo diz que dados ‘caem como uma luva’ na realidade brasileira


Publicado em 09 de agosto de 2019 | 06:00
 
 
 
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Como usar a terra de uma maneira mais eficiente e sustentável e, ao mesmo tempo, produzir biocombustíveis e comida para a população do nosso planeta, que não para de crescer e deve chegar a 10 bilhões até 2050? “Ou a gente descobre como fazer isso de forma sustentável ou esquece, estamos todos fritos”, resume Paulo Eduardo Artaxo Netto, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

Artaxo é um dos 108 pesquisadores de 52 países que assinam o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas órgão da ONU. O documento lista pesquisas sobre o uso da terra e suas causas e efeitos nas alterações do clima global. Pontos observados são a desertificação, a degradação do solo e seu uso sustentável, a segurança alimentar e as emissões de gases de efeito estufa em ecossistemas terretres.

“Enquanto os outros relatórios do IPCC tratavam apenas da redução da emissão por combustíveis fósseis, este é o primeiro que coloca a questão do uso da terra na agenda da política científica de mudanças climáticas globais”, explica o físico, para quem o documento deixa “claro que temos que frear o desmatamento das florestas tropicais, descobrir maneiras de produzir alimentos e carne com menor emissão de gases de efeito estufa e menor impacto ambiental, além de produzir biocombustíveis de maneira eficiente”. Na opinião de Artaxo, o relatório “caiu como uma luva” para o Brasil no momento em que se discute a alta no desmatamento da Amazônia.

“O Brasil pode olhar este relatório do IPCC como uma oportunidade para o agronegócio, pra produção de biocombustíveis e recomposição florestal. E sobretudo para mudar a atual visão negativa que está tendo internacionalmente como um total destruidor de floresta, que basta anunciar a taxa de desmatamento para causar uma crise institucional enorme”, disse.

Segundo o relatório, hoje o desmatamento corresponde a cerca de 10% das emissões de gás carbono no ar. O Brasil, diz o documento, perdeu 55,3 milhões de hectares de 1990 até 2010. E essa situação pode transformar a região amazônica, por exemplo, em uma potencial emissora de gás carbono, em vez de ser o tradicional ponto de absorção de CO2.

“O desmatamento pode ter efeitos cascata e maiores que os previstos. Por exemplo, se mais de 40% da floresta amazônica for desmatada, corremos o risco de passar de pontos irreversíveis que comprometeriam toda a sua extensão”, cita o relatório, que conclui que “projeções sugerem que o risco de ultrapassar esses limiares crescem com as temperturas elevadas”.

Alimentar uma população mundial crescente é um desafio cada vez maior, já que a produção de alimentos global deve cair 12% nos próximos anos com a degradação do solo. Além disso, 250 milhões de pessoas vivem em lugares com processo de desertificação.

No Brasil, estresse hídrico deve atingir 74 milhões de pessoas

Cerca de 40% do território nacional apresenta níveis de ameaça aos corpos hídricos de moderado a elevado. É o que mostra um relatório divulgado pelo Painel Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. 

A seca recente que afetou as regiões Sudeste e Centro-Oeste, por exemplo, provocou uma perda de cerca de R$ 20 bilhões na receita agrícola, queda de 7% em relação ao ano anterior. Para o futuro, se não houver investimentos em infraestrutura, faltará água para 74 milhões de pessoas até 2035, com impacto em vários setores, em especial a indústria, que pode sofrer 84% das perdas econômicas previstas. 

O trabalho mostra que as principais ameaças às águas no país são as mudanças climáticas, as mudanças no uso do solo, a fragmentação de ecossistemas e a poluição. 

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