A humanidade, a fé, a religiosidade e o sagrado permeiam não só as telas, mas também a trajetória de vida do paulistano Carlos Alberto de Araújo Filho, 69, pintor, desenhista e litógrafo, que já expôs em diversos centros de arte nacionais e internacionais e é um dos principais nomes da arte contemporânea.

Ele iniciou, há 15 anos, um projeto ousado: pintar 900 telas retratando passagens de toda a Bíblia. Os quadros foram reproduzidos no livro “Bíblia: Citações”, com versão ecumênica do texto sagrado em edição de 685 páginas.

A obra agradou ao papa Bento XVI a ponto de fazê-lo escrever um prefácio para a primeira edição, que foi lançada em 2007, na Bienal de Arte Contemporânea de Florença, na Itália. Cada Bíblia vem com uma gravura feita pelo artista especialmente para a edição.

Araújo começou a pintar aos 13 anos. Seu primeiro livro tinha trabalhos desenvolvidos entre 13 e 34 anos e abordava a desigualdade social. “Viajei pelo Brasil, onde presenciei a opressão do homem pelo homem. Paradoxalmente, foi desconcertante perceber sorrisos de felicidade plena onde havia também uma degradante escassez material. Encontrei sorrisos plenos e inigualáveis, que em meu meio desconhecia. O livro foi publicado em Paris e mostrava o homem do Brasil na dicotomia nas suas condições de vida”, relembra.

Esse foi o começo de uma árdua, porém necessária, reflexão. Foi um divisor de águas na obra de Araújo. “Deus me permitiu, de certa forma, ver minha imagem espiritual no espelho, não da maneira que eu imaginava ser, mas bem mais próxima da verdade. Vulnerabilidade e transformação dividiram as águas de minha existência, e, a partir de então, comecei a pintar a Bíblia, que, por sinal, sempre esteve ao meu lado nas cabeceiras de todas as camas do Brasil”, comenta.

O artista acredita que todas as histórias de transformação são muito parecidas. “Elas começam a partir da bênção do Senhor nos chamando para sermos instrumentos e, como tal, nEle desaparecermos”, reflete.

A partir daquele momento, o artista criou 2.000 obras relatando passagens bíblicas, que culminaram na publicação do livro “Bíblia: Citações”. Depois, aos 30 anos, ele pintou o painel “Anunciação”, que foi enviado ao Vaticano por ocasião da beatificação do padre Anchieta.

“Nessa obra minha intenção foi tentar, por meio da imagem, transmitir a Palavra e me transformar em um instrumento do Senhor e ajudar meus irmãos a sentir a sensação de plenitude e felicidade de estarem mais próximos do Criador. Nada no mundo das ilusões se compara a esse estado de espírito”, define o artista.

Pinturas impactam pela leveza

As pinturas de Carlos Araújo assumem um tom metafísico. Para o artista plástico e curador da mostra, Diego Mendonça, “apreciar uma obra de Carlos Araújo é mergulhar em um mundo pictórico recheado de fé”. “Suas manchas são agraciadas com retalhos de formas humanas e fazem o espectador perder o fôlego. Com camadas brutais de tintas ou com a delicadeza das silhuetas, o conjunto traz um resultado que mais parece uma sinfonia de cores totalmente agradável ao olhar e ao coração”, diz Mendonça.

SERVIÇO

A exposição de Carlos Araújo permanece até o próximo dia 12, no Centro Cultural Sesiminas Yves Alves, na rua Direita, 168, em Tiradentes.