Estimar o número de plantas existentes na Terra pode ser tão complexo quanto calcular a quantidade de estrelas no céu. No entanto, agora, um grupo de cientistas chegou a uma estimativa com base em mais de 66 milhões de registros e concluiu que há cerca de 435 mil espécies no mundo. E mais: 36,5% (158,5 mil) delas são raras e estão ameaçadas de desaparecer devido a mudanças climáticas.
No Brasil, a Mata Atlântica e o Cerrado são algumas das regiões que mais apresentam esse tipo de plantas, e as duas têm um histórico de devastação – a Mata Atlântica tem cerca de 88% de área degradada, enquanto o Cerrado tem aproximadamente 46%. São exemplos de áreas cuja biodiversidade pode sofrer ainda mais caso as emissões de gases de efeito estufa mantenham o nível atual, de acordo com um estudo inédito publicado no final de novembro.
“Boa parte das áreas com muitas espécies raras é de regiões que sofrem muita pressão da ação humana e próximas aos grandes centros”, diz o biólogo Danilo Neves, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos autores da pesquisa, que reuniu estudiosos de todos os continentes.
Segundo o levantamento, justamente as áreas que mais concentram espécies raras estão 1,2 vezes mais suscetíveis a sofrer impactos das mudanças climáticas do que as demais. Isso porque, historicamente, elas apresentaram climas mais estáveis que o restante do planeta, mas agora vão enfrentar tantas mudanças quanto as demais regiões. Na lista de locais ricos em espécies raras (e ameaçados pelas mudanças climáticas), destacam-se o Sudeste Asiático e os Andes da América do Sul.
Não coincidemente, a pesquisa foi publicada em uma edição especial do periódico “Science Advances”, às vésperas da edição de 2019 da 25ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 25). “A ideia era ter essa congruência e colocar o assunto na pauta de discussão”, afirma Neves.
Raridade
Uma das surpresas do estudo foi a quantidade de plantas raras existentes, muito maior do que o esperado. Na categoria, entram as espécies que foram catalogadas por pesquisadores em menos de cinco ocasiões no mundo ao longo do tempo. Entre elas, estão as extremamente raras, aquelas registradas até três vezes – elas são uma em cada três espécies.
O número de tipos raros pode ser ainda maior, já que áreas como a Amazônia brasileira são menos conhecidas. “Boa parte das informações do Brasil é pouco coletada e é principalmente em locais próximos de grandes centros de pesquisa e universidades”, diz Neves.
Em Minas, ele ressalta a presença de espécies raras em áreas de campos rupestres (vegetação rasteira do alto de serras) presente na Serra do Cipó e na Serra do Gandarela, por exemplo. Um dos tipos incomuns é a Anthurium cipoense, um tipo de antúrio, da família do copo-de-leite, que só foi registrada nesses dois pontos, explica Neves.
Na UFMG
Parte dos registros utilizados pelo estudo vêm do herbário da UFMG, espaço que reúne amostras de plantas e que, neste ano, completou 50 anos.