Já passou pela cabeça de muitos filhos que a mãe, em algum momento, exagerou na proteção. Um cuidado a mais aqui, uma proibição ali, e pronto: reclamações, “você não me entende e não me deixa fazer nada sozinho” de um lado, “faço isso porque te amo” do outro.

Cenas assim podem ser relativamente comuns em alguns lares. No entanto, a situação, em determinados casos, vira superproteção. Como lidar com isso? Quais são os efeitos para as mães e para os filhos? Existem vantagens e desvantagens nesse tipo de relação?

Na opinião de muitas mães, os benefícios são diversos e se relacionam a preservar os pequenos – e até mesmo os grandões – do sofrimento. No entanto, conforme ressalta Maria da Consolação Oliveira, professora de psicologia no Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), as coisas não são bem por aí.

“Muitas vezes, as mães impedem que a criança entre em contato com a frustração. No entanto, esse sentimento é necessário. Ele nos permite atingir os nossos limites. A criança superprotegida pode começar a achar que ela não é boa o suficiente e que sempre vai precisar que a mãe faça as coisas por ela, de uma forma ‘perfeita’”, ressalta.

À medida que os anos passam, o quadro pode piorar. “Quando os pais mandam os filhos irem à luta, isso passa a não ter significado para eles, pois não se sentem preparados. É preciso que a pessoa reconheça, desde cedo, que ela vai cometer erros e que eles podem se transformar em acertos”, afirma.

Criação de vínculos

Para muitas mulheres, o ato de proteger é capaz de proporcionar uma educação diferenciada. Adriana Duarte, de 37 anos, é mãe de Pedro, de 19 anos, e de Miguel, de 12 anos.

Ela conta que se comporta com o filho mais novo da mesma forma que era com o mais velho. “Mando tomar banho, pego a roupa que ele vai vestir, coloco comida no prato. Se saio de casa e eles ficam sozinhos, depois de meia hora ligo para saber se estão bem, se alimentaram direitinho”, relata.

Para ela, com isso, bons vínculos são criados. “Os meninos são muito educados; chegam nos lugares e todo mundo gosta deles. Na infância, podem até achar ruim a proteção, mas no futuro o resultado é positivo”, diz.

Adriana se define como uma “mãe babona”. Para ela, é importante curtir os filhos enquanto isso é possível. “O mundo, atualmente, está bem complicado. É bom estarmos por perto o máximo que pudermos. Acredito que muitos pais querem fazer o mesmo que eu, mas não têm condições, infelizmente”, opina.

Equilíbrio é importante

Encontrar o meio-termo nesse tipo de relação é importante. Walkiria Andreia, de 43 anos, diz que ela e a filha, Dani Costa, de 12 anos, conversam muito. Isso não impede, porém, que, por vezes, a mãe tenha atitudes bem protetoras.

“Eu sempre filtro o que acho que não é bom para ela e acabo privando-a de muitas coisas. Não permito, por exemplo, que ela use as redes sociais sozinha. Não deixo que ela faça comida, pois pode se machucar. Não deixo que ela atravesse as ruas sem alguém por perto. Moro em um prédio e não permito que ela vá para baixo sozinha”, relata. “Eu prefiro ‘pecar pelo excesso’ do que acontecer algo e eu me culpar para o resto da vida”, diz.

Walkiria, porém, tenta buscar o equilíbrio. Ela diz que a filha, às vezes, tem atitudes de pessoa ‘mimada’, mas a mãe conversa muito com ela. “Mostro que ela não é o centro das atenções, que nem tudo pode ter ou fazer”, destaca.

Proteção x superproteção

Uma dúvida costuma surgir de maneira recorrente quando se trata dos cuidados maternais. Afinal de contas, quando a proteção se transforma em algo exagerado?

“É diferente o ato de proteger e superproteger. Na superproteção existe a desqualificação do superprotegido seguido de incredibilidade em relação à sua habilidade de resolução de problemas. Na proteção a mensagem é clara: ‘conte comigo quando precisar. Você não está sozinho. Estou do seu lado, mas acredito que você em breve também será capaz de resolver isso por seus próprios meios’. Essa atitude empodera o outro, fazendo-o acreditar mais em si mesmo, ao contrário da superproteção, que o desqualifica”, explica Patrícia Eliane de Melo, psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (Puc Minas).