Campinas. A máquina mais cara e sofisticada da ciência brasileira começou a testar suas turbinas. Feixes de elétrons já circulam por parte da estrutura do Sirius, acelerador de partículas que vem sendo construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).

O projeto já consumiu cerca de R$ 1,3 bilhão (de um total previsto de R$ 1,8 bilhão). Quando ficar pronto, o Sirius colocará o país na vanguarda das pesquisas que usam esse tipo de artefato, como as que envolvem a visualização em altíssima resolução de estruturas de vírus e proteínas (em busca de novas vacinas), de solo (com a ideia de aprimorar fertilizantes) e de rochas, de novos materiais (para melhorar a exploração de gás e petróleo), entre outras.

Atualmente há apenas um laboratório da quarta geração de luz síncrotron operando no mundo: o MAX-IV, na Suécia. O Sirius foi projetado para ter o maior brilho do mundo entre as fontes com sua faixa de energia.

Quando estiver em atividade – substituindo a atual fonte de luz usada no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) –, estima-se que uma pesquisa que atualmente é feita em 10 horas nos equipamentos mais avançados do mundo poderá ser concluída em 10 segundos.

Nesta quarta-feira (14), uma cerimônia celebrou em Campinas a entrega do prédio de 68 mil m² (equivalente à área de um estádio de futebol) que abrigará a mastodôntica infraestrutura do Sirius, além da conclusão da montagem de dois de seus três aceleradores. “Sempre se diz que o Brasil é o país do futuro. Face a esse projeto, pode-se dizer que o futuro já chegou ao nosso país. Essa máquina é motivo de orgulho. Ela engrandece a ciência nacional”, disse o presidente Michel Temer durante a cerimônia.

Também estiveram presentes no evento o ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, o ministro da Educação, Rossieli Soares, o diretor do projeto Sirius e diretor geral do CNPEM, Antônio José Roque, e o presidente do Conselho de Administração do CNPEM, Rogério Cezar de Cerqueira Leite. “Trata-se de um projeto estruturante da ciência nacional, disse o diretor geral do CNPEM. “Ele leva à formação de recursos humanos, ao engajamento de médias e pequenas empresas nacionais, favorece a internacionalização da nossa pesquisa”, finalizou.

Autoestima

Participação nacional. Um dos pontos destacados pelos presentes foi a participação de empresas brasileiras na construção do Sirius. Cerca de 80% dos componentes têm origem no país.

 

Primeiros estudos são previstos para fim de 2019

Campinas. A próxima fase é delicada: a criação de um vácuo próximo ao existente no espaço dentro dos túneis percorridos pelos elétrons. Só aí o terceiro acelerador poderá entrar em ação. As partes do Sirius têm que ser ligadas e calibradas uma de cada vez. Sem isso, há risco de danificação de componentes eletrônicos sensíveis, e todo o potencial da construção, que tem precisão milimétrica inclusive no nível do solo, pode não ser explorado. Só então entrará em operação a primeira linha de luz – estação experimental que usa radiação gerada pelo acelerador para conduzir os experimentos. Prevê-se que as primeiras pesquisas ocorram no segundo semestre de 2019. O projeto final, com 13 linhas de luz (a capacidade total é de 40), deve ficar pronto somente em 2021 e ainda depende da liberação de R$ 500 milhões.