Semana de Design de Milão aponta tendências para replicar mundo afora

Meca. Essa poderia ser a palavra apropriada para definir o que Milão representa para o mundo da arquitetura e do design a cada edição da Semana de Design, que neste ano foi encerrada no último dia 14. O Brasil esteve oficialmente presente por meio da “Essentially Diverse”, mostra organizada pela Apex, agência ligada ao Ministério das Relações Exteriores e que ocupou o Museo della Permanente. Não bastasse, vários profissionais daqui cruzaram o Atlântico para conferir de perto tendências que serão replicadas mundo afora. 

De tudo o que viu, o arquiteto mineiro Junior Piacesi destaca a presença dos tons ligados à natureza, como marrom e verde – sobretudo esse. A arquiteta Gislene Lopes, habituée de Milão, adiciona: “Vi muito cinza, azulado, cinza-esverdeado, tons de azul... Mas o que mais prevaleceu foi a gama dos terrosos”.

“A natureza foi inspiração para as principais marcas”, corrobora a designer Daiane Antinolfi. A arquiteta Karina Korn, por sua vez, ressalta uma das instalações da marca italiana Moroso, “na qual o que predomina é o clima do campo dentro de casa, alinhado à tendência de reconexão com o orgânico”. 

A arquiteta Vivian Coser enaltece as cores vibrantes das marcas italianas Cassina e Paola Lenti. “Deram um show na curadoria das texturas e materiais como resinas coloridas e acabamentos com conceitos de superfícies venezianos”. Detalhe: a Paola Lenti também arrancou elogios do mineiro Piacesi. Voltando a Vivian Coser, a arquiteta também cita as materiotecas, que, diz, trouxeram “uma infinidade de soluções tecnológicas tanto na arquitetura quanto no design, onde os polímeros ganham muita força nas soluções sustentáveis e inovadoras”</CW>.

Vivian também cita o acabamento/polimento das pedras. “Impecável. Fiquei muito feliz ao constatar o valor que elas estão ganhando no mercado do design”, comenta.

A arquiteta Cris Paola se apaixonou pela coleção da Adal e seu mobiliário japonês feito de Igusa, mesmo material usado para fazer tatames. A linha foi pensada para respeitar a natureza. “Amei o layout das peças, que traduzem a tradição e a natureza japonesa”, diz ela. Danielle Dantas e Paula Passos, da Dantas & Passos Arquitetura, se encantaram com a explosão de cores e as estampas impactantes dos papéis de parede da Gucci. 

E já que estamos falando em grandes grifes e cores, vale ressaltar a aposta da Missoni. Em cena, peças da jovem artista italiana Alessandra Roveda, cujo trabalho conquistou Angela Missoni, uma das herdeiras da marca.

Sustentabilidade. Em Milão, o uso de materiais de origem natural levou dois dos três prêmios do Salone Satellite, certame que reúne designers de até 35 anos (nessa edição, foram 550 selecionados). O primeiro lugar foi para o japonês Kuli-Kuli, com seus objetos de couro (como carteiras) feitos com pele da raça bovina wagyu, criada em Kobe. O trunfo: a carne kobe beef, está em alta no mercado, mas o couro do animal costuma ser descartado.

Já o segundo lugar foi para o alemão Philipp Hainke, autor da cadeira Halo, com assento e encosto feitos a partir do cânhamo, planta da espécie Cannabis sativa, a mesma da maconha. O material é um composto de fibra (parte externa), lascas (miolo) e cola de caseína e calcário.

E teve mais: o espanhol Jaime Hayon mostrou uma tapeçaria multicolorida feita com fio de poliéster gerado a partir da reciclagem de garrafas PET, em parceria coma marca têxtil Bonotto, do grupo Ermenegildo Zegna.

No mais, Milão refletiu o cerco ao plástico que a União Europeia vem promovendo: em março, o Parlamento Europeu aprovou o veto de descartáveis (copos, pratos e talheres) a partir de 2021 e a obrigatoriedade de as garrafinhas terem 25% de material reciclado em sua composição até 2025, percentual que subirá para 30% cinco anos depois. (Com agências)