A adrenalina causada pelo desconhecido é um dos motivos que fazem com que o bailarino Filipi Augusto Miranda, de 32 anos, prefira fazer sexo com homens que ele não conhece. “Gosto da sensação que isso provoca”, confessa ele. Muito comum nas relações sexuais casuais – ou nos chamados “one night stands” –, a prática pode ir muito além do fetiche pela aventura ou pelo desconhecido e ser motivada também outras razões.
No caso do próprio bailarino, além da atmosfera excitante da situação, ele conta que opta pelo sexo com pessoas que não conhece também porque não deseja iniciar um relacionamento. “Tenho preguiça de me envolver, porque não gosto de dar satisfação a ninguém. Escolhi essa vida de transar com estranhos por causa disso, eu não quero compromisso”, pontua.
A situação não é muito diferente com o economista Henrique C., 29. Mas, no caso dele, a opção por esse tipo de encontro ocorre principalmente pela praticidade e pela falta de burocracia que envolve a prática. “Quando se está a fim de encontrar alguém e conseguir desembolar em pouco tempo um encontro sexual, seja por meio de algum aplicativo, seja indo até uma sauna, ter relações com desconhecidos acaba sendo algo mais prático e rápido”, afirma.
Mas nem sempre foi assim. As relações sexuais com pessoas que não o conheciam – e que ele também não conhecia – já foram uma forma de experimentação para ele, principalmente no início de sua vida sexual. “Eu tinha dúvidas em relação à minha sexualidade, muito relacionadas ao preconceito e à homofobia. Então, transar com alguém que não soubesse quem eu era parecia uma alternativa melhor do que transar com alguém que eu já conhecesse. Estando com um conhecido, outras pessoas poderiam acabar sabendo e poderia ser um transtorno pra mim. Eu ainda pensava, de forma bastante equivocada, que, apesar do desejo, eu poderia não ser gay”, recorda.
Quais cuidados devem ser tomados ao optar pelo sexo com desconhecidos?
A sexóloga Enylda Motta ressalta que, embora a prática seja saudável em muitos casos, certos cuidados devem ser tomados. “Fazer sexo com desconhecidos tem o lado da adrenalina, do desafio. Mas é importante pensar nos cuidados para ter nesse momento, como o uso de camisinha, a escolha de um lugar seguro, uma vez que você não sabe como a pessoa é sexualmente”, explica. Ela orienta ainda que outras formas de segurança também sejam pensadas, como deixar um contato avisando sobre onde você está indo.
Independentemente das fantasias que o outro queira realizar, é importante também que o sexo aconteça com consentimento. “Sabemos que o sexo deve ser prazeroso, e nunca obrigatório”, reitera.
Para evitar surpresas desagradáveis e se prevenir contra doenças, o bailarino Filipi Miranda destaca que nunca abre mão de usar camisinha. “Procuro sempre por um local seguro e há também a troca de WhatsApp. Sempre há uma conversa antes, troca de fotos”, explica.
O economista Henrique C. reforça o coro, lembrando que o uso de preservativo é o método mais eficaz para prevenir as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). “Uma boa notícia também é que, há alguns anos, tem-se popularizado o uso da PreP (profilaxia pré-exposição), que é uma medicação em um comprimido diário que protege, com mais de 99% de eficácia, a infecção pelo vírus HIV. E ela está disponível de forma gratuita através do SUS, mas também na rede privada a um preço razoável”, explica. “A questão é que, no sexo sem camisinha com quem toma PreP ou com quem tem a HIV, mas é indetectável, é seguro apenas em relação ao vírus HIV, e existem outras ISTs”, ressalta ele, citando infecções como a sífilis, a gonorreia e a candidíase. Daí a importância de se usar camisinha.
Mas, no caso de infecção por essas doenças, há tratamento e cura, além de vacinas que podem prevenir algumas delas, como as hepatites A e B e o HPV, que possuem imunização disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). O economista orienta que as pessoas com a vida sexual ativa mantenham seus testes em dia. “Caso algo apareça alterado, é fundamental avisar a todos os parceiros com os quais teve contato para que se tratem, mitigando riscos de que essas doenças evoluam ou mesmo que haja surtos”, conta.
Saúde mental
Segundo Enylda, vale ainda prestar atenção nos motivos que fazem com que as pessoas optem pelo sexo com desconhecidos. Ela explica que vale avaliar se a relação sexual está acontecendo apenas com parceiros ou parceiras que as pessoas não conhecem. “É importante perceber se esse é um comportamento frequente ou não”, explica. Uma frequência muito alta, por exemplo, pode indicar vício. “Tem também a questão de criar vínculos, se há uma dificuldade, e isso deve ser tratado em terapia”, alerta.
Anonimato total pode ser mais arriscado
Henrique conta que sempre teve sorte em suas relações sexuais com desconhecidos, mas conhece pessoas que já tiveram encontros que deram muito errado. “Tenho amigos que já marcaram encontros por aplicativos ou levaram desconhecidos da balada para casa e foram drogados, sofreram ameaças ou foram assaltados”, conta. “Acho que, quanto maior o anonimato na situação, maior a chance de dar algo errado. Em aplicativos, por exemplo, existem muitos perfis falsos que usam fotos de outras pessoas e fazem o que é chamado de ‘catfishing’”, pontua.
Filtros excessivos em fotografias ou fotos mais antigas também podem enganar. “Já me aconteceu de encontrar uma pessoa completamente diferente das fotos ou com fotos muitos efeitos de Instagram ou Photoshop, e isso é algo desagradável. Também já me aconteceu de usarem fotos minhas pra atrair outras pessoas, e isso é mais desagradável ainda, mas nem se compara a outros tipos de crimes que são suscetíveis nesse contexto”, afirma.
O bailarino Filipi, por exemplo, conta que já saiu com um homem que o agrediu. “Ele torcia para um time e queria transar comigo usando uma camisa do time rival. Esse dia foi muito frustrante como ser humano, por ele me bateu muito, rasgou a camisa e fez um espetáculo”, lembra ele.