O prefeito de São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), Raimundo Nonato de Barcelos, mais conhecido como Nozinho, é o entrevistado de hoje na Temporada Minas S/A Desenvolvimento e Construção em todas as plataformas de O Tempo.

Com 12.500 habitantes, São Gonçalo do Rio Abaixo, a cerca de 87 km de Belo Horizonte, tem na mineração a maior arrecadação por conta da Mina de Brucutu, que pertence à mineradora Vale e que já chegou a produzir 32 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. 

“O orçamento anual da prefeitura é de R$ 460 milhões. A mineração representa mais de 90% desse montante”, calcula Nozinho. O prefeito informou que as obras na mina, uma das mais importantes para a produção da Vale no país, já começaram como a estrutura para operar com o empilhamento a seco de rejeitos. Com o pedido de licença, a capacidade de produção da Mina de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo, poderá chegar a 70 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, informa Nozinho.

“É uma mina que tem toda a estrutura para aumentar a produção e o mercado de minério está sempre comprador, eu acredito que eles vão passar a produzir muito mais assim que ficar pronta a estrutura que eles vão estar fazendo lá”, observa o prefeito. A obra na Mina de Brucutu deve ficar pronta em 2028, 2029. “Então em 2029 eles vão estar com a produção aumentada”, comemora Nozinho.

A seguir, a entrevista com Nozinho: 

HL: Prefeito, conta um pouquinho para a gente, você já foi Deputado Estadual em Minas Gerais, está no seu segundo mandato na prefeitura, dessa segunda vez, porque você já foi prefeito também, né? Um outro mandato lá em São Gonçalo do Rio Abaixo.  


RN: Se for contar, mandato, estamos no quarto mandato.  


HL: Nossa, é muita experiência, já viu muita coisa, já viu o Estado em vários estados, digamos assim, Minas Gerais em vários momentos, também teve a oportunidade de estar no Legislativo, na Assembleia Legislativa, né. São quantos anos na política, prefeito? Há muito tempo, hein? 


RN Bastante. Se contar o tempo de vereador, eu fui vereador por dois mandatos, então já vai um... Está na hora de aposentar. 


HL: Ah, que isso? Você tem quantos anos? 


RN: Estou com 72. 


HL: Tem muita contribuição ainda para a cidade, para o país, né? E no PDT, você já está há um tempo, como está essa relação no partido? 


RN: Estou lá desde 1992, nunca mudei de Partido.


HL: Então também já é um dos decanos do Partido, já é histórico.


RN: E em São Gonçalo já tem, acho que fizemos seis mandatos, porque o meu é o quarto e o que me antecedeu fez dois mandatos.  


HL: Também você fez o sucessor, não é? Então, assim, a cidade tem caminhado com um projeto idealizado por vocês, sem descontinuidade. 


RN: Não vou dizer que foi 100%, mas aquilo que foi estabelecido, que estava fazendo parte de um projeto com educação, desenvolvimento do município, continuou.  


HL: Me conta um pouquinho, como está hoje o município? É um município pequeno, da Região Metropolitana, ele está com quantos habitantes? Qual é a última atualização do IBGE?


RN: A última atualização do IBGE é 12.500, mas tem mais. Tem muito mais, porque tem uma população flutuante que mora lá, que vai trabalhar lá todos os dias também.  


HL: Vai e volta, né? Vai, trabalha e volta para sua cidade.  


RN: Grande parte fica lá, morando lá em casa alugada, kitnet. 


HL: E a cidade tem um grande desafio por conta da economia dela, é uma cidade com uma economia diversificada, mas eu considero que tem um bônus aí à frente de várias outras cidades que têm um orçamento altamente desafiador por não ter uma economia diversificada, porque São Gonçalo do Rio Abaixo, gente, tem a mina Brucutu da Vale, que recentemente a gente viu uma entrevista do novo presidente da Vale, Gustavo Pimenta, que é mineiro, de Divinópolis, dizendo que Brucutu é uma das minas onde a Vale tem uma das suas maiores apostas no país, além do Pará, e que está muito moderna, com um investimento altíssimo, para expandir a sua produção. E aí, prefeito, como tem sido esse relacionamento com a Vale?  


RN: O relacionamento com a Vale, eu não vou falar com você que ele é ruim, ele é bom. A mineração tem as demandas dela, que os municípios às vezes tem que discutir, tem que colocar na mesa para estar conversando, a gente sempre chega num consenso que a mineração também é necessária, não podemos falar que não precisa de mineração. 


HL: Em tudo tem minério. A gente quer usar o telefone celular, tem minério nele.  Acho que não dá mais para vilanizar, né?  


RN: Ninguém está ali contra a mineração. A gente precisa ter uma mineração responsável, sustentável, porque o minério um dia vai se exaurir e precisa deixar a cidade organizada, bem estruturada, para não passar o que gente vê muito aí por aí, aonde minera está exaurindo e as cidades estão com dificuldade de continuar a vida das pessoas, porque precisa de emprego, precisa de renda, não é isso? 


HL: E a cidade teve um bônus com a mineração e depois não aproveitou isso, ficou investindo em outras coisas e aquele dinheiro da arrecadação agora algumas cidades correm contra o tempo, não é? Porque o mineiro acaba, realmente, por mais que você vai minerando cada vez mais fundo, chega um momento que a terra, olha, agora não tem mais não, hein gente? 


RN: Eu falo que ele não dá duas safras, mas se você souber aplicar bem os recursos com planejamento, com inteligência, para atrair negócios, mais empresas, você vai colher a segunda safra agora. 


HL: É verdade. Há quanto tempo já que tem Brucutu lá em São Gonçalo do Rio Abaixo, prefeito? 


RN: Ela foi inaugurada em 2007.  


HL: Em 2007. Estamos aí há quase 20 anos. Qual era o projeto inicial de Brucutu, da mineração que vocês têm lá? 


RN:  O que eu lembro é que pesquisaram e tinham lá 600 milhões (de toneladas) de reservas.


HL: De toneladas de minério? 


RN: É, pesquisadas. 


HL: Pesquisadas, comprovadas. 


RN: O que justificou o investimento e que agora eles vão fazer uma nova licença ambiental no Estado, o município tem que dar a anuência, a não ser se você não concordar com aquilo que está sendo proposto. E o município está discutindo com eles a questão desse… são 25 anos que eles vão estar com essa licença para produzir minério lá, com a capacidade de aumentar muito o que eles produzem hoje, eles podem dobrar ou triplicar o que está produzindo hoje. Não quer dizer que eles vão fazer isso, mas tem a licença para isso. 


HL: Tem que ter a licença para poder minerar. 


RN: E quanto mais produzir, com certeza menos tempo que a mina vai ter de reserva.  


HL: A gente estava conversando um pouco antes e aí você me disse que ela já chegou a minerar lá 32 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, na mina de Brucutu, da Vale. Agora, essa segunda permissão que ela quer ter da licença ambiental é para minerar mais quantas toneladas, prefeito? 


RN: Eu não sei o quantitativo que foi pesquisado dessa vez, a gente pode até ter lá, mas eu não estou com esse número não. Eu sei que eles pediram licença e que eles podem chegar a produzir até 70 milhões (de toneladas). 


HL: Nossa. Não quer dizer, gente, que vai produzir 70 milhões, mas tem  o potencial e aí tem que ter a licença ambiental para, se quiserem chegar a isso, se tiver mercado para isso…


RN: E como é uma mina que tem todas as estruturas para aumentar a produção, e o mercado está sempre sem comprador, eu acredito que eles vão passar a produzir muito mais assim que ficar pronto a estrutura que eles vão estar fazendo lá para poder aumentar a produção. 


HL: Eles já começaram? A Vale já começou a fazer uma estrutura ou tem que esperar o licenciamento todo, que é a licença prévia de operação, de instalação, né? Que é uma coisa demorada, né?  


RN: Essa parte é uma parte que eles já têm, porque eles estão fazendo, eles vão operar a seco. 


HL: Empilhamento a seco, sem barragem a montante, que agora também não pode mais ter em Minas Gerais. 


RN: Isso já começou, a obra para preparar, que vai ficar pronto, me parece que em 2028, 2029. Então, quando chegar no ano de 2029 eles vão estar com a produção aumentada. 


HL: Ou seja, vamos avaliar todos os lados, né, prefeito? É um aumento de arrecadação.  Você tem, assim, na cabeça qual é o volume de arrecadação da prefeitura? 


RN: Receita do município? O orçamento? O orçamento é de R$ 460 milhões, mas não é tudo do CFEM não, tem ICMS, tem ISS, são todos os impostos. 


HL: É o que a prefeitura tem para fazer o custeio de tudo, mas a mineração tem um quantitativo aí representativo nesse orçamento, né? É mais de 50%? 


RN: É mais de 90%. 


HL: Nossa! E aí é que está, né, gente? O grande desafio que eu vejo quando eu entrevisto prefeitos aqui de cidades mineradoras é isso, é diversificar a economia da cidade para ela não ficar dependendo só da mineração, e no dia que o minério acabar, se exaurir, a prefeitura não ficar lá com o pires na mão só dependendo de fundo de participação de municípios. É um desafio grande que você tem trabalhado para mudar esse cenário, não é, prefeito? 


RN: Isso começou lá atrás quando tomei posse a primeira vez. Eu já pensei nisso, porque logo em seguida, eu visitei uma mina de carvão lá na Alemanha, na região do Vale do Ruhr, e lá passou por esse processo de exaurir a mina, nos anos 1980, e que deu um caos naquela região toda lá, um colapso, que o Governo Federal teve que ajudar a bancar os funcionários, e aí eles tiveram que fazer novos projetos, mudou completamente.


HL: O que eles fizeram lá? Você lembra? 


RN: Investimento em educação, em universidades, turismo e negócios. Eu me lembro que quando fui lá, eles estavam trabalhando muito nos projetos para a China. 


HL: Olha só, já na década de 1980.


RN: O minério exauriu em 1980, mas eu fui lá em 2010. 


HL: Ah tá, você foi em 2010 e já estava aquele boom da China, com o ‘pibão’ dela lá consumindo de tudo.


RN: E aí as indústrias, muito parque tecnológico, estava todo mundo, assim, na correria. Eu fui numa comitiva do Senai, fui com mais Prefeitos  de cidades mineradoras, e aí eu falei: “a gente tem que preparar São Gonçalo”. 


HL: Porque um dia esse futuro chega também, e se chegar e deixar igual essa cidade lá da Alemanha colapsar a economia da cidade, você não consegue virar a chave de uma hora para outra, né? E eles conseguiram virar, mas com a ajuda do governo, né? 


RN: Hoje é uma das regiões mais economicamente bem colocadas na Alemanha.  


HL: Eles viraram a chave para o quê, prefeito? Para todas essas atividades, turismo, vendas de produtos para a China…


RN: Não, não é vendas de produtos, eles faziam os projetos para os produtos que a China ia fabricar.  


HL: Nossa,  projetos de tecnologia. 


RN: É isso. Eu vejo que melhorou muito os produtos da China, eu fico lembrando, assim, talvez sejam esses projetos que os alemães... 


HL: É tudo da China, é tudo da Alemanha.  A Alemanha, a gente sabe, tem uma excelência em fabricar equipamentos. Em toda a indústria que eu pergunto: “de onde que é o equipamento?” Grande parte é da Alemanha. 


RN: Nem só na indústria, na rede hospitalar, por exemplo, muitos projetos que a gente vê do passado foram vindos da Alemanha, e na mineração também não é diferente.


HL: Tem muita coisa alemã, tem muita máquina, tem muita tecnologia que vem da Alemanha também. E aí, vendo esse problema lá, essa virada de chave, essa guinada, tendo essa experiência lá fora, que a gente vê e aproxima para a nossa realidade, vê que a gente pode também ter esse problema aqui, o que você tem feito, Nozinho, para poder... vou te chamar de Nozinho durante a entrevista, porque é como você é conhecido, né? Até a rede social dele é o Nozinho oficial, né? Então, o que você tem feito com a sua experiência de Legislativo, de Executivo, para que a prefeitura de São Gonçalo do Rio Abaixo não fique refém, digamos assim, entre aspas, da mineração? Porque é isso aí, tem a primeira safra, tem a segunda safra, mas não vai ter safra perene, não é? Para sempre. 


RN: Olha, o desenvolvimento econômico, nós já falamos, nós já temos lá em torno de umas 20 e poucas, umas 27 empresas já operando lá na São Gonçalo. 


HL: 27 indústrias?


RN: Indústrias que já produzem lá, mas a gente precisa atrair mais, principalmente empresas de tecnologia, porque o emprego, hoje, está faltando no Brasil.  


HL: A gente está com o pleno emprego, ele é bom, ele é uma notícia boa, mas ao mesmo tempo é desafiador para qualquer prefeitura, para qualquer empresa reter, manter o empregado lá e conseguir trazer novos. 


RN: E outra coisa é investimento em Educação. Lá as nossas escolas são todas de tempo integral, 80%. Só não está em escola de tempo integral, tem pais que não querem colocar o menino o dia inteiro na escola, então a gente tem uma escola convencional, senão era 100%.  


HL: Que pena, né? Porque eu só vejo vantagens, né? Quando eu tenho que conversar sobre Educação, a escola integral tende... 


RN: Eu acho que a base da educação começa lá desde o menino na creche. Então, a gente tem esse programa lá que eu não abro mão dele, além disso, buscar a infraestrutura para a cidade crescer organizada, planejada, para atrair qualidade de vida, porque ninguém quer morar numa cidade que não tem uma boa qualidade de vida, e para isso a gente investe muito em segurança, nós temos toda a cidade toda monitorada com câmara de alta precisão, temos a central da câmera que funciona 24 horas.  


HL: Um olho vivo, um big brother que está o tempo inteiro monitorando todo mundo. Isso é importantíssimo para dar essa sensação de segurança para a população.


RN: Estamos implantando lá a guarda municipal, está praticamente… dentro de mais uns 30, 60 dias, eles vão estar lá na cidade já trabalhando. Acho que sempre pensando, planejando, porque tem muita obra lá.  


HL: A cidade não para de crescer, né? E aí, ô prefeito, você falou aí da educação, né?  Tem a educação básica, o ensino fundamental que é a base de tudo, né? A gente vê muita gente chegando aí, tentando depois uma continuidade no ensino e se ele não tiver uma base muito boa, não vai pra frente, né? 


RN: Nosso Ideb é 7,2. 


HL: Oh, muito bom! Porque o Ideb é o que mede como estão os alunos no Ensino Fundamental. 


RN: E depois que ele vai fazer o Curso Superior, a gente ajuda também, porque os que passam no vestibular, no ENEM, também... 


HL: Os que passam em faculdade particular, por exemplo, a prefeitura ajuda? Ajuda como? Uma bolsa? 


RN: Uma ajuda para transporte. 


HL: Ah, para transporte, porque não tem universidade em São Gonçalo do Rio Abaixo. Um dia vai ter, não é, gente?  


RN: A gente está levando para lá um Instituto Federal, ensino técnico. Vai trabalhar nessa área de tecnologia com inteligência artificial e pesquisas, incubadoras, vai ser um instituto que foi um arranjo diferente para São Gonçalo, vai ser pioneiro, esse instituto lá. 


HL: Como é esse arranjo, assim? Você pode dar mais detalhes, ele vai ser instituído quando lá? Começa a funcionar quando? 


RN: Tudo indica que no início do ano que vem.


HL: 2026? Ó, que bom.  


RN: Nós estamos lá terminando um Centro Administrativo, e aí onde a gente tem a prefeitura hoje, lá vai começar com os cursos lá, a incubadora. 


HL:  É um instituto em parceria com quem? Ele é um instituto federal?


RN: É o que era antes CEFET,  que agora é o Instituto Federal.  


HL: Nossa, o ensino é de altíssima qualidade. A pessoa sai de lá e passa em qualquer vestibular, porque as metas de eficiência são altíssimas para os alunos.  


RN: E que com o decorrer do tempo, vai virar um campus.  


HL: É a tendência natural. Isso aí. Aí vira a chave mesmo, porque aí São Gonçalo do Rio Abaixo vira referência no Estado como formador de mão de obra qualificada.


RN: Para treinamento do pessoal, capacitação do pessoal, tem o Senai lá. Agora, nós vamos até inaugurar o Senai Lab, e a gente tem muita parceria com o Senai, com o Sebrae para capacitar a empresa que se instala lá. Aquilo que ela precisa, o Senai é adaptado, ou mesmo o Sebrae, para dar os cursos.


HL: Então, o Senai já tem uma escola lá, o Senac também tem outra escola…  


RN: O Senai tem a unidade dele.


HL: Já tem a unidade dele lá e está passando por ampliação?


RN: Está passando por ampliação. E o Sebrae, temos parceria com eles. 


HL: Tem também a parceria para o ensino. E o Senac também, que é da Fecomércio, o Nadim Donato, vocês estão sempre conversando lá com eles também, já existe o SENAC lá também?  


RN: Senac não existe lá. Existe, assim…


HL: Tem os cursos que a pessoa pode fazer online, a distância


RN: Não, mas tem o curso presencial também. 


HL: Tem o curso presencial também? Porque tem vários cursos e muitos dos cursos do Senac são gratuitos, então tem uma formação de mão de obra lá importantíssima. 


RN: Tem que ter, senão o empresário chega lá e não... 


HL: É, ele vai falar assim: “Nozinho, mas você está me chamando aqui, estou atendendo a tudo que você quer, mas e a mão de obra? Cadê?  O povo não sabe fazer nada?” E lá o povo sabe fazer tudo, né? Tem essa...  


RN: Além disso, a cidade também tem Parque da Exposição, nós fazemos festas boas lá.  


HL: E o setor agropecuário lá é forte? 


RN:  Não, não vou falar que o agropecuário é forte, porque tem uma base que a gente ajuda muito, mas não tem aquela altura mesmo de ser uma cidade agropecuária.


HL: De ser reconhecido por isso, mas o que a gente pode chamar atenção para lá? Ela tem algum plantio ou alguma coisa que pode se tornar referência no futuro? Porque o setor agropecuário agora é um grande queridinho no país, está salvando a lavoura praticamente, né? Com essas exportações para a China. 


RN: Lá tem laticínio, lá tem indústrias de laticínio.


HL: Qual é o laticínio lá? 


RN: O laticínio agora é do grupo ITA, esse grupo que é a sede em Itabirito, tem uma unidade deles lá agora. 


HL: Olha que bom!  


RN: E tem um doce famoso, que também é bem tradicional, que a origem é de Baldim, mas que eles instalaram uma fábrica bem moderna que vende doce já no Brasil inteiro. 


HL: Doce de que? 


RN: Doce de banana. 


HL: Ai, que delícia! Que faz um sucesso, né? Doce de banana. 


RN: Você já deve ter comprado ele. 


HL: Já vi mesmo! E tem produção de mel também? Tem uma produção forte de mel lá. 


RN: Tem. Hoje, só a Prefeitura de Belo Horizonte compra mais de 7 toneladas. 


HL: Toneladas? 7 toneladas de mel? Gente, então a cidade tem tudo para também virar uma referência na produção de mel e para o abastecimento de várias outras cidades. 


RN: Tem Minas Goiabada, tem a bananinha frita, tem várias fábricas lá. 


HL: Nossa, muito bom. E aí, o que acontece com essa produção diversificada? A prefeitura tem os distritos industriais para poder atrair mais indústrias, só que, gente, a gente estava conversando antes, não é toda indústria. “Ah, eu quero ir para São Gonçalo do Rio Abaixo, porque tem logística, é 80 km próximo de Belo Horizonte, tem um centro logístico muito bom, centro industrial, e por isso eu quero ir para lá”. Não, a indústria que quer ir para São Gonçalo do Rio Abaixo tem que atender algumas exigências.


RN: A gente passa para eles um formulário, para eles preencherem, e depois analisamos a capacidade de investimento, capacidade de endividamento, e aí são vários os requisitos, porque tem muito oportunista,  acaba que com o dinheiro público, a gente tem que fazer um bom uso dele.  


HL: Mas a indústria que vai para lá, tem, por exemplo, o terreno cedido para ela.


RN: Tem o terreno preparado, terraplanagem, com infraestrutura de água, energia.


HL:  A indústria que consegue ir para lá já vai com tudo pronto, a infraestrutura está toda pronta. Água, energia, água encanada, esgoto, terraplanagem… ela só faz levantar o galpão e trabalhar. 


RN: Isso aí. A gente tem tido bastante procura no momento agora, depois que nós fizemos um plano que a gente chama de ‘Prospera Mais’, que é onde a gente concede o terreno por concessão e também tem um fundo para ajudar a equalizar o juro, acho que nós já falamos isso aqui. 


HL: É, o dinheiro está caro, né, gente? Com essa taxa Selic aí de mais de 15% fica impraticável a indústria, qualquer empresa, pegar financiamento em banco. 


RN: Então, a gente tem incentivo dos fiscais também, com taxa de prefeitura.  


HL: Tem, por exemplo, IPTU, tem uma carência para ela começar a pagar.  Na hora que ela tá aprumando, ISS também… a prefeitura fala: “olha, você não vai sangrar assim logo no início”.  


RN: Esse plano tem dado certo, muita gente está procurando, as empresas também que estão em expansão lá, estão conseguindo captar recursos com incentivos. Então, o crescimento tem, a gente está vendo agora, porque isso já vem sendo preparado, né? A cidade já está... ela não está querendo assim, “ah, eu quero receber empresa, mas o que eu tenho que fazer?” Não, lá já tem muita coisa feita. Eu acho que lá em São Gonçalo o público está na frente do privado, principalmente com aquelas empresários locais, porque às vezes fica esperando, e a cidade está crescendo, e às vezes não está se desenvolvendo no mesmo ritmo que a prefeitura está desenvolvendo. 


HL: Então lá é diferente, a lógica? A gestão pública acelera e ajuda, ela não atrapalha o desenvolvimento como a gente vê em outros lugares aí, que o pessoal fala: “se não puder ajudar, pelo menos não atrapalha, né?” É o que a mãe de gente mais ouve no Brasil.


RN: Eu já ouvi, assim,  num congresso de agronegócio, eu estava como deputado, sentado na mesa, o presidente da cooperativa lá de Guaxupé,  esqueci o nome dele, falou para a gente, que era um grupo de meia dúzia de deputados sentados, “ó, vocês são muito bem-vindos, mas vocês não vêm pra atrapalhar não, porque nós vamos muito bem, obrigado.”  


HL: Mas é! Infelizmente, gente. No Brasil, a gente tem muito lugar que é difícil empreender, que é tanta amarra, tanta burocracia, e São Gonçalo do Rio Abaixo, pelo que o prefeito Nozinho está contando aqui para a gente, não é assim, na prática a gente está vendo um assédio de empresas, indústrias, empresas de vários setores, frigoríficos lá agora também, que vocês vão ter, né? 


RN: É, tem um grande frigorífico de Monlevade, um grupo que tem o hipermercado muito forte lá na região, e ele tem a necessidade de ter um frigorífico. Então, escolheu São Gonçalo para fazer esse investimento e isso é muito bom para a nossa região. Você me perguntou do Agronegócio, ter um frigorífico na cidade já ajuda a desenvolver também essa área. 


HL: Porque as cadeias nessas indústrias são longas, então o frigorífico precisa de ter o fornecedor, ele precisa de ter o boi mais ou menos na região ali, né? Não pode ser muito longe de São Gonçalo do Rio Abaixo, aí ele tem que ter a pessoa que fornece os insumos, né? Então, é por isso que aí os salários melhoram, mesmo que seja bem automatizado, né? Que vocês falaram, tem indústria lá que tem pouco mais de 20 funcionários, mas só que a arrecadação que ela traz pra cidade é infinitamente maior, né? O que vocês querem é uma arrecadação boa, sólida, para poder, com aquele dinheiro, fazer mais investimentos, é assim que a roda gira lá em São Gonçalo do Rio Abaixo ou não? 


RN: É isso mesmo. Além disso, a gente dá um apoio também para as micro, os MEIs.  


HL: Como é esse programa de financiamento para as micro e pequenas empresas? 


RN: Olha, o risco é do Banco, mas o juros para essas micro e MEIs a gente banca 100% do juros. 


HL: Sério? Dá um exemplo.


RN: Você quer montar um salão, precisa de comprar lá…


HL: Tem que comprar os lugares, não sei como que chamam,  para lavar o cabelo do cliente, tem que ter o secador, as escovas, os espelhos…  isso a gente está dando um exemplo aqui. 


RN: Aí ele procura a secretaria do Gabriel…


HL: O Gabriel está aqui com a gente, Secretário de Desenvolvimento Econômico de São Gonçalo do Rio Abaixo. 


RN: Lá tem a Sala do Empreendedor, que a gente tem para receber e orientar esses empresários, e aí ele vai ao Banco, o Banco avalia o negócio, empresta o dinheiro e nós vamos arcar com os juros.  


HL: É, porque é o custo do dinheiro, o Banco empresta, mas ele tem que cobrar ali por aquele dinheiro que ele está emprestando. 


RN: Ele tem toda a estrutura para avaliar.  


HL: Saber se a pessoa é boa pagadora, se ela não vai dar o cano, o calote, não vai ficar inadimplente. Esse programa tem o Bolsa Trabalho também, não é?


RN: O Bolsa Trabalho é o primeiro emprego, e foi criado para ser o primeiro emprego. O empresário contrata ele por um período de um ano e nos primeiros quatro meses a prefeitura banca o salário dele. E se por acaso não deu certo, aí o empresário pode dispensar ele, mas ele tem que contratar outro para fechar um ano, porque senão ele contrata ele por quatro meses e depois pega o outro, aí mais quatro meses, e não é assim.


HL: É, não é assim, é a garantia e a manutenção do emprego ali, né? Que vai garantir a renda do empregado, né? Senão fica só aquele contrato temporário ali, e o intuito não é esse, do programa da prefeitura. 


RN: Aí não vai atender aquilo que a gente quer, que é o primeiro emprego, que é muito difícil. 


HL: É dificílimo, todo mundo fala comigo, “Helenice, é tão difícil”. Eles ficam falando que precisa de gente, mão de obra, só que eles não querem contratar gente que não tem experiência. Então, um programa desses poderia ser replicado até para outros municípios mineiros, brasileiros, para que estimulasse. Você vê, tem condição de fazer, você tem um orçamento bem menor do que muita prefeitura que a gente vê aí, de pouco mais de R$400 milhões. Tem prefeitura aí com um orçamento de mais de R$1 bilhão e que não consegue fazer isso. Então, assim, é possível fazer isso, né? 


RN: É possível e tem que ter vontade política de fazer. 


HL: O que é essa vontade política, Nozinho? É discutir com seu Secretário de Desenvolvimento Econômico, com a sua equipe de secretários. “Gente, vamos pensar aqui em projetos?” 


RN: Você tem que ter o planejamento, né?  De onde você quer chegar ou o que você quer fazer. Mediante isso, você tem que ter uma equipe, uma secretaria bem montada. Ninguém faz nada sozinho, simplesmente sou o gestor aí que quer ver as coisas acontecer, e aí, se aquilo não está dando certo, você tem que procurar um meio de estruturar. Às vezes, de repente, está faltando funcionário, você vai buscar pessoas que têm capacidade de estarem ajudando a construir. 


HL: E sabe o que eu tenho visto muito, Nozinho?  Cidades que tinham uma população bem maior, isso até pelo IBGE, e que está diminuindo. Ou seja, às vezes tem cidades com menos de 10 mil habitantes de um censo para o outro. Esse povo todo não morreu. De um censo para o outro, esse povo saiu dessa cidade que não estava tendo condições e está indo para outro lugar, ou seja, está levando a arrecadação para outro lugar, está levando emprego para outro lugar. O que vocês têm feito para deixar quem nasce lá em São Gonçalo do Rio Abaixo, ou quem quer vir de outras cidades, para ficar lá na cidade? Com essa quantidade de indústria, de empresa que está indo para lá, tem que ter mão de obra, né? 


RN: Tem que ter. A gente tem que avançar um pouco agora em moradia, que está faltando na cidade. 


HL: Que é um dos grandes desafios. A especulação imobiliária está grande por conta desses altos investimentos que a mineração está fazendo? 


RN:  Está, está sim. Nós estamos caminhando, olhando uns projetos de construção civil, empresários, parceria com a CAIXA, para ver se faz uns investimentos na área de habitação. 


HL: É grande o déficit habitacional lá, Prefeito?  


RN: Não é grande demais, porque a cidade ainda é pequena. 


HL: É pequena, mas com esse crescimento aí da mineração ela vai ter uma demanda enorme de pessoas que vão trabalhar lá, né? Porque se a Vale quer aumentar aí, se ela está pedindo um licenciamento ambiental para poder operar com uma capacidade, capacidade é uma coisa, né, gente? O volume ali, real, é outra, mas se ela está pedindo um licenciamento com uma capacidade de 70 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, é porque em algum momento vai chegar essa produção perto dessa capacidade, senão ela não pediria isso. Ou seja, ela já está olhando o Brucutu, que é a mina dela em São Gonçalo do Rio Abaixo, bem mais para os próximos 20 anos pelo menos.


RN: 25, né. 


HL: 25 anos. Ou seja, se a cidade não caminhar na mesma toada com casa, hospital,  atendimento à saúde, infraestrutura, esgoto, água, luz, condições de comércio bom, é tudo lá, escola, a cidade fica numa situação que a conta não fecha.  O que você acha que são os grandes desafios agora?  


RN:  Eu acho que moradia vai ser um.


HL: Moradia é o maior desafio? 


RN: No momento, pelo que a gente está vendo, está sendo sim. Saúde, a gente já tem uma estrutura... 


HL:  Como está a saúde lá? UPAs,  hospitais, como está esse projeto? 


RN: A gente tem um hospital que foi projetado e construído como um hospital, mas ele ainda não funciona como um hospital. 


HL: Não funciona por quê? 


RN: Porque um hospital pequeno, 100% prefeitura, o que vai acontecer? Nós vamos chamar todas as demandas de cidades vizinhas para a gente bancar lá. 


HL: Vão falar assim: “não precisa fazer nada aqui na cidade, porque vai lá para o Nozinho, São Gonçalo do Rio Abaixo tá com hospital lá”. 


RN: A gente tem uma estrutura, um P.A. que atende... Só vou dar para vocês um número.  No ano passado passou por lá, nesse PA nosso, avançado, 35 mil pessoas procurando por algum atendimento. 


HL: 35 mil pessoas?  


RN: É. Desses aí, 98.8% foi resolvido lá. 


HL: Olha, não precisou de ir para Belo Horizonte ou ir para outra cidade. 


RN: Apenas 1.2% que precisou ser transferido para um hospital regional de Itabirito, Monlevade, Vale do Aço, ou para Belo Horizonte, o que é muito pequeno esse número. 


HL: É muito pouco, gente, para uma cidade do tamanho de São Gonçalo do Rio Abaixo.  Que legal isso, né? E esse 1% aí, você quer que tenha lá nesse pronto atendimento lá de São Gonçalo? Você sabe mais ou menos assim o que foi o problema?  


RN: São diversos, é acidente, uma cirurgia, um infarto, AVC, é uma coisa mais especializada.  


HL: Mas, assim, o básico a pessoa é atendida lá. Não faz cirurgia ainda nesse P.A., né? 


RN: Ainda não, mas a gente está num processo de estar fazendo uma parceria com um consórcio que já administra o hospital Dia para a gente também ser um. 


HL:  Essas pequenas intervenções cirúrgicas? 


RN: Fazer isso lá. 


HL: Ah, isso é muito bom. E aí esse consórcio ganha e faz o investimento todo lá, tem um tempo para explorar esse atendimento. 


RN: E à medida que o município for desenvolvendo, for crescendo, as coisas vão sendo... 


HL: O seu sonho é ter um hospital lá? Acho que é o sonho de todo prefeito, né?


RN: Eu fiz o projeto e construímos o físico lá para ser um hospital, um projeto muito bom.


HL: Mas aí precisa de um investimento muito alto para ser um hospital com todos os equipamentos…


RN: E você não consegue se não tiver uma parceria público-privada. Até os planos de saúde, a prefeitura tem plano de saúde em São Gonçalo, o funcionário da prefeitura se for lá é atendido sem custo, e se fosse um hospital privado, então com a parceria público-privada, era diferente, ele ia ter uma receita de planos de saúde e hoje não tem, tem só poucas coisas que são via SUS. 


HL: Sabe por quê? Eu converso muito com o pessoal de saúde, pelo menos assim, o Unimed-BH que está construindo o hospital agora em Nova Lima, é coisa de R$300 milhões de reais o investimento para ter o hospital todo e depois a manutenção dele, tem o enxoval, tem tudo. O Mater Dei também construiu recentemente o hospital aqui em Nova Lima, também na região metropolitana, é um investimento de milhões. Então, assim, para uma prefeitura ainda com um orçamento de pouco mais de R$400 milhões, não dá para pegar um projeto desse sozinho. 


RN: Tem que ser bem planejado e tem que priorizar aquilo que realmente precisa. Talvez, para ter um hospital tem que esperar um pouco mais, mas o hospital Dia já vai resolver.


HL: Ele entra em vigor, assim, a operação, quando?


RN: Não, nós estamos acertando os contratos, estamos numa fase ainda de acertar os detalhes.  


HL: Para ver quando que dá para viabilizar esse projeto. Sabe o que eu tenho visto também? Conversei com o prefeito de Congonhas, Anderson Cabido, e lá também tem investimentos polpudos  de mineradoras siderúrgicas, e ele falou que quer implantar um licenciamento social, aí seria uma lei aprovada pela Câmara Municipal de Congonhas. Você pensa em fazer isso lá também em São Gonçalo do Rio Abaixo, em algum momento? Ou já está fazendo alguma coisa assim que remonta a isso para que as contrapartidas não sejam só apresentadas em nível estadual, no licenciamento ambiental aprovado que passa pelo crivo lá do Governo do Estado, mas que também passe pelo município?  


RN: Existe muito. Hoje, estamos tendo muita discussão sobre isso, sabe? Mas eu ainda não me inteirei. Vai ter até agora, acho que no início do mês que vem, né, Gabriel? Vai ter um seminário aqui, vai ser aqui no AMIG, Associação das Cidades Mineradoras, que está promovendo, que vai dar uma explanação sobre isso que está acontecendo, parece que já tem alguma coisa assim que pode ser construído.


HL: Porque tem que ter também a anuência da Câmara para fazer um licenciamento social, você tem que ter também um entendimento ali com os vereadores, um diálogo, e é uma coisa que não passa de repente, tem que ser amadurecida essa discussão. 


RN: E tem que ser construído também, porque se você faz um negócio que não vai vigorar, então... tem que ter tempo. 


HL: Tem lei que pega, lei que não pega, esse negócio não funciona assim em São Gonçalo do Rio Abaixo, mas como que tem sido, assim, essas contrapartidas com a Vale diante desse projeto enorme da mina de Brucutu? O que vocês pensam em exigir dela quando ela tiver com essas licenças na mão, ou pelo menos, a palavra nem exigir aqui, né? É um diálogo com a empresa.  


RN: Nós estamos conversando. Eu recebi essa semana um funcionário dela, acho que é Diretor da Área Social, a gente já apresentou uma proposta para eles, eles estão numa fase de estudar ela, a gente está negociando. 


HL: Você pode falar alguma coisa aí dessa proposta apresentada? 


RN: A gente fez, assim, tiramos da Secretaria, todos apresentaram as demandas que a gente acha para o crescimento que a cidade vai ter com a mineração para os 25 anos, que seja uma coisa que ela tem que estar participando ali durante esses 25 anos. 


HL: A prefeitura tem que ser ouvida, né? 


RN: É. Eu acho que nós vamos chegar…


HL: Tem que ser amadurecido, né, tem que ser um diálogo, um casamento, tem que ser uma coisa conversada, ver coisas que atendam os dois lados. 


RN: Eles reconhecem que São Gonçalo tem um diferencial com os recursos do CFEM que vão para lá. Até para a companhia é importante reconhecer que o imposto que está pagando… não é imposto, é uma participação no negócio, porque o CFEM é uma compensação por ele estar explorando o minério no município, e que lá a gente faz, na minha concepção, na minha avaliação, o bom uso do dinheiro público. E tudo que você faz, até para a própria empresa também, o funcionário público dela que trabalha, que mora lá, também para ela estar falando isso para outros municípios, eu já vi citarem São Gonçalo, então é bom, porque ela tem uma cidade como uma referência lá, “faz igual lá, lá deu certo”, não é isso? Você mesmo está falando que tem cidade que às vezes não dá certo as coisas, passa o tempo e as coisas não aconteceram, e a gente lá está diferente, nós estamos antecipando o que pode acontecer daqui uns sei nem quantos anos. Às vezes a gente não vai estar aí, mas... 


HL: Mas o papel de todo gestor público, é obrigação, preparar a cidade, é manter a qualidade de vida da cidade para a sua população, ele ganha para isso e foi eleito para isso.  


RN: Eleito para isso. A gente vê, por exemplo, o ciclo do ouro, ele deixou alguma coisa que hoje gera até turismo, renda para cidade, e o minério a gente tem que pensar no mesmo caminho


HL: É, porque acaba. Prefeito, tem também um fundo que vocês criaram em São Gonçalo do Rio Abaixo com recursos vindos da mineração para que esse fundo socorra o município, todos os programas que ela precisa. É tipo uma poupança que vocês fazem? Como é que funciona isso?  


RN: 15% que vem da origem do CFEM vai para um fundo para o desenvolvimento do município, para aplicar na ampliação de distrito, em infraestrutura. A gente fala também de abrir uma empresa lá, a gente já tem um convênio com o Estado, até o nível 4 a gente faz a licença lá em São Gonçalo.  


HL: Ah, bom! Isso agiliza, né? 


RN: Agiliza. A Secretaria de Meio Ambiente já tem essa estrutura lá para estar fazendo isso. 


HL: Nível 4 são licenciamentos mais simples, né?


RN: Não é o caso de licenciar mineração, mas é um negócio lá que... 


HL: É, às vezes a pessoa quer construir uma coisa, fazer um loteamento lá, por exemplo, ela consegue passar isso lá na prefeitura de São Gonçalo do Rio Abaixo, até o nível 4 sim.  Prefeito, você acredita que a gente já está terminando daqui a pouquinho? Eu queria falar sobre a 381. É uma BR que tem que ser resolvida, com esses novos investimentos aí, esse consórcio, está todo mundo esperando que seja uma situação que deixe aquelas mortes todas para trás, mas São Gonçalo do Rio Abaixo conseguiu fazer aí uma obra envolvendo a BR-381, um grande investimento, aliás, R$50 milhões, o trevo, né? 


RN: O trevo. Bom, a BR-381, eu queria falar que desde o primeiro mandato a gente buscou fazer movimentos para sensibilizar o Governo Federal, o DNIT, que era necessário ter essa estrada.  Infelizmente, muita coisa não andou, teve mudança de governo e o investimento alto…


HL: A empresa entrava e não dava conta, depois saía, né?  


RN: Até que depois começaram a fazer um trabalho lá para fazer a concessão da estrada.  Andou tendo alguns digitais que foram frustrados, não apareceu a empresa, até que acertaram lá. Eu participei umas duas vezes de comitivas para poder ajudar a ver se sensibilizava o Governo, e aconteceu. Aconteceu e hoje mesmo eu estava pensando, gente, a empresa chegou, acho que iniciou as obras de melhoramento da estrada agora em abril ou por aí, ou maio, e em apenas aí 4, 5 meses, o que ela já fez na estrada já está salvando vidas que ficaram em 15, 20 anos. 


HL: Era a rodovia da morte, né? Como ela era conhecida. 


RN: E na nossa região já está muito bem sinalizado, organizado, tem uma parte que já é duplicada daqui para São Gonçalo, e eu acho que essa empresa nova, a 381, estava prevista para começar a cobrar o pedágio ano que vem, e ela já vai começar agora, pelo que eu estou vendo, eu estou vendo falar que vai começar, mas é bom, porque você paga o pedágio. 


HL: Se a obra foi feita e você vai ter segurança com pedágio… qualquer lugar que você vai na Europa tem pedágio lá, 15 euros, é caro mesmo, mas são tapetes, são autoestradas.


RN: E o risco também de acidentes diminui, são vidas que são salvas com a sinalização. Muita coisa que já aconteceu por falta de sinalização, era um buraco que ficava ali fazendo aniversário. 


HL: Fazendo aniversário, essa é boa. (risos) Aí arranca a roda, arranca tudo, causa um acidente que nunca aconteceria numa cidade com uma estrada boa. 


RN: E isso aí foi muito bom, eu acho que vai trazer uma qualidade de vida para o usuário daquela estrada assim que terminar as obras, e também o desenvolvimento que vai trazer para toda a região. A gente olha a saída de Belo Horizonte para as outras capitais é tudo duplicado, e a nossa que sai para o Nordeste, para o Espírito Santo, é um caos. 


HL: Você vê São Paulo como se desenvolveu pela logística, pelas estradas. 


RN: Estrada traz desenvolvimento, traz qualidade de vida, traz progresso, traz tudo. 


HL: É isso aí, acho que precisa, a prefeitura apoiando cada vez mais com esses trevos, com o que precisar ser feito aí. Prefeito, eu queria ainda falar um pouquinho de política com você. Você está no PDT há mais de duas décadas, você, por exemplo, é candidato para o ano que vem, Deputado Estadual, sonha em voltar, ir para a Assembleia ou para Deputado Federal, o que seja? Você está com um projeto político aí? Ou não? Você quer terminar o mandato lá em São José do Rio Abaixo? 


RN: Hoje eu não estou com essa ideia não, mas eu recebo muita pressão,  


HL: O pessoal lá pede: “Prefeito, você tem que ir de novo lá para o Legislativo.” Sério? 


RN: Sério. 


HL: Mas você quer ficar em São Gonçalo do Rio Abaixo, terminar o seu mandato lá.


RN: Eu acho que já contribui bastante com a vida pública, acho que chega um momento em você também tem que pensar a vida, que essa não tem jeito. 


HL: Tem não, e a morte chega para todo mundo, né? Você vê lideranças surgindo em São Gonçalo do Rio Abaixo para te substituir? Porque, às vezes, eu vejo muito essa discussão no país, de cadê as lideranças novas?  


RN: Está difícil, mas nós vamos estar engenhando algum nome lá para dar continuidade. Falar que a gente não tem essa preocupação, a gente tem, mas acho que com o trabalho que a gente faz lá, eu acredito que o apoio vai ser  bem forte para a gente fazer a sucessão.  


HL: Você tem tido um diálogo bom com o Governo do Estado, com o Governo Zema? Como tem sido ao longo desses anos? 


RN: Olha, como São Gonçalo tem uma receita que às vezes… a gente tem um diálogo naquilo que a gente precisa, não tem dificuldade, eu acho que meu partido é São Gonçalo.  Apesar de eu precisar de uma sigla para me eleger, meu partido é São Gonçalo. 


HL: Que legal essa frase. 


RN: Não vejo problema, não, acho que está tranquilo.


HL: Tem tido um diálogo, você é recebido na Cidade Administrativa, quando chega lá, tem uma conversa boa. Agora também na AMM,  com a nova diretoria, com o Falcão lá também, tem tido esse entendimento de atender cada vez mais os municípios mineiros. 


RN: E a gente está procurando também estar próximo, porque o Governo hoje está muito voltado, o governo de Minas, para mim, está voltado para atrair negócios também, que também é um negócio nosso para se alcançar. 


HL: Investimentos, não é? Não é gasto. A gente estava falando, deu um intervalo aqui, estava falando aqui, “não, a prefeitura está gastando muito?” Não. É investimento que ela está fazendo, esses projetos todos para lá na frente estão pavimentados para cada vez mais indústrias e empresas em geral.  


RN: O Brasil passa por uma turbulência, não tem como negar isso, mas acho que tem um momento que isso passa, e o país é muito bom. 


HL: Tem que passar, né, prefeito? Porque o país é tão rico, tão diverso na economia, tem tanta oportunidade. Eu vejo essas empresas estrangeiras que vêm pra cá, elas falam, “olha, Brasil tem segurança, tem democracia, clima, água, sol, terra”. 


RN: Tem um povo bom, né? Eu conheço alguns países, já viajei, acho que o lugar bom é aqui. 


HL: Não tem outro lugar igual. E Minas, né? Para morar. E a gente recebe muito bem, trabalha muito, então tem que ter um ambiente bom. Tomara que essa polarização acabe um dia, não é? Vire só passado. Vamos para frente, né, prefeito? Olha, gostei muito de conversar com você, não sabia que São Gonçalo do Rio Abaixo estava com esse desenvolvimento todo, essa pujança toda para cada vez mais projetos. É tão bom quando a entrevista é para falar de projetos, de coisas boas, de desenvolvimento, porque, às vezes, a gente pega e vai conversar com prefeitos que estão com problemas de contas a pagar, problemas de endividamento. Então, parabéns. Muito bom. 


RN: Eu acho que isso aí vai muito do planejamento. Planejamento é igual a casa da gente, se você gastar mais que você recada, não vai dar certo, né? 


HL: Quebra, né? Aí um dia a conta vai chegar e você vai falar assim: “não, não tem jeito de pagar”. 


RN: Administrar uma prefeitura é dinheiro público, acho que a responsabilidade que você tem é que tem que estar sempre atento com isso aí, com o que gasta, com o que arrecada.


HL: Se deixar esse dinheiro também vai todo embora, né?  Com o custo. 


RN: Umas duas vezes no mês eu vou lá na Secretaria de Planejamento da Fazenda e quero saber como é que está.  


HL: Senta lá e fala: “cadê as contas aí? Me mostra”.


RN: Eu quero ver principalmente a receita, porque se ela está procedendo ali naquilo que foi estimado pelo orçamento... 


HL: Vocês têm metas, né? De aumentar a receita. Tem que ter gente, tem que ter metas, tem que ter planejamento.


RN: Aumentar é sempre bom, mas principalmente se ela não estiver caindo,  porque a gente sabe que a mineração tem bolsa... 


HL: Tem altos e baixos.  


RN: Tem que estar atento a isso aí.


HL: Se o minério cai no preço, cai a arrecadação também, porque vai minerar menos.


RN: Para nunca te pegar de surpresa a ponto de você ter dificuldade com a caixa. Acho que isso é muito ruim. 


HL: De pagar o funcionalismo, como a gente já viu em várias situações. são quantos funcionários públicos lá, Prefeito? 


RN: Direto deve ser uns mil e pouco, mas tem os terceirizados que são mais um ‘tantão’ lá, porque a cidade tem muita obra, tem muita demanda e a gente não pensa só nesse desenvolvimento, a gente também pensa na qualidade de vida das pessoas, nos eventos que a gente fala, que são muito bons. A gente também prepara a cidade para um tempo médio. A gente tem um turismo lá…


HL: O que tem para fazer lá? Cachoeiras? Tem um Centro Histórico lá? 


RN: Tem um Centro Histórico, tem parques, tem a Estação Ambiental do Peti, que era a Cemig que administrava, mas há uns 10, 12 anos atrás ela começou a querer privatizar e paralisou. E aí, nessa volta minha, consegui fazer uma concessão com eles, a gente está administrando isso lá, e é um lugar muito bacana de visitar. 


HL: É não deixar acabar, não deixar o mato... 


RN: Tem uma represa lá…


HL: É qualidade de vida para o morador de São Gonçalo do Rio Abaixo, de ter um parque bonito para ir no final de semana, para ir durante a semana. 


RN: Eu convido você, a hora que você tiver um tempo, a ir lá visitar. 

 

HL: Estou gostando dessa cidade, viu? Eu vou morar lá, gente, porque o prefeito vendeu tão bem a cidade aqui.  


RN: A água é muito boa, quem costuma tomar água lá quer morar lá. 


HL: Eita, faz bem para a pele, né, está com a pele boa, Prefeito. (risos)