O cardiologista que foi preso no início da madrugada desta sexta-feira (28) depois de surtar e ameaçar a mãe, a mulher e a própria filha de nove meses, com uma pistola calibre 380, pagou fiança e conseguiu ser liberado no início da tarde.

Ele havia sido levado para a central de flagrantes 2, no bairro Floresta, região Leste. O valor da fiança não foi revelado pela Polícia Civil. Ele vai responder a inquérito por posse ilegal de arma. Ele estava sob efeito de drogas e a reação dele foi para não ser internado em uma clínica para dependentes químicos.

As ameaças aconteceram no sétimo andar de um prédio de luxo onde o suspeito vive com a família, na rua Paracatu, quase esquina com avenida Barbacena, no Barro Preto, bem em frente Hospital Vera Cruz, onde ele é médico residente.

Vizinhos do médico acionaram a Polícia Militar (PM). Além da pistola, que é de uso permitido, os militares encontraram mais cinco armas guardadas debaixo da cama e no guarda-roupa do quarto do médico, sendo uma escopeta calibre 12 de dois canos, um revólver calibre 38, um revólver calibre 32, uma garrucha calibre 32 e uma c carabina. As armas pertenceriam ao pai do médico, um tenente-médico reformado da Aeronáutica, que estava em Guanhães, na região do Vale do Rio Doce. O pai seria colecionador, mas nenhum documento foi apresentado à PM. Todas elas foram apreendidas.

O soldado do Batalhão Rotam, Átila Brito, contou que o médico alegou ser dependente químico e que foi surpreendido por três pessoas enquanto dormia, querendo levá-lo para algum lugar.

“Naquele momento, ele conta que achou que se tratava de um roubo na sua residência. Ele não tinha conhecimento que a mãe dele havia acionado pessoas de uma clínica de reabilitação para conduzi-lo para tratamento”, conta o militar.

O médico relatou aos PMs que ficou revoltado e pegou a pistola para tentar afugentar as pessoas. Mais de oito horas depois de ser preso, o médico ainda estava sob efeito da droga, na delegacia. “É triste uma situação dessa, de dependente químico. Uma pessoa que carrega uma profissão com essa magnitude, uma pessoa graduada, esclarecida, infelizmente passando por uma situação assim”, lamentou o soldado.

“O tempo todo ele gritava, bastante alterado, que se ele fosse internado a família não teria renda, pois ele mantem todo mundo com a sua renda de médico”, conta o soldado. Na delegacia, o tempo todo o médico humilhou os policiais e profissionais da imprensa.

OPERAÇÃO

O soldado Átila explica que o Batalhão Rotam trabalha com crimes violentos e que foram acionados por rádio de que um homem estaria armado. “Ao chegar ao local, várias pessoas estavam na rua, apontando para o apartamento dele, falando que tinha um cidadão muito transtornado com as pessoas da família mantidas sob custódia. Imediatamente, colocamos nossos capacetes e escudos balísticos e utilizamos a técnica de adentramento tático”, explica o soldado.

O militar conta que encontraram o médico armado no corredor, do lado de fora do apartamento, bastante transtornado. “Foi necessário a gente fazer uma negociação. Primeiramente, a gente preza pela vida da pessoa. Então, a gente busca exaurir até o último momento até a pessoa se entregar, o que foi que aconteceu, com êxito. Ele se entregou e jogou a arma no chão e nós o prendemos”, contou o policial.

A informação de que a família era mantida em cárcere privado pelo médico, passada aos PMs pelos curiosos que estavam em frente ao prédio, não foi confirmada. “Quando entramos na residência, percebemos que, de fato, ele não mantinha a sua família em cárcere privado. Então, foi somente a questão da dependência química e da não aceitação dele para casa de recuperação”, afirmou o soldado.

A informação de que a família foi ameaçada pelo médico será investigada, segundo o militar. Não houve disparos de tiros, esclareceu. “Não foi encontrada nenhuma munição dos armamentos apreendidos. Tudo indica que não”, informou o PM. Os três funcionários da clínica já tinham deixado o local quando a PM chegou.

O médico foi preso por posse ilegal de armas de fogo. A Polícia Civil informou que seria arbitrada uma fiança no valor entre R$ 1.000 e R$ 1.500, se o médico aceitasse ser internado. Caso contrário, o valor da fiança seria aumentado. O médico, segundo o soldado, não quis ser internado e deixou a Ceflan após pagar a fiança.

A família do médico foi procurada pela reportagem no prédio onde mora e não se manifestou. O Hospital Vera Cruz informou que a sua comissão de ética vai abrir sindicância para avaliar o caso.