Com o objetivo de entender, afinal, de quem seria a culpa pela contaminação de petiscos para cães com monoetilenoglicol, substância altamente tóxica para humanos e animais, a Polícia Civil de Minas Gerais deverá realizar diligências nos próximos dias nas sedes das empresas que forneceram o aditivo propilenoglicol para a Bassar, fabricante dos alimentos para animais. As indústrias envolvidas estão localizadas tanto em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, como em cidades do interior de São Paulo. 

A informação foi passada à reportagem de O TEMPO pela delegada Danúbia Quadros, da Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor, nesta segunda-feira (12). Segundo a policial, responsável pela investigação no Estado, ainda não há uma data para que as ações nas empresas aconteçam. 

"Em Minas temos a fabricante, que é a Tecnoclean, que também tem uma filial em Barueri. Segundo os representantes, em Contagem fica a distribuidora, mas o propilenoglicol teria sido comprado da empresa A&D, com sede em Arujá, também no interior de São Paulo. Já essa outra indústria afirma que é uma importadora", detalhou Danúbia na entrevista. 

Ainda de acordo com a delegada, o fato é que tudo está sendo apurado e a conduta de cada empresa será individualizada. "Ainda é precoce dizer quem é o responsável pela contaminação. Isso demanda perícia e essas diligências nos locais, já que as empresas estão 'jogando' a culpa entre elas", completou. 

Nesta segunda, a Bassar voltou a garantir ter comprado o aditivo destinado ao uso alimentar. A reportagem também entrou em contato com a A&D Química e com a Tecnoclean, mas não obteve retorno. O espaço permanece aberto para que as empresas se posicionem. 

Mais um cão internado em BH

Ainda na entrevista desta segunda, a delegada Danúbia Quadros destacou que mais um caso de cachorro internado supostamente após ter sido intoxicado foi registrado em Belo Horizonte. "O cachorrinho ainda está vivo, mas internado. Ele vinha passando mal após consumir o petisco 'Cuidado Oral', da marca Petz", contou a policial.

Ainda segundo a delegada, segundo o relato da tutora do animal, que seria da raça Spitz Alemão, o cãozinho não está andando direito. "Apesar de estar vivo, teve muitas sequelas", completou. 

Até agora, em todo o Brasil já foram registradas 54 mortes, distribuídas em 11 Estados e no Distrito Federal, após o consumo de petiscos supostamente contaminados. Somente em Minas Gerais já estão sendo investigados 29 casos de mortes e internações, sendo 15 óbitos em Belo Horizonte, um em Piumhi e mais dois em Uberlândia. 

O primeiro caso que levantou suspeita de que os cães teriam se intoxicado com o petisco ocorreu no fim de julho, em BH, mas o caso só foi divulgado no dia 29 de agosto. Exames de necrópsia realizados pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontaram a existência de etilenoglicol no organismo dos cães mortos. Uma perícia da Polícia Civil feita nos petiscos também atestou a presença da substância no alimento. 

O que causou a morte dos animais?

Exames de necropsia realizado pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontaram existência de etilenoglicol no organismo de cães mortos. Perícia da Polícia Civil feita em petiscos também atestou a presença da substância no alimento. 

O composto é da mesma família do dietilenoglicol, substância apontada como a causa da morte de dez consumidores da cerveja Backer em Minas Gerais em 2019 e 2020. Ambas provocam danos severos aos rins.

Por que os petiscos estavam contaminados?

Esta é uma das principais perguntas que as investigações tentam responder. Conforme o Ministério da Agricultura, o problema teria sido causado pela contaminação do aditivo propilenoglicol, substância usada para produção de alimentos para animais e humanos, com o monoetilenoglicol. 

A princípio, a investigação identificou a contaminação em dois lotes de propilenoglicol — AD5053C22 e AD4055C21, ambos vendidos por uma fornecedora de matéria-prima, a Tecnoclean Industrial, com sede em Contagem, na região metopolitana de Belo Horizonte. A empresa alega atuar apenas como revendedora da substância. No entanto, na sexta-feira (9), o Mapa informou que há mais lotes contaminados.