Morreu na madrugada desta quarta-feira (15), no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, José Osvaldo de Faria, de 66 anos, a nona vítima da intoxicação por dietilenoglicol da Cervejaria Backer. Ele havia ingerido a cerveja Belorizontina durante uma confraternização em um sítio, em fevereiro de 2019, e ficou mais de 500 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Segundo sua esposa, Eliana Reis, de 56 anos, durante todo o tratamento, ele teve nove pneumonias, mais de 20 infecções generalizadas e seis paradas cardiorrespiratórias, sendo a última culminando em seu óbito. Em conversa com a reportegem de O TEMPO, a viúva contou um pouco como passou por esse sofrimento nos últimos meses.

"Ele passou mais de 500 dias na UTI, mas os últimos 20 ele estava no quarto. Até que ele estava saturando bem, pressão estava baixa, mas ok, tudo indo dentro dos limites. Eu não tenho muita noção de tempo agora, mas eu descobri que ele passou por tudo isso cego, e isso me doeu muito. Ele sendo cortado, picado todo o tempo, e sem poder falar nada, foi uma tortura para ele", contou.

11 pessoas indiciadas por homicídio, intoxicação e lesão corporal

Eliana também reclamou da falta de assistência da Backer. No início de junho, a família chegou a pedir ajuda na internet para arcar com os custos do tratamento, que era de quase R$ 9 mil por mês. "Eu pedi auxílio para a empresa em janeiro, mas ela só se prontificou a fazer algo há uns 20 dias, quando eles pagaram 30 dias de cuidadores. Não foi nem de enfermeiros", afirmou.

"Tudo no tratamento era muito gigantesco. Um remedinho, por exemplo, que vem 25 mL e durava uma semana, custava R$ 240. Fora os custos de gasolina e estacionamento, pois todo dia, sem falta, eu ia ver ele", relatou.

José Osvaldo deixa a mulher e uma filha. Seu corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) onde passa por necrópsia. Ele será sepultado na tarde desta quinta-feira (16) no Cemitério Parque da Colina, na capital mineira. O velório vai durar apenas das 14h às 16h, e somente 10 pessoas da família podem acompanhar.

Outro lado

Na época em que a família pediu ajuda, a Backer afirmou, por meio de nota,  que em nenhum momento a família apresentou os laudos médicos à Justiça para receber o auxílio. Disse ainda que "algo muito grave aconteceu" e que iria "honrar com todas as suas responsabilidades". 

Em relação a morte da nona vítima nessa quarta-feira (15), a Backer informou que não iria se pronunciar sobre o caso. 

Inquérito

Onze pessoas foram indiciadas no inquérito da Polícia Civil que apurou a contaminação por mono e dietilenoglicol nas cervejas da marca Backer. Dentre elas estão funcionários e integrantes do núcleo gestor da cervejaria. Oito óbitos e 21 vítimas foram apontadas na investigação. Outros 30 casos estão sob investigação.