Os irmãos e empresários Rômulo e Robson Lessa, integrantes da família que é dona da empresa de transportes Saritur, admitiram em depoimento à Polícia Federal (PF) que compraram ilegalmente vacinas contra a Covid-19. Eles são apontados como os chefes do esquema criminoso que imunizou mais de 50 pessoas clandestinamente em Belo Horizonte.
Nesta terça-feira (30), os investigadores informaram que as vacinas podem ser falsas - e não proteger contra o novo coronavírus. Os empresários foram ouvidos na segunda-feira (29), depois que se apresentaram espontaneamente na sede da PF, no bairro Gutierrez, região Oeste da capital. Durante o interrogatório, teriam confirmado o delito.
"Os empresários da empresa de transporte de passageiros admitiram, em depoimentos prestados de forma espontânea, nesta segunda-feira (29), a aquisição dos medicamentos de procedência ilícita", informou a corporação responsável pelo inquérito.
Ao fim da investigação, os envolvidos na vacinação clandestina, que inclui políticos, podem ter que responder na Justiça por receptação e vacinação irregular. Se comprovado que os empresários organizaram a imunização clandestina, contra eles podem pesar outros crimes.
Em nota, Saritur informou que os irmãos não fazem mais parte da empresa, e manteve a posição de que a suposta vacinação irregular não ocorreu no pátio da transportadora. “O Grupo Empresarial Saritur esclarece que houve uma cisão administrativa em 2019. Desde então, os empresários que prestaram depoimento não fazem parte da direção da Saritur. A Coordenadas funciona de forma inteiramente independente, e nenhum diretor da Saritur foi mencionado na matéria da revista Piauí. A Saritur não funciona no endereço mencionado, e sua diretoria desconhece o assunto”, garantiu.
Já o empresário Rubens Lessa, irmão de Rômulo e Robson, reforça que os investigados não fazem parte da direção da Saritur. Além disso, afirma que o endereço onde ocorreu a suposta vacinação clandestina não pertence ao grupo empresarial de transporte. “Era de total desconhecimento da Diretoria da empresa”, garante sobre o caso que está sendo apurado pela PF.
Vacina falsa
Após o depoimento dos irmãos Lessa, a PF deflagrou uma nova etapa da operação, denominada Camarote, e cumpriu, na casa da enfermeira apontada como responsável pela aplicação das doses, mandado de busca e apreensão. Uma clínica também foi alvo dos investigadores. Frascos com soro foram recolhidos nos endereços, e material será periciado.
Além da enfermeira, o filho dela também foi citado no inquérito. "Os dois são suspeitos de comercializar e aplicar vacinas contra a Covid-19 de origem ilícita", destacou a PF. A corporação ainda informou que ela já tem passagem pela polícia por furto. Os dois, juntamente com outro homem, foram conduzidos à sede da PF para prestar esclarecimentos.
Três linhas de investigação estão sendo apuradas pela PF. Uma delas é de que as vacinas são falsas. Outra de que teriam sido importadas ilegalmente do Chile e, por fim, a corporação apura se os imunizantes foram desviados do Ministério da Saúde. A polícia não deu prazo para conclusão do inquérito.
A aplicação das vacinas irregulares ocorreu em uma garagem de ônibus de um dos maiores conglomerados de transporte de Minas.