Sexualidade

Estudo inédito mostra que 3,4% da população de BH se declara homossexual ou bi

Levantamento feito pela primeira vez no Brasil aponta que a média de gays, lésbicas e bissexuais é maior na capital que no interior de Minas Gerais; confira os dados

Qua, 25/05/22 - 11h11

Em Belo Horizonte, aos menos 3,4% da população se declara como gay, lésbica ou bissexual. Os dados, inéditos, fazem parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS): Orientação sexual autoidentificada da população adulta, divulgada nesta quarta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esta é a primeira vez que esse dado é coletado entre a população brasileira.

Segundo o estudo, os números de Minas Gerais são semelhantes ao que foi detectado  no restante do país. No estado, 1,4% das pessoas se autodecla como lésbica, gay ou bissexual. 

Em todo o país, segundo o IBGE, são cerca de 2,9 milhões de pessoas que se declararam homossexuais ou bissexuais em 2019, o que corresponde a 1,8% da população adulta, maior de 18 anos. Outras 1,7 milhão de pessoas não sabiam qual era a orientação sexual e 3,6 milhões não quiseram responder.

Subnotificação

De acordo com a coordenadora da pesquisa, Maria Lucia Vieira, o grande número de pessoas que não quiseram responder a pesquisa revela uma possibilidade de subnotificação desses dados, algo que, segundo a pesquisadora, pode revelar preconceitos na sociedade.

“O número de pessoas que não quiseram responder pode estar relacionado ao receio do entrevistado de se autoidentificar como homossexual ou bissexual e informar para outra pessoa sua orientação sexual. Diversos fatores podem interferir na verbalização da orientação sexual, como o contexto cultural, morar em cidades pequenas, o contexto familiar, se sentir inseguro para falar sobre o tema com uma pessoa estranha, a desconfiança com o uso da informação, a indefinição quanto a sua orientação sexual, a não compreensão dos termos homossexual e bissexual, entre outros” analisa Maria Lucia.

A pesquisa destaca que 1,1% da população de 18 anos ou mais (ou 1,7 milhão) respondeu não saber sua orientação sexual. Já 2,3% não quiseram responder, o que corresponde 3,6 milhões de pessoas, número maior que o total da população que se declarou homossexual ou bissexual (2,9 milhões).

Os jovens de 18 a 29 anos apresentaram o maior percentual de pessoas que se declararam homossexuais ou bissexuais (4,8%). Essa faixa de idade também teve os maiores percentuais de pessoas que não souberam responder (2,1%) ou se recusaram a dar a informação (3,2%).

“O maior percentual de jovens que não souberam responder pode estar associado ao fato de essas pessoas ainda não terem consolidado o processo de definição da própria sexualidade. Resultados semelhantes foram obtidos em pesquisas realizadas em outros países, como o Reino Unido, por exemplo”, afirma a pesquisadora.

Metodologia criticada

Em março, o Ministério Público Federal acionou a Justiça para que o IBGE incluísse campos para identificação de “identidade de gênero” e “orientação sexual” nos questionários do Censo 2022 e em futuras pesquisas. 

A Procuradoria argumenta que o fato de não haver um ‘perfil social, geográfico, econômico e cultural’ da comunidade LGBTQIA+ no Brasil resulta em um ‘verdadeiro empecilho’ para a formulação de políticas públicas focadas nas necessidades de tal população.

O IBGE, no entanto, sustenta que o censo não é a pesquisa adequada para sondagem ou investigação de identidade de gênero e orientação sexual. 

De acordo com o professor e pesquisador na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) junto ao Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT+, Marco Aurélio Máximo Prado, a coleta desse tipo de dado junto a Pesquisa Nacional de Saúde pode criar distorções que prejudicam o entendimento sobre a questão.

“A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) não é o instrumento mais adequado para traçar perfil censitário da população, como já sabíamos. Esta resposta do IBGE foi realmente uma resposta fraca no sentido de que com a ação do MPF o IBGE tem que desenvolver uma metodologia censitária para tais questões. Nos países em que isso é feito é assim. A questão é por que o IBGE precisa de uma ação ajuizada do MPF para incluir questões censitárias que são óbvias. Afinal de contas, saber como a população se declara com relação a identidade de gênero e orientação sexual é fundamental não só para pensar políticas públicas mas também para tornar visível que é possível se autodeclarar, valorizar a autodeclaração e fortalecer um clima social de que é possível ser LGBT como qualquer outra identidade”, pontua.

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