A busca pela vacinação contra a dengue em farmácias e laboratórios privados iniciou o ano em alta em Minas Gerais. Famílias que ainda não estão contempladas para receber a vacina pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ou que residem em cidades sem previsão de campanha vacinal, estão investindo cerca de R$ 700 com as duas doses do imunizante Qdenga. Nas unidades dos laboratórios Hermes Pardini e Labclass, somente na Grande BH, a procura pela vacina aumentou 3.150% na primeira semana de janeiro em relação à última semana de dezembro. 

Os laboratórios afirmam que não podem informar números absolutos da venda da vacina produzida pela Takeda Pharma por se tratar de dados privados, mas garantem que a busca pela imunização continua em crescimento. Segundo os dados mais recentes, na segunda semana do ano, houve novo aumento de compras de doses da Qdenga, de 113,8%. 

Na Araújo, que já oferece a vacina desde julho do ano passado, a busca pelo imunizante quintuplicou (cresceu 5x) neste início de ano, também com relação à dezembro de 2023. O aumento acompanhou o número de testes positivos para a dengue. “Neste janeiro, a Drogaria Araújo já registrou 43% de casos reagentes e uma grande procura pela vacina, após o anúncio do governo reforçando a importância da vacinação contra a dengue”, informou a drogaria. 

Para a médica especialista em medicina laboratorial, referência na área de imunizações em Minas, Paula Távora, o fato da vacinação contra a dengue vir depois do sucesso da imunização contra a Covid-19 eleva a confiança nas doses da Qdenga. Segundo ela, isso explica a alta das buscas pela vacinação, inclusive nas farmácias e laboratórios privados.

“Durante a pandemia de Covid-19, vimos a importância da vacinação para controlar doenças infecciosas e transmissíveis, e pudemos acrescentar os mesmos resultados nos surtos de febre amarela e de influenza (gripe). Agora, temos essa grande oportunidade de controlar o aumento do número de casos de dengue em nosso estado”, avalia ela, que também é parceira da Araújo.

Alta de casos também influencia busca por vacinação

A especialista analisa que a alta de casos de dengue logo nas primeiras semanas do ano também provocou medo e, consequentemente, a corrida pela vacina. No último sábado (27 de janeiro), Minas Gerais decretou situação de emergência por causa da dengue. De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) mais recente, de segunda-feira (22 de janeiro), o Estado tem 11.490 casos de dengue confirmados. Para se ter ideia, no mesmo período do ano passado, eram 1.523 casos confirmados – houve um salto de 654%. Um óbito foi comprovado, e 14 estão em investigação.

Pelo SUS, a vacinação vai começar em fevereiro e imunizar, exclusivamente, crianças e adolescentes de 10 a 14 anos – faixa etária que concentra maior número de hospitalizações por dengue. Nesta primeira fase da campanha, 22 municípios de Minas Gerais (veja lista aqui) foram selecionados pelo Ministério da Saúde para receberem as duas doses da Qdenga.

Os locais compõem um total de 37 regiões de saúde que, segundo a pasta, são consideradas endêmicas para a doença. “É um imunizante seguro, que não apresenta eventos adversos importantes, de acordo com todos os estudos realizados até o momento”, reforça Paula Távora. 

Vacina da dengue na rede privada: saiba onde tomar, custo e restrições

  • Para que serve a vacina? 

A vacinação com doses da Qdenga imuniza contra os sorotipos 1, 2, 3 e 4 do vírus da dengue – são todos os sorotipos, até então, identificados no Brasil e que causam quadros clínicos parecidos. “Portanto, indivíduos residentes em áreas endêmicas podem, ao longo de suas vidas, serem infectados pelos quatros tipos de vírus”, explica o médico José Geraldo Ribeiro. 

  • Como ela funciona? 

Segundo o infectologista José Geraldo Ribeiro, que trabalha no Hermes Pardini, a vacina Qdenga é composta de versões “atenuadas” dos sorotipos do vírus causador da dengue. “Ou seja, nela estão vírus vivos enfraquecidos. Depois da aplicação, o sistema imunológico identifica esses sorotipos atenuados como estranhos e começa a produção de anticorpos contra eles. Quando a pessoa for exposta ao vírus, o sistema imunológico vai reconhecê-lo e pode produzir mais anticorpos para neutralizar o agente infeccioso antes que ele cause a dengue”, explicou. 

  • Qual a eficácia? 

Nos estudos clínicos antes da liberação para uso e aplicação da vacina, foi demonstrada a eficácia para os quatro sorotipos de 80,2%, até 36 meses (três anos) após a aplicação. 

  • São quantas doses? 

São duas doses da vacina Qdenga, aplicadas em um intervalo de três meses entre elas. 

  • Precisa ter pego dengue alguma vez para se vacinar?

Não. A Qdenga pode ser aplicada tanto em quem já pegou qualquer vírus da dengue quanto em quem nunca foi infectado. 

  • Quem pode se vacinar? 

A vacina, nos laboratórios privados, é recomendada para pessoas de 4 a 60 anos de idade, que já tenham ou não pego dengue. 

  • Quem não pode se vacinar? 

A vacina está contraindicada para gestantes, lactantes, pessoas que tiveram quadro de febre 48 horas antes da vacinação e para quem possui hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer excipiente da vacina. 

  • Quais são os possíveis efeitos adversos? 

Os mais comuns são reações no local da aplicação, como dor, vermelhidão, inchaço e, com menor frequência, dor de cabeça, no corpo e febre baixa.

  • Quanto custa? 

O preço da vacina Qdenga é tabelado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Uma dose do imunizante varia entre R$ 389,00 (Araújo) e R$ 414,20 (Hermes Pardini). Já as duas doses ficam em torno de R$ 700.