O êxodo de brasileiros para morar e trabalhar fora do Brasil, em meio à instabilidade política e econômica do país, tem atraído, inclusive, mão de obra qualificada para o exterior, mesmo que seja para trabalhar em cargos mais baixos ou em outras funções além da formação original.
Ao mesmo tempo que a imigração ilegal continua forte — só na fronteira dos EUA, foram 33 mil brasileiros ilegais flagrados no ano fiscal de 2022, desde o último outubro — o volume de validação de documentos para imigração aumentou 43% entre 2022 e 2021, segundo o braço mineiro do Colégio Notarial do Brasil (CNB/MG).
De olho no filão, o desenvolvedor Bruno Monteiro, natural de Belo Horizonte e, hoje, residente da Nova Zelândia com a família, após também morar e trabalhar nos EUA, criou o projeto “Vão Bora?”. Ele presta assessoria a brasileiros que desejam sair do país, especialmente para trabalhar, e dá algumas dicas sobre os primeiros passos para quem está iniciando o planejamento para emigrar do Brasil.
Quais são os países preferidos dos brasileiros que moram fora?
Cerca de 4,2 milhões de brasileiros moram fora do país, segundo o levantamento mais recente do Ministério das Relações Exteriores, divulgado em 2020. O número aumentou 55% em apenas cinco anos, já que, em 2015, eram 2,7 milhões de imigrantes. O país favorito para os brasileiros que emigram são os EUA, onde a comunidade passa de 1,7 milhões.
Confira a lista de países mais procurados para brasileiros que moram fora:
- Estados Unidos: 1.775.000 brasileiros
- Portugal: 276.200
- Paraguai: 240.000
- Reino Unido: 220.000
- Japão: 211.138
- Itália: 161.000
- Espanha: 156.439
- Alemanha: 144.120
- Canadá: 121.950
- França: 81.400
Qual é o primeiro passo para morar fora do Brasil?
O primeiro passo para morar fora do Brasil é decidir o país de destino, explica Bruno Monteiro, criador do site de dicas para imigrantes “Vão Bora?”. A decisão leva uma série de fatores em conta, da familiaridade com o idioma local à preferência entre clima quente ou frio, detalha.
“A escolha fará total diferença, porque, dependendo do país, as leis de imigração e as oportunidades são diferentes. O melhor é escolher mais de um país como opção, mas não tantos. Eu digo que de dois a três é o ideal, porque, se for só um e der errado, seus planos acabam. Mas não podem ser muitos porque esse processo demanda muita pesquisa, é preciso colocar muita energia inicialmente”, pontua.
O primeiro impulso — e, geralmente, o mais seguro — é escolher países onde já se conhece alguém, diz Monteiro. Mas, além disso, é necessário listar prioridades: você quer continuar a trabalhar na sua área, por exemplo? Então, o ideal é buscar países que tenham oportunidades nesse setor.
Outro ponto recomendado por Monteiro é buscar brasileiros com um perfil parecido com o seu no país de destino, para ter um parâmetro sobre as condições de vida no local. “Quanto mais semelhante for a situação de vocês, melhor. Se sou uma profissional de TI, casado e com dois filhos, querendo me mudar para Londres, o ideal é encontrar uma pessoa com esse perfil na cidade. Ela terá várias informações de mercado e de escola, por exemplo”, ressalta.
Como trabalhar fora do Brasil?
Cada país tem regras próprias para o trabalho de estrangeiros. Muitos dos brasileiros que imigram para países europeus e para os EUA, mesmo com formação superior, trabalham em cargos mais baixos ou até funções diferentes, já que pode ser difícil conseguir licença para operar no próprio setor e, sem referências locais, o mercado estrangeiro não conhece a experiência do profissional no Brasil.
Por outro lado, alguns profissionais, como da área de TI, são demandados constantemente por países estrangeiros. A dica de Bruno Monteiro, do “Vão bora?”, é procurar emprego já estando no país estrangeiro, a não ser para profissionais muito qualificados, para quem é mais fácil encontrar oportunidades a distância.
“Para a empresa, oferecer emprego antes de a pessoa estar no país é um grande risco, porque a questão da imigração não fica com a empresa, e, sim, com o governo, e pode ter alguns problemas, fora que talvez a pessoa não se adapte ao novo país”, pontua. Muitos países permitem a residência e facilitam a imigração quando o profissional já está contratado por uma empresa estrangeira, porém esse é o caminho mais raro, destaca Monteiro. Para algumas profissões, também é necessário ter licenças para atuar em outros países.
Ele diz que, mesmo para cargos com salários mais baixos, como em hotéis e restaurantes, é interessante fazer uma busca em sites de recrutamento e nas redes sociais do país estrangeiro antes de imigrar, para ter uma noção do volume de oportunidades e do perfil que o mercado internacional está buscando. Na Europa, a mão de obra estrangeira se concentra nesses setores — a taxa de emprego de estrangeiros no setor é 11,4% e a de cidadãos europeus, 3,8%, segundo a Comissão Europeia.
Para quem não está disposto a trabalhar dessa forma e pretende continuar em seu setor de formação, é ainda mais importante sondar o perfil de candidatos procurados. “Se quero trabalhar com marketing na Irlanda, pesquiso vagas e aparecem duas, então o mercado não está tão aquecido. Se aparecem 2.000, sei que a demanda é alta”, diz.
De quanto dinheiro preciso para morar fora do Brasil?
O ideal é ter dinheiro o bastante para se manter durante o tempo máximo que o visto de turista permite, aconselha Monteiro. “Na maioria das vezes, você não vai achar emprego na hora. O bom é sempre se planejar para o pior cenário possível. Então, se estou indo para um país que permite ficar por três meses como turista, o ideal é ter dinheiro para me manter por todo esse tempo. Ou, se estou indo estudar alemão na Alemanha por seis meses, por exemplo, ter dinheiro para esse período”.
Preciso de um advogado estrangeiro para fazer a imigração?
Não é obrigatório ter um advogado para concluir os trâmites de imigração, mas Monteiro defende que é uma escolha mais segura. “É muito fácil perder a oportunidade de imigração por um erro bobo, de preencher o formulário errado ou deixar de enviar algum documento, e nem sempre o governo do país será paciente com isso. Procurar uma pessoa da área é super recomendado”. Ele pontua que Portugal, por exemplo, que tem uma grande comunidade brasileira, reúne muitos profissionais da área já no próprio país.
Como morar nos EUA?
Em geral, os EUA permitem que o turista permaneça no país por seis meses, prazo que pode ser prorrogado por outros seis. Mas, nesse período, não é permitido que o turista trabalhe no país e, para conseguir o visto de trabalho, é necessário iniciar um novo processo. O visto de estudante vale pelo menos pelo tempo de duração do curso.
Outro tipo de residência de trabalho no país são os vistos do tipo EB1 e EB2, que fornecem o green card — autorização de residência permanente — para profissionais “acima da média” em sua categoria. O conceito, flexível, considera o destaque do trabalhador com base em premiações, por exemplo. Uma consultoria para a obtenção desse tipo de visto pode chegar a US$ 30 mil para uma família, segundo empresas do setor.
Outra possibilidade de moradia nos EUA é o visto com base em laços familiares, isto é, quando um familiar de quem deseja se mudar já vive no país e preenche um requerimento para a mudança.
A imigração ilegal, caminho escolhido por parte dos brasileiros que rumam para os EUA, é um cmainho longo até a regularização da situação do imigrante. A Lei de Dez Anos permite que, se o indocumentado for flagrado pelas autoridades norte-americanas depois de uma década de permanência no país, possa receber o green card depois de um julgamento, o que não é garantido.
O site da embaixada norte-americana no Brasil traz as informações completas sobre como imigrar para os EUA.
Como morar em Portugal?
Para morar em Portugal, mesmo temporariamente, é necessário ter um visto, concedido para várias categorias, como estudantes e empreendedores. Portugal permite que turistas, com autorização de permanência de até 90 dias, regularizem sua situação e solicitem o visto de residência após começarem a trabalhar — o que pode ser demorado. Até lá, o trabalhador estará irregular no país e não terá os mesmos direitos dos demais.
Portugal também tem um visto especial para aposentados — além de outros grupos pontuais —, o D7. Ele permite que pessoas com renda comprovada de aposentadoria morem no país.
O site do Ministério dos Negócios Estrangeiros português traz as informações completas sobre como imigrar para Portugal.
Como morar no Canadá?
O Canadá tem um sistema de pontos para a permissão da imigração de trabalhadores, o Express Entry. Um “convite para aplicação” é entregue aos candidatos que conseguem pontuar mais alto, obtendo uma proposta de emprego, por exemplo. Além do programa federal de imigração, províncias canadenses possuem seus próprios fluxos e é possível se candidatar para a mudança diretamente em uma delas.
É permitido passar de residente temporário legalizado para permanente já estando no país — inclusive, a permanência conta pontos no processo de imigração.
O site do governo canadense reúne, em inglês, as informações completas sobre imigrar para o Canadá.