Casada com um homem 11 anos mais jovem, a enfermeira Dalara Lima garante que a diferença de idade está longe de ser um obstáculo para a relação. “Falo por experiência própria. Eu tenho 51 anos; meu marido, 40. Estamos juntos há sete anos, e o fato de eu ser mais velha nunca foi motivo de incômodo para nós”, sinaliza. “Preconceito, eu nunca sofri. Pelo menos, não diretamente. No máximo, houve um desconforto da minha filha que, no início, achou estranho. Mas, depois de um tempo, ela viu que nada tinha de mais, que isso não era importante quando o coração fala mais alto”, pontua. O lusitano Carlos Pereira, 52, que namorou uma mulher 19 anos mais nova, também faz coro à ideia de que, se houver amor, a diferença etária pouco vai interessar. “Não vai ser um obstáculo porque, se as pessoas se gostam, tudo se resolve”, sugere, acrescentando nunca ter sofrido nenhum tipo de recriminação por se relacionar com pessoas mais de uma década mais jovens ou mais velhas que ele.
Já a bacharel em direito Roberta Silva, 36, reconhece que até já ouviu indiscretas piadinhas por ser 15 anos mais jovem que o marido dela. “Infelizmente, já escutei algumas falas preconceituosas, sugerindo, por exemplo, que estou com ele por causa de interesses financeiros. Também já ouvi coisas sobre como seria o sexo entre nós, se ele ‘daria conta’ e esse tipo de especulação”, lamenta, reforçando que, a exemplo de Dalara e Pereira, não acredita que a diferença de idades interfira negativamente nas dinâmicas a dois. Experiência parecida teve Reginaldo Pereira, 46, que namora um homem 20 anos mais jovem que ele. “Infelizmente, ainda há muito preconceito. E, por ser uma relação gay, esse preconceito vem dobrado”, queixa-se, ponderando que esses olhares tortos, embora incomodem, pouco afetam a relação entre eles.
A diversidade de relatos ouvidos pela reportagem revela uma realidade já percebida pela médica ginecologista-obstetra e sexóloga Isabela Aguiar. “Vejo uma grande variedade de casais com idades diferentes, afinal, a atração pode acontecer em qualquer idade e ser direcionada a pessoas de outras faixas etárias”, sinaliza, lembrando que a diferença entre os anos de nascimento das partes não constitui empecilho para que o relacionamento, exceto, obviamente, se houver um menor de 14 anos. Neste caso, qualquer ato libidinoso será considerado como estupro de vulnerável, crime previsto no artigo 217 do Código Penal, cuja pena é de reclusão de oito a 15 anos.
Sobre o preconceito, a especialista acredita que esse tipo de manifestação tende a ser cada vez menos recorrente. Tanto que a questão tem sido menos frequente nos consultórios, estando mais restrita ao âmbito familiar.
Atendendo principalmente o público feminino, Isabela destaca que a relação das mulheres cisgênero com homens mais jovens é, muitas vezes, positiva para elas, que passam a se cuidar mais – “principalmente em relação à saúde íntima, por terem o desejo de manter relações vaginais”, situa. No caso de homens cis que namoram mulheres mais velhas que eles, ela acredita que “esse vínculo tende a ser positivo, uma vez que a experiência de uma das partes pode tornar a dinâmica mais harmoniosa”, sugere. “Muito mais que a diferença de idade, interessa, na verdade, a conexão do casal”, crava, indicando que, eventualmente, obstáculos físicos podem ser observados – e driblados.
Ela salienta que disfunções sexuais podem ser tratadas e, além disso, lembra que a sexualidade pode ser prazerosa mesmo sem penetração, bastando desbravar outras regiões erógenas.
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Isabela Aguiar aponta que, pensando no público masculino, a dificuldade de ter ou manter a ereção pode ser relatada mais frequentemente entre aqueles que são mais velhos. Ela destaca que, na maioria das vezes, esse tipo de problema pode ser tratado, seja por meio de apoio psicológico, indicação de medicamentos ou, ainda, via reposição hormonal.
A sexóloga cita que, por trás desse tipo de queixa, podem existir comorbidades ou a andropausa – fenômeno caracterizado pela redução da produção de alguns hormônios, especialmente a testosterona, andrógeno que atua diretamente em diversas ações do corpo, tais como crescimento de pelos e aprofundamento da voz, podendo também interferir na qualidade da vida sexual masculina.
Contudo, como explicou o urologista Ricardo Pádua, preceptor da Santa Casa BH e do Hospital São Lucas em entrevista sobre como manter o vigor erótico após os 50 anos, condições preexistentes podem ser tratadas, amenizando possíveis impactos para a saúde sexual. Já a redução drástica na produção hormonal, provocada pela andropausa, só é verificada em um percentual pequeno de pacientes. E, mesmo nesse caso, é possível tratar o problema com a reposição da substância por meio de injeção, pomada ou pílula – tratamento que é mais complicado se a pessoa tem diagnóstico de apneia do sono, câncer de próstata, insuficiência cardíaca ou epilepsia.
Pádua é enfático ao lembrar que a principal causa por trás das queixas masculinas relacionadas ao sexo a partir dos 50 anos tem relação com os hábitos de vida ruins.
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Entre as mulheres com mais idade, há maior prevalência de questões como a atrofia da mucosa genital e ressecamento da região íntima, gerando dor em caso de penetração vaginal. “Temos inúmeras alternativas, como tratamentos a laser, que promovem rejuvenescimento funcional da mucosa, o uso de cremes hidratantes e lubrificantes, além da terapia de reposição hormonal”, informa.
Não por acaso, cresce a procura por procedimentos estéticos e funcionais na região íntima, como sinaliza a dermatologista Marília Machado. “A busca por esse tipo de tratamento aumentou como reflexo de uma nova realidade, em que a vida sexual da mulher está mais prolongada, se estendendo, inclusive, para depois do climatério – transição fisiológica do período reprodutivo para o não reprodutivo e que abrange a menopausa, que ocorre com a última menstruação”, explica.
Ela informa que, nessa fase, por conta da interrupção da produção de estrogênio (grupo de hormônios que agem no controle do ciclo menstrual e no desenvolvimento de características femininas), o canal vaginal tende a ficar mais ressecado. Nesses casos, podem ser indicadas terapias com uso de laser erbium fracionado, que provoca o estímulo, contração e remodelação do colágeno. “É uma alternativa para melhorar a hidratação da região e que reduz a flacidez do tecido”, comenta.
Vale lembrar que, assim como para eles, o desejo sexual feminino também pode ser minado por hábitos de vida ruins, como uma alimentação inadequada ou o sedentarismo. Pesquisadores da Universidade do Texas, por exemplo, concluíram que mulheres que pedalam por 20 minutos eram 169% mais animadas sexualmente do que aquelas que não se exercitavam.