Dedicação

A vida da grande dama da ioga

Aos 86 anos, Maria José Marinho continua dando aulas, cursos e palestras e atendendo

Ter, 09/10/18 - 03h00

Pode-se dizer que a angústia e a depressão foram a redenção da iogueterapeuta e mestre de reiki Maria José Marinho, que, aos 86 anos, continua com sua rotina de trabalho inalterada, começando a atender às 7h e terminando sem hora certa. É conhecida como “a grande dama da ioga” pela Yoga International Teachers Association, da Austrália.

Na década de 60, tinha um casamento feliz, três filhos, uma posição social e financeira confortável, mas sentia uma tristeza sem fim. “Em 1965, levada por minha irmã, fiz minha primeira aula de laya-ioga com o professor Caio Miranda que, após escutar minha história, aconselhou que eu mudasse minha vida. Disse que primeiro iria curar-me e que depois me transformaria em uma professora de ioga. Ele foi meu primeiro e grande mestre. Quando ele morreu, perdi meu ponto de referência”, relembra Maria José.

Anos mais tarde, já casada com Pierre Weil, psicólogo, educador e escritor francês, visitou a Índia pela primeira vez. “Viajar para esse país nos proporciona uma riqueza de experiências, mas, para saber percebê-las, é preciso estar de olhos, ouvidos e coração abertos”, conta Maria José. “Fiz 11 viagens para a Índia, três para o Tibete, quatro para o Nepal, além de Butão, Tailândia e Sri Lanka. Busquei o conhecimento, a sabedoria dos mestres iluminados, e o que recebi em troca foi muito além do que podia imaginar”, relembra.

A professora diz que não criou nada, apenas ensina para as pessoas o que aprendeu com os mestres. “Há 55 anos mantenho a mesma linha de trabalho, a ioga clássica. Já formei mais de 800 professores de ioga e atendi mais de 40 mil pessoas. O pouco que sei aplico em minha vida, e entendi que quanto menos desejo, menos sofro. Peço ao plano divino o que tenho por direito divino”, ensina.

Na memória, ela guarda os ensinamentos de grandes mestres orientais. “Às vezes parece que esses encontros foram coincidência, mas aprendi que elas não existem. Melhor seria dizer ‘Deusdência’”, comenta.

Ela esteve com Sai Baba, que mudou seu conhecimento sobre outras dimensões; sri swami Chidananda, considerado o são Francisco de Assis da Índia, Gopi krishnam, swami Pareshananda, swami Ritajananda e swami Nirmalatmananda, atual presidente da Ordem Ramakrishna no Brasil e seu atual mestre.

No mundo

Em Jaipur, ela aprendeu o ritual da kriya ioga e ensinamentos sufis muito antigos. “Em 1973, realizei o sonho de conhecer um mestre tibetano. Darjeeling foi um lugar que me marcou profundamente, pois foi onde fiquei durante 30 dias, em um monastério budista e tive a oportunidade de conhecer o rinpochê Kangyur, da linhagem dos chapéus vermelhos. Lá compreendi o que é vencer a mort”, comenta. “O rinpochê, com quase 1,90 m de altura e com mais de 90 anos, havia recebido por meio de sonhos a revelação do dia, mês e ano em que passaria para o outro plano”, conta Maria José.

Em Rishikesh, na Índia, ela subiu o Himalaia e conheceu o swami Nadabrahmananda, de quem tornou-se amiga. “Estávamos em meditação e, de repente, ele disse meu nome espiritual: Shanta Devi. Quando ele veio a Belo Horizonte, ficou por dois meses em minha casa. Ele foi um ser amável e simples, além de uma pessoa com a mente aberta. Um verdadeiro santo, um canal puro para o ensino de sua arte. Sua simples presença criava uma atmosfera de alegria e felicidade”, relembra.

Aquariana, com três filhos, cinco netos e três bisnetos, a professora mantém uma rotina de trabalho puxada, dividindo-se entre aplicações e cursos de formação em reiki, aulas de ioga com grupos específicos para crianças, gestantes, formação de instrutores de ioga, organização de eventos comemorativos e ainda é adida cultural honorária junto ao Consulado da Índia em Minas Gerais.

De onde vem tanta disposição? “Sou do interior de Minas adoro arroz, feijão, angu, quiabo e couve. Como com prazer, e isso me mantém muito bem. O pensamento tem força, vibração, energia, é poderoso. Por isso, repito diariamente que estou melhor que ontem”, revela.

Maria José ainda pratica ioga, o que lhe confere equilíbrio, força e qualidade de vida. “Leio muito. Minha memória é fantástica. Pratico duas leis: a do carma, que é pitagórica, matemática, exata. É a lei de ação e reação. E a do darma, lei precisa, que ensina a fazer tudo da melhor maneira que você puder”, diz. “Tenho paz interior, consciência e vivo de coração aberto. Ah, e gratidão. Sabe o que significa essa palavra? A graça que Deus e os anjos te dão”, finaliza.

Ioga

Prática. É uma das formas mais antigas de prevenção e cura. É o recolhimento das atividades da mente que leva ao bem-estar físico, à harmonia mental e ao desenvolvimento espiritual.

 

Uma missão para toda essa existência

Ela foi beber na fonte da sabedoria milenar e sagrada, mas transformou todo esse conhecimento em métodos diretos e cativantes de trabalho. Ao longo de sua jornada, a iogueterapeuta Maria José Marinho levou a ioga para dentro de grandes empresas e, durante 17 anos, empenhou-se no projeto pioneiro Liberdade Atrás das Grades, um trabalho voluntário, junto a sua equipe, ensinando ioga e reiki no Complexo Penitenciário Estevão Pinto. Além disso, participa do projeto de apoio ao idoso de baixa renda na Missão Ramakrishna.

Para o cônsul da Índia em Minas Gerais e Rio de Janeiro, Élson de Barros Gomes Júnior, “Maria José trouxe da Índia a ioga, a vedanta e a filosofia do ahinsa (não violência) e da ajuda humanitária para milhares de pessoas”.

Sabedoria

Deus criou o mundo, o bem, o mal e o livre arbítrio. Cada um escolhe o que quer ser e fazer;

O ser humano nasceu para evoluir, aprender, ser feliz e resgatar seus carmas;

Não tenho medo da morte nem da vida. Morremos toda noite. Viver e morrer não dói;

Não sou santa, apenas sigo as leis do universo;

Aprendi a perdoar as pessoas, não porque sou boa, mas para ter paz na alma e no coração;

Não sofro, não tenho medo, nem raiva, nem cansaço. Faço o que quero;

Ver além das aparências diminui o sofrimento;

Sempre ofereça seus méritos para todos os seres;

Só aquele que se deixa guiar pode liderar;

Cada um é livre até agir. A partir daí colherá as consequências de suas ações;

Quanto menos desejos, menos sofrimentos.

A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail: anabethdiniz@gmail.com

 

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