Na última semana, o ex-BBB Wagner Santiago precisou lidar com mais um episódio de vazamento de um vídeo íntimo. Dessa vez, em uma gravação que havia sido disponibilizada para assinantes na plataforma de mídia digital OnlyFans, o tatuador e criador de conteúdo aparecia recebendo da atual namorada o chamado “beijo grego” – como é popularmente conhecida a técnica de estimulação oral do ânus. É a segunda ocasião em que ele foi exposto nas redes sociais após a veiculação pública de material privado.
“O conteúdo foi divulgado durante a madrugada, e eu soube pela minha assessora sobre o que estava acontecendo: eu estava entre os assuntos mais comentados no Twitter, e o vídeo havia viralizado”, diz, citando que, desde então, ele e sua equipe iniciaram uma verdadeira saga para derrubar as publicações irregulares. “Informamos ao suporte do OnlyFans e, a partir daí, seguimos alguns procedimentos nos locais onde os vídeos foram divulgados, derrubando várias postagens, mas eram muitas e em várias plataformas diferentes. Isso é um trabalho que demora para ser finalizado”, reconhece.
Para além da dificuldade de derrubar o material distribuído irregularmente, Wagner se viu envolto a uma nova polêmica. Ocorre que, apesar de estarem em uma relação heterossexual, o fato de ele explorar o prazer anal foi suficiente para que, nas redes sociais, pessoas questionassem sua sexualidade. Uma reação que, na verdade, não causou nele qualquer espanto e ainda se tornou pretexto para um debate mais aberto sobre o assunto.
“Nosso corpo é uma máquina incrível e de infinitas possibilidades, a limitação do prazer e a ‘regra’ do sexo padrão é extremamente nociva. Estou buscando tratar desse assunto de uma maneira honesta e respeitosa. É nossa obrigação para que mais pessoas se permitam e se sintam à vontade em sentir prazer em plenitude”, avalia.
O produtor de conteúdo frisa que esse diálogo já vem surtindo efeito. “Tem sido muito satisfatório ouvir relatos de pessoas que, com suas parcerias, a partir da minha experiência, estão tomando a iniciativa de explorar mais seu corpo e tirar o prazer e a sexualidade da régua moral da sociedade, gozando a vida da maneira que escolhem sem tabus e moralismo”, estabelece.
Contudo, o retorno não é majoritariamente positivo. “Quero e estou dando muito mais atenção a essas pessoas do que aos comentários pejorativos que vêm de diversas formas e às vezes até em tom de ‘brincadeira’”, reconhece.
Beijo grego
Com toda a repercussão que o vazamento do vídeo trouxe sobre o tema, Wagner Santiago diz ter percebido que, sim, há muita gente que entende o sexo e a exploração erógena do corpo como algo natural e compreende que não há nada de errado em se permitir. Algo que a comunicóloga Ana Carolina Sanseverino Silva, que dirige a loja de acessórios sexuais Sob Sigilo, já vinha notando.
Em entrevista a O TEMPO, a empresária já contou ser crescente o interesse de clientes pela exploração do prazer anal, o que inclui o famigerado “beijo grego”. Na loja virtual, a empresária conta que comercializa itens capazes de ampliar a sensação de prazer na região e até produtos saborizados, que prometem facilitar a vida daqueles que ficam com algum “nojinho”.
Em sintonia com os relatos ouvidos pela reportagem, a sexóloga Lelah Monteiro indica que a estimulação oral do ânus pode, sim, ser muito prazerosa. Afinal, trata-se de uma área que possui muitas terminações nervosas e que, naturalmente, tem muita sensibilidade erógena. Mas, para isso, é fundamental que todos estejam à vontade – tanto quem beija quanto quem é beijado.
Lelah lembra que, ao contrário do que pressupõem os mais preconceituosos, a prática é, digamos, democrática, já que não está restrita a qualquer orientação sexual. Apesar disso, como aponta o psicólogo e terapeuta sexual Erick Paixão, o tabu está longe de ser superado.
“A homossexualidade, historicamente e culturalmente, está relacionada ao prazer do ânus. Logo, qualquer tipo de exploração na região anal vai ser associada a homossexualidade. Foi o que aconteceu no caso do Wagner”, reflete o terapeuta, asseverando que essa ideia está tão cristalizada que alguns homens, ao descobrirem o prazer na região, chegam a colocar a desconfiar da própria sexualidade. E há também mulheres que, mesmo se esse for um desejo dos parceiros delas, se negam a realizar o ato.
Mas, mesmo longe de ser um preconceito vencido, Erick diz acreditar que essas crenças vêm perdendo aderência. “Hoje, muitos homens heterossexuais gostam e pedem (o beijo grego) para as parceiras deles”, examina.
Cuidados. Lelah Monteiro adverte que, assim como no sexo anal penetrativo, é fundamental que a região seja higienizada com cuidado e corretamente, com água corrente e sabonete neutro ou íntimo, não sendo necessária a lavagem interna do intestino – que é contraindicada por especialistas.
Erick Paixão acrescenta que o sexo oral deve ser evitado em caso de fissuras no ânus ou na boca. Ele indica o uso do “preservativo feminino externo”, que reduz o risco de contágio por Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Dessa maneira, o órgão é estimulado sem que haja contato direto com a língua.
Íntimo e privado. Wagner Santiago sustenta que os vazamentos de conteúdos íntimos são consequência da carência de um debate mais aberto sobre temas como o consentimento, a autoexposição e a exposição do outro. Além disso, ele acredita que esse tipo de conduta acaba sendo estimulado por uma sensação de impunidade.
“Muitos se acham no direito de utilizar um conteúdo, que é privado, para fins comerciais ou simplesmente para distribuir gratuitamente sem o menor pudor”, avalia, inteirando que, ao contrário dessa lógica, “a internet não é uma terra sem lei e, hoje, é possível identificar e punir essas pessoas, mas isso envolve tempo”.