Uma lei estadual, publicada na última quinta-feira, passou a garantir que mulheres com alto risco de desenvolvimento de câncer de mama e de ovário poderão realizar gratuitamente exame para verificar possíveis mutações genéticas, que potencializam a chance de desenvolvimento dessas doenças. A publicação determina que o atendimento pode ser feito em unidades públicas ou conveniadas integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS). Laboratórios cobram entre R$ 1.600 e R$ 7.000 pelos exames.

Promulgada pelo governador Romeu Zema, a medida possibilita, à mulher em que for detectado genes relacionados ao câncer de mama, o acesso à ressonância magnética para rastreamento de nódulos e às cirurgias de mastectomia profilática e de plástica reconstrutiva. A retirada preventiva do órgão custa entre R$ 4.000 e R$ 8.000 na rede privada. Já o valor para a reconstrução mamária vai de R$ 5.000 a R$ 10.000.

Ao adotar uma postura preventiva, a incidência e a mortalidade nos casos hereditários desses dois tipos de câncer podem ser reduzidas em até 80%, estima André Márcio Murad, oncogeneticista e diretor Executivo da Clínica Personal Oncologia. “É uma lei muito importante, a gente estava aguardando por ela há um tempo”, diz.

Considerando que, em 2017, 1.625 mulheres morreram em decorrência do câncer de mama em Minas, conforme dados do DataSUS, e que fatores genéticos são responsáveis por até 10% desses tumores, é possível estimar que até 130 dessas mortes poderiam ter sido evitadas caso a medida estivesse em vigor.

Ainda está sendo preparado um regulamento com os critérios que definem quais mulheres se enquadram nesse grupo de alto risco, que teria direito ao atendimento. Na avaliação de Murad, aquelas que possuem, no histórico médico familiar, mais de um caso de parentes próximos que, com menos de 55 anos, receberam diagnóstico para essas doenças.

“Algumas dessas mutações podem aumentar o risco de desenvolvimento do câncer em quase 90%. Ao realizar o rastreamento, a mulher pode decidir pela retirar do órgão antes do surgimento de um tumor”, avalia Murad.

O oncologista pondera que a medida seria mais efetiva se oferecesse cirurgia para a retirada preventiva de ovário – “a remoção desse órgão reduz em até 70% as chances para o câncer de mama”. Além disso, essa política preventiva poderia avançar mais ao oferecer também exames para identificação de tumores ocasionados por mutações genéticas no pâncreas e na próstata.

Números

No Brasil, são estimados 59,7 mil casos novos de câncer de mama feminina, em 2019; já para os casos de câncer de útero, a estimativa é de 6.150 novos casos. As informações são do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Do total de casos de câncer de mama, entre 5% e 10% têm origem genética. Dos tumores no ovário, de 10% a 15% são causados por mutações de genes.