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Cartilha de pediatras orienta sobre transtornos de gênero

Crianças que não aceitam o sexo de nascimento devem ter acompanhamento multidisciplinar

Qui, 21/09/17 - 03h00
Direito. Guia foi criado para dar suporte às crianças e jovens e garantir o seu atendimento | Foto: Pixabay

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) desenvolveu um manual com os critérios diagnósticos para ajudar os pediatras nos casos de crianças e adolescentes com disforia de gênero – condição marcada pelo transtorno gerado pela desconformidade entre o sexo biológico e a identidade de gênero. Recentemente o assunto ganhou visibilidade por estar sendo abordado na novela “A Força do Querer” em que uma das personagens “não se identifica como mulher” ao longo da adolescência.

Em geral, crianças com sinais do transtorno podem expressar a certeza de serem do sexo oposto ou forte desconforto com suas características sexuais, preferindo roupas, brinquedos, jogos e atividades culturalmente ligadas ao outro sexo, explica o presidente do Departamento Científico de Endocrinologia da SBP, Crésio Alves.

Segundo o médico, é impossível prever se uma criança com esses sinais de desconformidade continuará com esse problema na adolescência e na vida adulta. “Muitas vezes, eles adotam comportamento quando criança, até os 5 anos, mas a grande maioria – quase 90% – eventualmente volta a aceitar o sexo designado no nascimento e não vai ter disforia”, diz.

O médico esclarece ainda a diferença do transtorno para a homossexualidade. “O homossexual é o indivíduo que se sente atraído por alguém do mesmo sexo. Na disforia de gênero, a pessoa não se sente em conformidade com o sexo do nascimento. O homossexual masculino não quer virar menina, por exemplo. E, na disforia a pessoa se sente infeliz com corpo e deseja mudar”, explica.

Esse comportamento, muitas vezes revestido de inúmeros preconceitos, quase invariavelmente afeta e interfere negativamente na vida das crianças e adolescentes, dificultando o diagnóstico. Por isso, o texto científico foi produzido para assegurar o correto atendimento e visando garantir a acolhida dos pacientes na rede de saúde.

“O diagnóstico deve ser feito apenas em instituições universitárias que disponham de serviços com equipes multidisciplinares com atenção voltada para esse público. Não deve ser feito isoladamente por um médico”, afirma.

A cartilha da SBP elenca os critérios que devem ser observados pelos pediatras e recomenda que os casos sejam avaliados em conjunto por equipes multidisciplinares (com psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, assistentes sociais, entre outros) para decidir sobre as estratégias adotadas durante o tratamento.

O médico assegura que o guia nada tem a ver com a “cura gay”. “No passado, as terapias eram todas designadas a fazer com que a criança voltasse a assumir o sexo que lhe foi atribuído. Mas, depois viu-se que essa é uma atitude preconceituosa por parte da ciência e agressiva para com os pacientes”.

Em geral, após o diagnóstico, o tratamento se baseia em psicoterapia para a criança e os familiares. Também há possibilidade de uso de hormônios e intervenção cirúrgica – esta, somente após a maioridade do paciente. “Esse acompanhamento não é para poder influenciar, mas dar tempo ao tempo, para que a pessoa decida com segurança o que de fato ela quiser decidir”, afirma.

Estratégias

Suspensão da puberdade para o jovem ganhar tempo para avaliar sua identidade sexual.

Caso a disforia persista até os 16 anos, a puberdade do gênero desejado pode passar a ser induzida.

Nos dois casos, é exigido o consentimento dos pais.

Fonte: Parecer de 2013 do Conselho Federal de Medicina

 

Estereótipo já é definido aos 10 anos, alerta estudo

Miami, EUA. Os estereótipos de gênero já estão definidos firmemente entre os jovens de hoje aos 10 anos de idade, segundo um estudo global divulgado neste quarta-feira (20) que alerta que essas crenças podem aumentar o risco de depressão, suicídio, violência e HIV.

A pesquisa, que abrangeu 15 países, sugeriu que grandes quantidades de dinheiro são desperdiçadas em programas de prevenção de estereótipos para adolescentes, já que os esforços deveriam começar muito antes.

“Os riscos para a saúde dos adolescentes estão condicionados por comportamentos arraigados em papéis de gênero que podem estar bem estabelecidos nas crianças quando elas têm 10 ou 11 anos de idade”, disse Kristin Mmari, autora principal da pesquisa, realizada pelo “Global Early Adolescent Study”, uma parceria entre a Organização Mundial da Saúde e a Universidade Johns Hopkins.

O estudo entrevistou 450 pré-adolescentes em Bolívia, Bélgica, Burkina Faso, China, Equador, Egito, Índia, Quênia, Malawi, Nigéria, Escócia, África do Sul, Estados Unidos e Vietnã.

Os pesquisadores concluíram que os estereótipos de gênero que enfatizam a passividade das mulheres podem fomentar o abuso.

Esses estereótipos “deixam as meninas em maior risco de abandonar a escola ou sofrer violência física e sexual, casamento infantil, gravidez precoce e HIV”, aponta o estudo. Os meninos, por outro lado, são encorajados a passar tempo fora de casa, sem supervisão, para explorar o mundo.

Quando se trata de relacionamentos, os meninos são consistentemente vistos como os únicos autorizados a dar o primeiro passo, exceto em uma cidade: Edimburgo, na Escócia. Enquanto isso, as meninas de todo o mundo são ensinadas que seus corpos são seu principal ativo.

Vestimentas

Diferenças. Embora haja uma aceitação crescente das meninas que querem se vestir ou agir como meninos, existe uma “tolerância quase nula para os meninos” que rejeitam os papéis de gênero típicos.

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