São Paulo. Cientistas de uma universidade holandesa conseguiram identificar uma centena de regiões do DNA que ajudam a definir a variada paleta de cores dos cabelos humanos. Os genes observados pelo estudo ainda não explicam totalmente as origens biológicas da cor dos cabelos, mas alguns já poderiam ser usados para produzir “retratos falados genômicos”. A pesquisa foi publicada nesta segunda-feira (16) na revista científica “Nature”.
Com base nos novos dados de DNA, os pesquisadores conseguem saber se uma pessoa terá cabeleira negra ou ruiva com um grau de precisão entre 85% e 90%, por exemplo. Até então, com base no conhecimento prévio dos cientistas, esse grau de precisão ficaria entre 74% e 79% (loiros) ou entre 64% e 76% (castanhos).
“Isso parece ter ligação com o fato de que algumas pessoas que são loiras na infância ficam com o cabelo castanho conforme crescem”, disse um dos coordenadores do estudo, Manfred Kayser, professor de biologia molecular do Centro Médico da Universidade Erasmus, na Holanda.
“Com base no DNA, conseguimos prever corretamente que algumas dessas pessoas de fato terão cabelo castanho quando adultas, mas outras, a partir dos dados genéticos, em tese deveriam ser loiras, embora também tenham cabelo castanho. Ainda precisamos entender as bases biológicas desse processo”, disse.
Seleção. Kayser e seus colegas analisaram informações sobre o DNA de quase 300 mil pessoas, vindas de dois grandes bancos de dados europeus, que assinalaram qual era a cor do cabelo. Com isso, os pesquisadores conseguiram “caçar” correlações entre as características capilares visíveis delas, além de uma ampla gama de variações genéticas, os chamados “SNPs”.
Os SNPs, em inglês, da expressão “Polimorfismos de Nucleotídeo Único”, correspondem a trocas de uma única letra química do DNA – cada genoma humano é formado por cerca de 3 bilhões de pares dessas letras. Muitas dessas trocas são inócuas, sem impacto algum sobre as moléculas do organismo, mas algumas acabam alterando a forma e a função dessas moléculas. No fim das contas, isso leva a alterações nas características de cada indivíduo.
Foi por meio da associação entre a cor do cabelo declarada pelos doadores de DNA e os SNPs que os pesquisadores chegaram à lista de genes – no total, 124, dos quais 13 já eram conhecidos. “A maioria dos genes nos surpreendeu, já que o conhecimento prévio não nos permitia supor que eles tivessem algo a ver com a variação da cor de cabelo em humanos”, finaliza Kayser.
População europeia tem maior variação
São Paulo. Os pesquisadores explicam que foi proposital a escolha por trabalhar com o DNA de pessoas de origem europeia. Segundo os estudiosos, em grupos nativos de outras regiões do planeta, a variabilidade no que diz respeito às cores de cabelos é praticamente inexistente.
“A exceção são os cabelos loiros de certos ilhéus do Pacífico, que está ligada aos mesmos genes que contribuem para que certos europeus sejam loiros, mas deriva de uma mutação genética diferente e independente”, diz Manfred Kayser, um dos coordenadores do estudo.
Como os seres humanos atuais descendem majoritariamente de populações africanas que tinham cabelo e pele mais escuros, tais características são chamadas “condição ancestral”. Os tons mais claros são “derivados” e apareceram mais tarde. “Mas, no que diz respeito à cor de pele, também há bastante variação genética em outros continentes”, lembra o pesquisador.
Flash
Em mãos. Qualquer pessoa pode fazer um mapeamento genético para verificar sua possibilidade de desenvolver doenças, ou mesmo detectar possíveis problemas hereditários