A folia ainda não acabou, a terça-feira Carnaval continua reunindo milhares de pessoas pelas ruas de todo o país. Mas amanhã, para os cristãos, é Quarta-Feira de Cinzas, quando tem início a Quaresma, período de 40 dias que antecede a principal festa do cristianismo: a Páscoa, que marca a ressurreição de Jesus Cristo. A celebração acontece desde o século IV. 

Esotérico foi procurar saber como os luteranos, aqueles que pertencem à Igreja Luterana, fundada por Martim Lutero (1483-1546), celebram essa data. “Antes de mais nada, vale lembrar que a Igreja Luterana surge no seio da igreja hegemônica com o assim denominado ‘Movimento da Reforma Protestante’, em torno dos anos 1500. O termo ‘protestante’, contudo, está em desuso atualmente. Isso porque a Igreja Católica e a Igreja de Confissão Luterana, junto a outras igrejas cristãs, abraçaram o ecumenismo”, explica Mara Parlow, teóloga ecofeminista, com doutorado em teologia (área de concentração: religião e educação), pastora junto à Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Belo Horizonte, vinculada à Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil. 

Ela explica que existem distinções nas celebrações entre a Igreja Católica e a Luterana. “Na Santa Ceia/Eucaristia, enquanto a Igreja Católica vivencia a transubstanciação (a hóstia, após consagrada por meio do serviço sacerdotal, se torna o todo e o próprio corpo de Cristo); a Igreja Luterana celebra a consubstanciação (o elemento invisível da fé junto aos elementos visíveis da hóstia e do sumo da videira se tornam presença real de Cristo na comunhão da comunidade em torno da mesa da ceia)”. 

O segundo aspecto que difere as duas igrejas é a ordenação. “A Igreja de Confissão Luterana reconhece e equipara quatro ministérios para a ordenação: pastoral, catequético, missionário e diaconal. Além disso, diferentemente da Igreja Católica, há a ordenação de mulheres ao ministério sacerdotal na igreja”, observa a pastora. 

Para os luteranos, a Quaresma “é o período de 40 dias que antecede a Páscoa e que se constitui de profunda preparação, comprometida contrição e vivência do discipulado no seguimento da cruz”. “Assim, a Páscoa é o conjunto de eventos soteriológicos (referentes à salvação) centrais da fé cristã, englobando a crucificação e a ressurreição de Cristo Jesus”, explica Mara. 

A palavra ‘quaresma’ deriva da palavra ‘quarenta’, cuja origem está em ‘quadragesima’, no latim. “O número 40 participa da simbologia bíblica judaico-cristã em vários episódios. O período se relaciona aos 40 dias em que Jesus jejuou no deserto. Tem um sentido simbólico profundo e contundente, pois leva à revelação maior do Salvador, ou seja, a Páscoa do Senhor”, discorre a pastora. 

 “A Quaresma, em seu decisivo simbolismo de espera pelo evento salvífico central, que é a Páscoa, pressupõe preparação e contrição. Mas não no sentido de uma pauta moral do ‘pode isso, não pode aquilo’. A Quaresma é, isso, sim, um tempo bonito e profundo de reflexão sobre os processos de vida-morte-vida, ou seja, sobre as ressurreições necessárias em nossa vida e na vida do mundo”, comenta a pastora. 

A Páscoa na Igreja de Confissão Luterana compõe-se pelo tríduo pascal: Quinta-Feira do Lava-Pés, Sexta-Feira da Crucificação, Vigília e Domingo da Ressurreição. “É um tempo de busca e preparo para renascimentos, na condição de dependência do amor maior de Deus, revelado decisivamente na cruz. Esse não lugar de poder que, subcontrário, é o lugar da revelação de que, para Deus, nem a morte é definitiva”, ressalta Mara. 

E finaliza: “O jejum nesse período deve ser “uma ação voltada ao favorecimento de uma dinâmica espiritual de entrega e de profundidade, e não à purificação para recebimento de dádivas e de salvação”. 

Relembrar o caminho de Cristo

Para o pastor Emilio Voigt, coordenador do portal e aplicativo da Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil, a Quaresma se caracteriza “pelo jejum ou abstinência de certos alimentos, bebidas, pela prática da penitência e boas obras. Nos primeiros tempos do cristianismo, os dias mais comuns do jejum eram a Sexta-Feira Santa e o Sábado Santo. E mais tarde estendeu-se por 40 dias, referência ao tempo que Jesus passou no deserto jejuando”. 

O religioso ressalta que nessa época é importante relembrar o caminho de Jesus Cristo e seu sofrimento. “Muitas pessoas abrem mão de coisas que gostam e acham importantes e se questionam sobre como está sua atuação no mundo diário como pessoa cristã. Essas ações ajudam a dar sentido à Quaresma”. (AED) 

Livro do profeta Isaías 

“Porventura não é esse o jejum que escolhi: que quebrem as correntes da injustiça, desfaçam as ataduras da servidão, deixem livres os oprimidos e acabem com todo tipo de escravidão? Que vocês repartam seu pão com os famintos e acolham em casa os pobres e desabrigados e vistam os que encontrem nus e não voltem as costas aos seus semelhantes?”

Capítulo 58, versículos 6 e 7 

Confira os lançamentos

“Um Mergulho na Existência”, Graziela Gasparovic, Hanoi Editora, 232 páginas, R$ 65,90. 

Por meio de questionamentos sobre propósitos e a maneira como cada um se relaciona com o universo, a autora aborda uma série de temas que permeiam a mente humana, como a necessidade exacerbada de aceitação, uma forma de atenuar o sentimento de rejeição. 

“A Magia dos Florais”, Glória Britho, editora Mantra, 144 páginas, R$ 59,90. 

O livro traz 38 receitas e rituais para restabelecer a harmonia e ajudar a tratar sobretudo doenças psicossomáticas. A autora descreve cada planta e a associação com diferentes estados de ânimo. 

“Cura Energética”, Oliver Nino, editora Mantra, 160 páginas, R$ 54,90. 

O autor convida os leitores a descobrir dons e propósitos de vida por meio de uma jornada de 15 dias. A ideia é limpar, desbloquear e proteger a energia em cinco passos essenciais, que devem ser divididos em três dias.