Desde a infância, Andrew Newberg queria entender a realidade: “Impressionava-me o fato de todos verem a mesma realidade, mas haver pessoas com religiões e crenças políticas diferentes”.
Já adulto, encontrou um jeito de sondar os cérebros humanos e, com a ajuda da ressonância magnética, pesquisa os mistérios da manifestação religiosa no cérebro.
Newberg é um dos pioneiros da neuroteologia, ciência que estuda como o cérebro experimenta Deus, evidenciando o poder da mente sobre o corpo, e explica por que a fé pode curar as pessoas ou, pelo menos, ajudar a medicina.
“Esse é um campo que conecta a neurociência aos fenômenos religiosos e espirituais. Não pretende ser um estudo científico da religião ou uma análise religiosa da ciência. Ao contrário, é um campo integrativo que procura otimizar tanto a ciência quanto o espiritual de maneira a nos ajudar a compreender melhor a nós mesmos como seres humanos”, ensina o pesquisador.
Além disso, diz ele, o termo “neuro” precisa ser amplamente definido para incluir neurociência, psicologia, consciência e saúde. E o termo “teologia” deve ser definido amplamente para incluir a própria teologia, mas também estudos religiosos, práticas espirituais, rituais, experiências, crenças e outros fenômenos religiosos.
Em seu estudo ele escaneou o cérebro de mais de 300 pessoas durante vários tipos de práticas, fez uma pesquisa online sobre suas experiências espirituais e recebeu dados sobre mais de 2.000 pessoas de todo o mundo (cerca de 15% estavam fora dos EUA) e de todas as denominações religiosas, incluindo ateus e agnósticos.
“Não estudei especificamente ateus, mas acompanhei pessoas que praticam meditação ou oração por muitos anos e as comparei com pessoas que não o fazem. Os praticantes de longo prazo tendem a ter lobos frontais maiores e com maior atividade. Essa área está envolvida na concentração, na atenção e, portanto, faz sentido que a meditação ou a oração repetidas funcionem quase como um ‘exercício’ para o cérebro, de modo que ele se torne mais espesso e mais ativo (como um músculo faria)”, explica Newberg.
Diferenças. Durante sua pesquisa, o cientista detectou mudanças em uma estrutura chamada “tálamo”. “Ela regula os impulsos nervosos em todo o cérebro e também traz informações sensoriais dos olhos e dos ouvidos para o cérebro. No geral, alguns sugeriram que o tálamo pode ser a sede da consciência. Portanto, faz sentido que meditar ou orar tenha impacto nas partes do cérebro envolvidas em nossa consciência e em nosso senso de realidade”, diz o médico.
Pergunto se é possível registrar alguma diferença entre o cérebro de um ateu e o de uma pessoa religiosa. “Isso não foi claramente determinado. Alguns estudos sugerem que as pessoas religiosas têm diferentes níveis de dopamina no cérebro, o que lhes permite olhar para o mundo de forma mais criativa”, responde o cientista.
Os estudos de Newberg revelam que a religião pode até não curar, mas faz bem para a saúde. “As evidências sugerem que as práticas de meditação e oração podem reduzir a depressão e a ansiedade e melhorar o sistema imunológico. Pessoas religiosas têm melhor saúde mental e física. Foi detectada redução nas taxas de mortalidade e de vários distúrbios”, comenta.
Estados espirituais são vistos em exame
A ciência atual pode ser usada para ajudar a avaliar como as crenças e práticas religiosas e espirituais afetam o cérebro e se elas podem ajudar a curar as pessoas de diferentes maneiras.
“Os lobos parietais ajudam-nos a estabelecer nosso senso de identidade. Os lobos frontais ajudam o indivíduo a focar em uma oração ou um objeto particular de meditação, mas as diminuições no lobo frontal podem estar associadas a estados espirituais profundos ou estados de iluminação, ensina o neurocientista Andrew Newberg.
Ele diz que a diminuição da atividade do lobo frontal pode refletir a sensação de rendição que as pessoas frequentemente descrevem. “O sistema límbico é nosso centro emocional e está provavelmente envolvido nas intensas emoções de amor ou alegria descritas em vários estados espirituais. O sistema límbico também pode ajudar a pessoa a perceber o poder e a intensidade da experiência”, finaliza o cientista.
A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail: anabethdiniz@gmail.com