A noite de sono de crianças e adolescentes com trissomia 21, popularmente conhecida como síndrome de Down, pode ser muito conturbada. Episódios que incluem apneia do sono, bruxismo e sonambulismo atingem entre 55% e 93% desse grupo. Para se ter uma ideia, em crianças e adolescentes sem a síndrome, o número cai drasticamente e fica entre 1% e 4%. Os dados são de uma pesquisa feita na Universidade de Massachussets, nos Estados Unidos.
No Brasil, estimativas levantadas pelo Movimento Down apontam que 300 mil brasileiros são trissomídios 21. E é por aqui que uma pesquisa promete ajudar a mapear os distúrbios do sono dessas crianças e adolescentes para oferecer alternativas de tratamento. O objetivo é elaborar um guia com os resultados, que seja oferecido de graça às famílias e aos profissionais das áreas de saúde, educação e direito, além de prefeituras de todo o país.
Para isso, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) uniram-se em parceria com a Universidade de Mississippi State, nos EUA, o Instituto de Educação e Pesquisa em Saúde e Inclusão Social (Iepsis), a Associação Ivone e Pedro Lanza (Ipeldown) e a Faculdade Sete Lagoas (Facset), ambos em Sete Lagoas, na região metropolitana de Belo Horizonte, para iniciar um experimento com 500 pessoas que apresentam a síndrome – são 60 da cidade mineira e 440 de São Paulo.
Um dispositivo actígrafo – um pequeno sensor – é usado para monitorar os ciclos de repouso e da atividade humana. Por sete dias seguidos, os participantes utilizam uma unidade no pulso e outra na cintura. “Todos os movimentos captados pelos aparelhos são registrados a cada minuto. Posteriormente, são transferidos para um computador”, explica o educador físico Fábio Bertapelli, pesquisador da Unicamp e um dos autores do estudo.
Coleta. Por meio de um software, os pesquisadores avaliam os gráficos e determinam quais são os períodos de maior movimentação durante o dia e, principalmente, à noite. É nessa hora que os indivíduos trissomídios 21 mais sofrem. “Eles se mexem muito e, por diversas vezes, chegam a dormir sentados na cama. Por causa disso, eles costumar ter problemas médicos significativos, como a dificuldade de desenvolver habilidades cognitivas”, diz Bertapelli.
Segundo ele, todo o procedimento deve levar dois meses. A previsão é que o guia seja disponibilizado no primeiro semestre de 2019.
Má respiração afeta distúrbios
De acordo com o pediatra Zan Mustacchi, presidente do Departamento Científico de Genética da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), os distúrbios do sono ocorrem, na maior parte das vezes, por problemas respiratórios.
“Eles aparecem quando a via aérea é restringida ou bloqueada por um recurso físico durante o sono. Indivíduos com esse problema podem parar e retomar a respiração durante o sono, tendo o suprimento de oxigênio reduzido, resultante desse processo”, diz o médico.
Flash
Feito. De acordo com
Catia Andrade, presidente da Ipeldown, os resultados serão totalmente benéficos. “Vamos oferecer as dinâmicas que incluem essas pessoas no convívio escolar, de trabalho e familiar, quebrando paradigmas para que a diversidade seja respeitada como uma condição inerente à sociedade”, afirma.