Alerta

FaceApp: app que 'envelhece' usuário entrega seus dados para anunciantes

FaceApp tem política de privacidade frouxa, diz cientista da computação; a mais nova onda da internet já alcançou 1º lugar na lista de apps mais baixados

Por Da Redação
Publicado em 16 de julho de 2019 | 06:00
 
 
Angélica publicou o look envelhecido com o FaceApp Foto: Reprodução Instagram

Quem passeou pelas redes sociais  desde o fim de semana certamente teve a impressão de ter feito uma viagem no tempo: muita gente, afinal, tem publicado fotos simulando como se pareceriam daqui a uns 60 anos.

A brincadeira tem feito tanto sucesso que o FaceApp, ferramenta responsável por essa “mágica”, alcançou o primeiro lugar na lista geral de aplicações mais baixadas no Google Play e na App Store.

O que a maioria das pessoas não imagina é que, por trás das imagens com rosto enrugado e cabelos embranquecidos, há uma política de privacidade e uso de dados que abre brecha até para venda dos seus dados a empresas.

“É a mesma receita de sempre: usar uma brincadeira aparentemente inofensiva para coletar dados massificadamente”, alerta o cientista da computação e desenvolvedor de softwares Izaquiel Lopes.

Danilo Pereira, 28, reconhece ter ficado curioso quando viu amigos compartilhando fotos que pareciam ter vindo direto do futuro. Daí, decidiu aderir à moda da vez.

O operador de televendas conta ter ficado impactado com o “realismo” do aplicativo, que parece mesmo acertar qual será sua aparência décadas mais tarde. “Eu fiquei parecido com meu pai, meu irmão ficou igual a nosso avô... Minha mãe ficou impressionada!”, relata. 

A tosadeira Talita Luciana, 28, também se rendeu quando a troca de fotos manipuladas virou o principal assunto em um grupo de amigos no WhatsApp.

“Mesmo quando a gente dá zoom não dá para perceber distorções, não parece falso”, comenta, lembrando que o aplicativo não é novo, e já havia tido um primeiro boom de acessos em 2017. “Mas a qualidade aumentou muito com a nova atualização”, diz ela. 

Tanto Pereira quanto Talita reconhecem que, na hora da brincadeira, acabaram não pensando muito sobre questões relativas à privacidade. “É assim que a gente cai em golpes...”, reflete ela. 

Política frouxa

"Geralmente, as empresas tentam garantir a exclusão de dados dos usuários, caso assim solicitem, e não é muito comum que haja o compartilhamento desses dados com empresas parceiras, a não ser com governos a partir de ordens judiciais”, diz Lopes, expondo que ocorre o oposto no FaceApp.

“Do ponto de vista da segurança de dados, é uma política frouxa. Ao ler, a impressão que fica é que a empresa está disposta a vender as informações para quem quiser pagar”, critica ele. O cientista alerta que as informações pessoais podem ser usadas não só para aprimorar os mecanismos de anúncio de produtos, como também para a disseminação de notícias falsas.

Nas mãos de terceiros

Mais que fotos. A Política de Privacidade do FaceApp, que pertence à empresa russa Wireless Lab, diz que o app pode se apossar não só das fotos cedidas, mas de informações como o IP da máquina usada.

Cliques. Podem ser capturados até mesmo o “número de cliques e como você interage com links no serviço”, as páginas de destino e as que foram visualizadas.

E-mail. Também podem ser coletadas informações de e-mails enviados para os usuários do app, para rastrear quais são abertos e quais links são clicados. 

Partilha de dados. O FaceApp comunica, ainda, que pode compartilhar informações de usuários tanto com empresas do grupo quanto com aquelas que venham a se tornar parte do grupo.

Venda. Os dados podem ser compartilhados também com “parceiros de publicidade” e até mesmo “estar entre os itens vendidos ou transferidos”.

Termos de uso. Além disso, o conteúdo do usuário pode ser armazenado mesmo se a sua conta for apagada.