Danos ambientais

Garimpos jogam uma ‘Samarco’ a cada 12 anos no rio Tapajós

Cálculo foi feito a partir da coleta de sedimentos

Por Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
Rio Tapajós, que tem sido destino de sedimentos do garimpo de ouro no Pará Foto: Weverton Cordeiro/Commons

Manaus. Os garimpos ilegais despejam no rio Tapajós, a cada 12 anos, o equivalente ao volume da barragem da Samarco que se rompeu, aponta laudo da Polícia Federal (PF). Nesta quinta-feira (27), foi deflagrada uma operação contra o comércio ilegal de ouro no Pará e em São Paulo. De acordo com a PF, são lançados por ano 7 milhões de toneladas de sedimentos no rio Tapajós, um dos maiores da Amazônia. No acidente de Mariana, na região Central de Minas Gerais, em 2015, o rio Doce recebeu 84 milhões de toneladas de rejeito.

O cálculo foi feito a partir da coleta de sedimentos na foz de afluentes do Tapajós na região de Itaituba, no Sudoeste do Pará. É a maior área de garimpo ilegal de ouro do país. Entre os rios mais devastados estão o Rato, o Crepori e o Jamanxim.

“Além do assoreamento dos rios, com consequente prejuízo para fauna, flora e também para a navegação, há o prejuízo ao turismo e balneabilidade das praias, que perdem o atrativo da água translúcida, e o carreamento de poluentes, como mercúrio e cianeto, detectados em quase todos os afluentes que sofrem com a mineração”, afirma o perito da PF Gustavo Geiser, responsável pelo relatório.

O volume é tão grande que altera a cor do Tapajós por centenas de quilômetros. Ainda que de forma mínima, esses sedimentos chegam até a região turística de Alter do Chão, na foz do Tapajós, aponta o laudo da PF.

Boom no garimpo. Área tradicional de garimpo, a bacia do Tapajós vive um novo boom nos últimos anos, após a introdução das PCs (escavadeiras), equipamentos que custam em torno de R$ 600 mil e provocam uma destruição várias vezes maior do que os métodos mais antigos.

Na avaliação da PF, a bacia do Tapajós sofre um cenário de descontrole, com mais de 90% dos garimpos agindo na ilegalidade e produzindo a custo baixo, pois não seguem legislação ambiental. Essa produção é vendida sem deságio a compradores autorizados, que não se preocupam com a origem ilícita.

“O ouro retirado ilegalmente é comprado pelas empresas usando declarações falsas e emissão de notas fiscais para dar aparência de que o ouro tem origem legal”, afirmou Ricardo Rodrigues, chefe da delegacia da PF em Santarém.

Operação bloqueia R$ 187 milhões

Manaus. Para combater a lavagem de ouro clandestina no Tapajós, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) realizaram a operação Levigação, que resultou no bloqueio judicial de R$ 187 milhões de bens dos investigados. Um deles é o empresário Dirceu Frederico Sobrinho, proprietário da D’Gold e candidato a suplente de senador.

Na quinta-feira, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em três escritórios da D’Gold em Itaituba e São Paulo. O delegado Gecivaldo Vasconcelos preside o inquérito. Os crimes investigados são usurpação de bens da União, funcionamento ilegal de instituição financeira e lavagem de ativos. Somadas, as penas podem chegar a 19 anos de prisão. A D’Gold negou, via assessoria de imprensa, qualquer irregularidade. Afirmou também que Frederico Sobrinho é o presidente da Associação Nacional do Ouro (Anoro), por meio da qual combate o contrabando do metal.

Ianomâmi. A Polícia Federal (PF) iniciou nesta quinta-feira uma operação de repressão ao garimpo ilegal na Terra Indígena Ianomâmi (Roraima). A operação Tori (“carrapato”, traduzido da língua indígena) está focada na logística de abastecimento da mineração ilegal, como empresas de aviação e comércio de máquinas. Em agosto, o Exército implantou bases de vigilância para barrar o acesso por barco pelos dois principais rios da região.