É cientificamente comprovado: os efeitos da prática da ioga no corpo e na mente vão muito além da simples sensação de bem-estar. Entre os possíveis benefícios comprovados por pesquisas acadêmicas, incorporar a ioga à rotina pode reduzir o estresse, diminuir a ansiedade, aliviar inflamações, melhorar a saúde cardíaca, aumentar a qualidade de vida, ter efeitos antidepressivos, reduzir dores crônicas, melhorar a qualidade do sono, a flexibilidade, o equilíbrio e a respiração, aliviar enxaquecas, além de promover a melhora dos hábitos alimentares e da força.
O que pode parecer abstrato em um relatório científico é sentido na pele por praticantes da ioga em Belo Horizonte, que recebe pela terceira vez o curso Premananda Yoga School, voltado para iniciantes até quem queira obter formação profissional, a partir de maio. “A ioga é uma filosofia de vida composta de uma série de ferramentas que buscam trazer mais consciência para todos os âmbitos da vida do adepto”, explica Renata Mozzini, diretora da escola e uma das professoras do curso.
“A parte que lida com o corpo melhora a saúde física, aumenta a flexibilidade, fortalece os músculos, trata problemas de postura, dores crônicas. Mas também traz equilíbrio emocional, os exercícios respiratórios ajudam a ativar partes do cérebro ligadas à cognição, ajuda a evitar picos de estresse, ansiedade”, enumera. “Só promovendo a hiperoxigenação do cérebro, ativa neurotransmissores que auxiliam no tratamento da depressão. Por isso, as pessoas saem das aulas se sentindo bem e, às vezes, nem sabem por quê. São coisas muito básicas que têm um efeito muito poderoso”, acrescenta.
Não é à toa, portanto, que a ioga é uma das 29 práticas integrativas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Quando é realizada com frequência, a ioga auxilia no tratamento e previne diversas doenças. As pessoas conseguem lidar melhor com seus problemas, põem o corpo para funcionar melhor. No fim das contas, ofertá-la no SUS, seja na modalidade que for, é uma forma de reduzir a quantidade de atendimentos e até mesmo gastar menos”, avalia Renata.
Casos pontuais. Instrutora de ioga no espaço Sentir Mulher e em seu próprio estúdio (que leva seu nome), Camila Barcelos acompanhou de perto casos bastante específicos de promoção da saúde por meio da ioga. Um deles se deu com uma pessoa que, por ter contraído meningite, acabou perdendo a memória recente. A situação acabou levando-o a um quadro de depressão que só melhorou quando ele encontrou a ioga.
“Antes da doença, ele era uma pessoa muito dinâmica, fazia atividade física e, quando adoeceu, estava muito frustrado, tanto do ponto de vista físico quanto do mental. As aulas o ajudaram a voltar a se sentir vivo e ele também recuperou o corpo atlético que tinha antes. Passou a conviver bem com a limitação depois que aprendeu a lidar com sua condição”, conta Camila.
Outro caso relatado por ela foi o acompanhamento de alguém que vivia uma situação de prisão domiciliar. “Foi a própria pessoa quem buscou, me relatando que nunca havia pensado em praticar. Porém, quando ainda estava no presídio, teve acesso a uma leitura sobre o poder do agora e resolveu tentar”, lembra.
De acordo com a instrutora, a melhora na qualidade de vida da pessoa foi significativa. “O que ouvi dela foi que se sentiu muito melhor para lidar com tamanha transformação que aconteceu em sua vida. Porque, numa situação de tanta mudança e estando à margem da sociedade, é fundamental conseguir conviver melhor consigo mesmo. Ela não só conseguiu lidar melhor com a síndrome do pânico que acabou desenvolvendo, como teve uma série de insights sobre a própria vida”, afirma.
Faça o curso
Para todos. A Premananda Yoga School oferece seu curso de formação de maio a novembro, com um retiro em dezembro e encontros um fim de semana por mês – sextas, das 20h às 22h, e sábados e domingos, das 8h30 às 18h30 – na Amadoria (r. Mucuri, 325, Floresta). Para alunos de nível iniciante a avançado. R$ 6.900 à vista ou 10x R$ 750.
Crianças também se beneficiam
A psicóloga e psicanalista Marina Otoni não trabalha diretamente com a ioga em sua vivência clínica. No entanto, ela, que é especialista em parentalidade atípica, diversidade e inclusão, notou entre as famílias que atende os benefícios da ioga para crianças com necessidades especiais.
“Atendo pais de meninos com diagnósticos como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), síndrome de down e autismo, e notei entre alguns deles a busca pela ioga como um dos âmbitos do acompanhamento da criança, que é multidisciplinar e envolve outros profissionais, como terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo, por exemplo”, conta.
Para crianças com TDAH, a ioga ajuda a trabalhar a concentração. “Já ouvi da família de uma menina com déficit de atenção, que geralmente é acompanhado de hiperatividade, que depois que ela começou a praticar a técnica se tornou mais calma e concentrada”, diz.
De outra família, que tem um menino com autismo, Marina ouviu o relato de que ele melhorou sua capacidade de lidar com a frustração. “Essa é uma dificuldade para todas as crianças, mas sobretudo para as com autismo, porque muitas vezes elas não têm o recurso da fala para ajudá-las no processo. A ioga pode ajudar ao torná-las menos reativas, ajudando a enfrentar melhor o sentimento negativo”, observa.
Mesmo uma criança sem diagnóstico claro atendida pela psicóloga teve melhora na qualidade de vida. “O que eu vejo é que estamos em uma sociedade adoecida, então é sempre benéfico procurar formas de promoção da saúde mental que não passem só pelas terapias tradicionais. Seja para adultos ou crianças, com necessidades específicas ou não”, diz.
De praticante a promotora deste estilo de vida
A empresária Maria Tereza Bittar Nolli passava por um momento complicado na vida, nos últimos anos – perdeu o pai, em 2014, e a mãe, em 2015 –, quando, em 2017, sua professora de pilates anunciou que abriria uma turma de ioga. Até então, ela nunca havia se interessado pela prática, mas decidiu experimentar, numa tentativa de enfrentar a fase complicada.
Os resultados foram praticamente imediatos. “Comecei e, simplesmente, me apaixonei. Porque a ioga não é só uma prática, é um estilo de vida e nos ensina muito. Eu sou uma pessoa muito acelerada, ansiosa, agitada, e a ioga me traz calma. Por mais que não dure o dia inteiro, no momento em que me dedico a ela, consigo centrar, focar os meus pensamentos, respirar. Descobri, inclusive, que não respirava direito, só superficialmente”, conta.
No ano passado, Maria Tereza resolveu abrir um negócio. A ideia era trabalhar com plantas, trazer o verde para a vida das pessoas. Naturalmente, escolheu como sede um espaço que trouxesse essa ligação com a natureza e viu ali uma oportunidade de levar a ioga também para a vida dos frequentadores. “Minha professora já dava algumas aulas voluntariamente, então perguntei se ela topava se juntar a mim e, desde março, que foi quando abrimos, o último sábado do mês tem uma aula aberta lá”, afirma.
A primeira edição foi um sucesso tão grande que as 15 pessoas que foram acabaram formando uma turma fixa durante a semana. “É um legado da ioga na minha vida também querer dividir isso com outras pessoas, não olhar só para o meu próprio umbigo, mas enxergar o outro, o ambiente. O mundo precisa disso. E o benefício da ioga é algo que precisamos compartilhar”, conclui.
Meditação aberta
Mensal: O espaço Verde-si, de Maria Tereza Bittar Nolli, abre seu jardim todo último sábado do mês para uma aula de meditação aberta ao público.
Onde: R. Modesto Carvalho de Araújo, 405B, Belvedere
Horário: Das 9h30 às 11h30. Contribuição espontânea.
Informação: Não é preciso inscrição prévia. Mais informações no Instagram @verdesi_plantas