Como filósofa, ela é brilhante, tem uma memória invejável e nos humaniza ao nos aproximar do pensamento de grandes nomes da filosofia mundial e de todos os tempos de forma saborosa e instigante. Mas quem é Lúcia Helena Galvão?
“Eu me considero uma pessoa simples, com qualidades e defeitos, lutando pelo próprio aperfeiçoamento, às vezes ganhando essa luta e, em outras ocasiões, sendo derrotada”, diz a professora de filosofia na Organização Internacional Nova Acrópole há 33 anos.
E emenda: “Mas tenho um grande ânimo de aperfeiçoamento, ou seja, não desistirei nunca, e a filosofia tem sido um precioso apoio. E, além disso, sou dotada de uma grande curiosidade em relação ao conhecimento, uma vontade incansável de entender melhor os muitos mistérios da vida: essa sou eu”.
Lúcia Helena está lançando “Instantes de um Tempo Interior”, um livro com 166 poemas escritas ao longo de 20 anos e que revelam sua busca interior, seus questionamentos existenciais. “Meus poemas me acompanharam quase como um diário, onde as reflexões mais importantes, a visão de mundo que eu estava descobrindo, minhas dificuldades e a maneira de que lancei mão para superá-las foram tomando forma da maneira mais bela que alcancei registrar, sempre com a vaga esperança de que talvez pudessem ser úteis a alguém mais, em sua trajetória. Costumo dizer que aquele que conhece bem os meus poemas deve me conhecer melhor que meu vizinho de porta”, comenta.
O livro captura momentos de vida interior e os coloca sob o foco de uma lente filosófica. “Aquela alegria ou aquela melancolia que vêm ao nosso encontro quando percebemos que a vida é mais complexa do que nos parecia a princípio é um excelente ponto de partida para buscarmos embalar nossas constatações com beleza e musicalidade, introduzindo-a em um mundo onde as palavras já não se esgotam nem se esvaem, mas passam a pertencer à humanidade, que pode lançar mão delas como incentivo para suas próprias reflexões”, observa a professora.
Escrever poemas é também um modo de filosofar? “Acredito que sim. Pode ser visto como uma nova forma de embalar as mesmas reflexões filosóficas. Mas, pelo fato de que um poema quase sempre traz musicalidade e beleza, ele é capaz de fazer com que essas reflexões mergulhem e sejam retidas no coração humano com maior facilidade do que uma simples prosa. Por isso pode-se dizer que o poema retira uma expressão do tempo e a traz para uma dimensão paralela, onde o tempo quase se detém”, diz Lúcia Helena.
Para ela, o grande sentido da vida é crescer para ser digno dela. “Recebemos uma vida humana; há que adquirir as virtudes que caracterizam um verdadeiro ser humano para merecermos essa forma e podermos aportar com o que a natureza espera de nós. É importante que nossa presença no mundo faça crescer, um pouco que seja, ao mundo, ao outro e a nós mesmos. Assim, tornamo-nos fator de soma”.
Ela acredita que nosso maior compromisso na terra deveria ser o aprimoramento da consciência. “Dentro de nós existe uma essência, que é a nossa verdadeira identidade. A nossa consciência deve aproveitar o máximo de experiências da vida para se elevar cada vez mais, até o ponto de descobrir e unir-se a essa essência. Essa é a máxima realização humana”.
A jornalista Ana Elizabeth Diniz escreve neste espaço às terças-feiras. E-mail: anabethdiniz@gmail.com
Sabedoria nas rimas
Seja rodeada de alegria ou melancolia, a professora Lúcia Helena Galvão procura capturar, por meio de lentes filosóficas, a complexidade de viver. Ela acerta nas rimas e métricas com a precisão cirúrgica de alguém que tem intimidade desconcertante com a vida e obras de grandes filósofos.
Com uma linguagem acessível, a professora propõe a elevação de consciência e compartilha com o leitor poemas reflexivos, que mesclam experiências vividas por ela, filosofia, espiritualidade, mitologia grega e romana.
“As buscas espirituais da humanidade narram a passagem de sábios perfeitos. Eu acredito que falam a verdade. Alegra-me saber que alguém cumpriu sua missão, que a trilha possui termo e que alguém o atingiu, fazendo-se, então, à imagem do Pai”, discorre Lúcia Helena no poema “Quixotes”. (AED)
Trajetória.
Filosofia. Ela é multi. Além de professora de filosofia, já escreveu roteiro para o teatro e seus poemas já foram convertidos em letras de músicas interpretadas por Zizi Possi, Flávia Wenceslau e pelo conjunto Música do Interior.
“Instantes de um Tempo Interior”, Lúcia Helena Galvão, editora Literare Books International, 272 páginas, R$ 69,90
“A Mensagem Reencontrada”, livro-oráculo sapiencial de 1946, é relançado
Um livro que pode ser aberto ao acaso, com mais de 5.000 aforismos ou pensamentos contendo a sabedoria única de todos os tempos, em uma linguagem atual e que responde às perguntas que lhe são feitas. Uma “bibliomancia” (magia realizada por meio de livros), uma obra ecumênica que se harmoniza com as grandes tradições universais.
Estas podem ser as definições do livro “A Mensagem Reencontrada: Ou o Relógio da Noite e do Dia de Deus”, escrito pelo alquimista e pintor francês Louis Cattiaux (1904-1953), editado agora numa nova edição brasileira, revisada e atualizada, com cuidadoso projeto gráfico e editorial e uma pintura do próprio Cattiaux na capa.
Quem fala sobre a importância dessa obra é Pere Sánchez Ferré, estudioso e especialista na obra de Cattiaux. “Este é um livro espiritual voltado para pessoas de espírito livre, homens e mulheres que buscam uma relação íntima com Deus, além das religiões, e nunca contra elas. A mensagem é universalista, pois contempla todas as escolas iniciáticas de sabedoria cujas mensagens convergem. Está na raiz de onde nascem todas as religiões e iniciações”.
O subtítulo do livro é “o Relógio da Noite e do Dia de Deus”. “O relógio se refere ao tempo divino de nossa regeneração. A noite vem antes do dia porque, na verdadeira experiência iniciática, tudo começa à noite. O ser carnal e o ser interior entram em uma escuridão misteriosa, que é o começo da experiência verdadeira. A morte iniciática nos levará à vida nova. No final nasce o sol invictus em nós, quando perceberemos com toda clareza essa regeneração que Deus faz em nós. Este é um livro para os buscadores de Deus, para aqueles que buscam o espírito que vivifica a letra”.
“A Mensagem Reencontrada: Ou o Relógio da Noite e do Dia de Deus”, Louis Cattiaux, Edições Barca do Sol/Attar Editorial, 506 páginas, R$ 80.