Quando Anitta mostrou o novo visual, mais do que provocar frisson nas redes sociais, causou um espanto geral, com os fãs impressionados com a transformação da cantora pop após a realização de procedimentos estéticos. Para muitos, a artista ficou irreconhecível, gerando a brincadeira de que até precisaria de um novo CPF.
A mudança – que incluiu lifting facial que levanta olhos e sobrancelhas, cirurgia no lábio superior, enxerto de gordura, afinamento do rosto, entre outros procedimentos – também alimenta discussões sobre a relação entre repaginadas como esta e a liberdade estética ou uma pressão da sociedade por padronização de beleza.
Na maior parte dos casos, as intervenções estéticas acontecem por uma insatisfação pessoal com o próprio corpo. O psicólogo Cláudio Paixão, professor do curso de ciência da informação da UFMG, levanta uma questão: até onde se trata de uma insatisfação com o próprio corpo ou desse corpo na confrontação com um padrão?
“Porque há tendências no mundo inteiro de gente procurando o look de uma celebridade, como a boca da Angelina Jolie, o contorno do rosto da Juliette ou o furadinho no queixo de sei lá quem. Embora exista um discurso de autenticidade e liberdade individual, de uma forma paradoxal a gente convive, na realidade, com um pressão para atender a certos padrões que não são nada naturais”, registra Paixão.
Ele destaca um estudo britânico recente com 137 jovens adultos que adoravam celebridades, “em que se passou a acompanhar estatisticamente o quanto essas pessoas se submetiam a cirurgias estéticas a partir desse processo de identificação”. Quanto mais os indivíduos se identificavam com os ídolos, maior era a tendência de fazer cirurgias estéticas.
As próprias redes sociais são uma extensão dessa busca de padronização, de acordo com o psicólogo. “Eu, como usuário recente de aplicativo de namoro, observava alguns perfis em que todas as fotos eram submetidas a filtros – e não era filtro básico, mas aquele que deixa o rosto da pessoa bidimensional, como se não reconhecessem que o rosto dela está muito modificado”.
Paixão assinala que, de maneira quase automática, prevalece a tendência de uma época. “Essas ondas que acometem a população acabam tirando um pouco dessa autenticidade. Então as pessoas querem ser diferentes, mas não querem ser muito diferentes. Elas querem ser diferentes dentro de um padrão. Querem um pequeno grau de diferenciação, mas nada que assuste as pessoas”, avalia.
“Na psicologia social, costumamos falar em ‘comparação social ascendente’, em que estamos sempre olhando para uma figura idealizada. Pode ser um influenciador, uma celebridade com quem estamos tentando diminuir a distância por meio de mudanças na aparência”, pontua.
Por isso, afirma, o livre-arbítrio será relativo, com as decisões sendo tomadas a partir de alternativas que são apresentadas – o que ele chama de “repertório”. “Esse repertório me oferece uma paleta de cores com as quais vou pintar o meu quadro”, compara. “Está muito longe de ser uma liberdade plena e muito menos uma liberdade neutra”.
O especialista salienta que, quando uma mudança na aparência se alinha com a identidade e o estilo de vida da pessoa, ela tende a ser saudável psicologicamente. Ele observa que o desejo de mudanças se dá principalmente após fatos motivadores, como uma morte, uma separação ou um novo emprego. “Eu me recrio. E isso é saudável, não havendo problema em pegar elementos do ambiente”, esclarece.
Para o psicólogo, o grande problema é quando todo mundo realiza um movimento de “manada”, seguindo na mesma direção. “Eu vou mudar para refletir simplesmente uma mudança na minha vida, mas não para refletir uma identidade que eu criei, uma perspectiva nova sobre mim mesmo”.
Neste sentido, diz, uma cirurgia estética não é necessariamente algo vil, podendo ser “uma ferramenta de reconstrução simbólica, de autoestima, envolvendo uma questão de autoconhecimento, de maturidade e de ética por parte do profissional”. O risco está em “adotar compulsivamente as modificações sucessivas por terem a ver com a demanda do mercado”.
Principais procedimentos feitos pela cantora:
Plasma Rico em Plaquetas (PRP): uso do próprio sangue para rejuvenescimento da pele
Rinoplastia: afinamento e definição do nariz
Preenchimento labial: aumento do volume e definição dos lábios
Preenchimento facial: projeção das maçãs do rosto e definição da mandíbula, criando um contorno facial mais anguloso
Bichectomia: remoção de gordura das bochechas
Lifting de sobrancelhas: para arquear e levantar o olhar
Botox: para suavizar linhas de expressão no rosto
Lentes de contato dentais: para melhorar a estética do sorriso
Remoção de veia na testa: procedimento a laser para remover a aparência de uma veia saliente na testa