Para cientistas e pesquisadores não é novidade que a dopamina tem uma relação clara com doenças como Parkinson, esquizofrenia, abuso de drogas, transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, depressão e transtorno obsessivo compulsivo. Mas uma nova técnica mostra que é possível não só medir a liberação desse importante neurotransmissor com maior eficácia, como ainda prever e impedir as crises.

A professora Donita Robinson, da Universidade do Norte da Carolina (EUA), estuda o papel da dopamina nos casos de alcoolismo usando a voltametria cíclica – técnica ainda pouco conhecida no Brasil. “Nós sabemos que muitas doenças estão relacionadas com a dopamina. No caso da doença de Parkinson, por exemplo, se você tem pouca dopamina, prejudica o sistema motor, pois a dopamina está relacionada aos movimentos, pensamentos e motivações”, explicou Donita, no 9º Congresso Mundial de Pesquisas sobre o Cérebro, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

No Brasil, o biólogo e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Cláudio da Cunha conta que investiga a interferência da chamada “molécula da motivação” na aprendizagem e memória.

Além das situações patológicas, Cunha diz que a dopamina também é importante em “situações normais”. “Quando a gente aprende a formar hábitos, como o de escovar os dentes, de chegar em casa e acender a luz – coisas que fazemos no automático –, eles também envolvem a dopamina”.

“Animais conseguem aprender que, quando a luz acende, surge recompensa. Nós sabemos que, quando a luz é acesa, e o animal já está esperando, é porque houve a liberação de dopamina. Quando não tem a dopamina, ele fica quieto”, exemplifica Cunha.

Método. Com a voltametria cíclica é possível “medir quanto de dopamina está sendo liberada de uma forma muito rápida quando alguma coisa acontece”. “Até então, os métodos permitiam medir variações em uma escala de minutos a horas. Essa nova técnica, que utiliza sensores colocados dentro do cérebro, permite medir coisas que acontecem em escalas de décimos de segundos”, diz o professor.

Cunha explica que a única condição permitida para a aplicação do método é durante uma cirurgia, quando então se implanta um eletrodo capaz de trazer uma melhora clínica. “Em pacientes com doença de Parkinson e queda de dopamina que têm um eletrodo dentro do cérebro é possível compensar essa falta, gerando um estímulo constante, conhecido por estimulação cerebral profunda”, diz o biólogo.

No mundo

Estudos. Atualmente, menos de dez laboratórios no mundo usam a técnica da voltametria cíclica. “É possível analisar até 20 mil amostras de concentração de dopamina”, diz Cláudio da Cunha.

“Nas técnicas atuais, o paciente volta ao médico para ajustar os sinais que são liberados constantemente. Na voltametria, o aparelho identifica os níveis e, quando detecta uma crise, interfere”

Cláudio da Cunha - Professor da Universidade Federal do Paraná